"Terrorismo de sushi": como (mais) um desafio de redes sociais está a indignar o Japão

5 fev 2023, 13:10
Sushi (Getty)

Vídeos em que jovens lambem utensílios em restaurantes de sushi estão a ser chamados de "terrorismo" e já envolveram as autoridades japonesas

Lamber uma garrafa de molho de soja, tocar em pedaços de sushi que passam no tapete rolante do restaurante. Bastou que alguns vídeos do novo desafio das redes sociais surgissem online para que o Japão, país conhecido por baixas taxas de criminalidade e elevados padrões de higiene, condenasse o fenómeno que está a ser chamado de "terrorismo de sushi".

Um dos vídeos mostra um adolescente a lamber utensílios partilhados pelos clientes do estabelecimento, enquanto se ri para a câmara. Noutro, um rapaz acrescenta wasabi - um tempero em pasta de sabor bastante intenso e picante - a uma peça de sushi destinada a outra pessoa. Os incidentes parecem ter sido filmados de forma intencional por diferentes grupos de amigos, sobretudo jovens e do sexo masculino, que depois os partilhavam em plataformas como o TikTok e o Twitter.

A origem dos vídeos é incerta, visto que aqueles em circulação nas redes sociais parecem ser republicações do conteúdo original, mas a identidade dos perpetradores é fácil de identificar: todos aparecem de rosto descoberto nas imagens. Um dos adolescentes regressou mesmo ao restaurante de Gifu onde tinha sido filmado a lamber chávenas e garrafas de molho de soja, acompanhado pelos pais, mas os proprietários desvalorizaram o pedido de desculpas e decidiram apresentar queixa às autoridades.

Acontece que as repercussões não se limitaram a comentários depreciativos na Internet, em que vários utilizadores admitiram sentir-se "enojados" e prometeram nunca mais regressar a restaurantes que distribuíssem alimentos com tapetes rolantes. De acordo com o The Guardian, as ações da Sushiro, a empresa-mãe do restaurante em questão, caíram cerca de 5% na terça-feira - poucos dias depois de o vídeo ter sido publicado no Twitter e obtido centenas de milhares de reações.

As outras cadeias de sushi identificadas nos restantes vídeos, a Hama-sushi e a Kura Sushi, também já anunciaram que vão tomar medidas legais contra o "terrorismo" higiénico e alimentar praticado pelos jovens e instalar câmaras de vigilância na zona dos tapetes. Numa ação mais imediata, foram estabelecidas estratégias para limitar o acesso dos clientes aos utensílios partilhados. Os clientes devem agora levantar os seus próprios utensílios e condimentos numa mesa destinada a esse efeito, onde poderão também requisitar a sua desinfeção.

Os vídeos podem parecer incidentes isolados e longe de constituir ações "terroristas", mas revestem-se de maior gravidade quando inseridos na cultura japonesa, em que a higiene, a educação e a hospitalidade são valores essenciais. Existe até um conceito geralmente definido como "hospitalidade japonesa", mas que abrange todo um modo de vida: omotenashi.

Apesar de inevitáveis respostas negativas, a polidez japonesa refletiu-se numa onda de apoio e solidariedade nas redes sociais para com as cadeias afetadas pelos vídeos. "Sinto-me tão grato que até tenho vontade de chorar", escreveu Kohei Nii, o presidente da Sushiro, numa nota de agradecimento para os milhões de seguidores no Twitter.

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