Casos de covid-19 triplicam na China e colocam mais de 17,5 milhões de habitantes em confinamento

14 mar 2022, 06:30
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Duas das maiores cidades da China impuseram restrições rigorosas aos movimentos dos habitantes, enquanto um surto de covid-19 continua a propagar-se por grande parte do território continental

A China continental registou 1.807 novos casos sintomáticos de covid-19 transmitidos localmente, o valor mais alto em dois anos de pandemia e mais do que o triplo do número de casos do dia anterior. Os dados foram divulgados este domingo pela Comissão Nacional de Saúde, citada pela Reuters. Atualmente há casos em 21 das 30 províncias chinesas e o valor total foi o maior em dois anos de pandemia, noticia também o New York Times. Mas embora a contagem de casos da China seja muito inferior à de muitos outros países, o número de infeções acelerou rapidamente e pode complicar a estratégia de conter os contágios o mais rápido possível.

Ora, a China é o único país que continua a seguir a estratégia de "covid zero", o mesmo combate radical ao vírus que se viu no início da pandemia, em Wuhan. Isto significa que o país, com cerca de 1,4 mil milhões de habitantes, opta por medidas rápidas e drásticas para impedir a transmissão do vírus. 

O país só considera infeções sintomáticas e, neste caso, foram precisos 60 casos confirmados de covid-19 para o governo de Shenzhen colocar mais de 17,5 milhões de habitantes em confinamento durante os próximos sete dias. A cidade, na fronteira com Hong Kong, é o centro do setor da tecnologia na China e sede de grandes indústrias de fabrico de componentes eletrónicos, como a Huawei. Segundo o governo local, todos os trabalhadores não essenciais devem ficar em casa, os adultos devem fazer três testes PCR nos próximos dias e os transportes públicos como autocarros e metro estão parados. Já supermercados, mercados, farmácias, serviços médicos e serviços de entrega poderão permanecer abertos.

Um confinamento geral em Shenzhen poderá atrapalhar ainda mais as cadeias de abastecimento globais, explica o New York Times. Isto porque a cidade tem um dos maiores portos do mundo. A título de exemplo, um surto no final da primavera do ano passado em Shenzhen interrompeu as operações portuárias e causou um acentuado aumento nos custos globais de transporte, que provocaram também um aumento dos preços de mercadorias importadas no resto do mundo.

Já na cidade de Xangai, a mais populosa da China, com 24 milhões de habitantes, o número de casos subiu de 15 para 432. Ao contrário de Shenzhen, não foi imposta uma quarentena geral, mas as autoridades pediram às pessoas para só saírem à rua em caso de necessidade, fecharam escolas, empresas, e restaurantes e centros comerciais, e restringiram o acesso à cidade suspendendo os serviços e autocarros.

A maioria dos casos diários foi registada na província de Jilin, no nordeste do país, com 1.412 novas infeções. Este aumento "mostrou que algumas áreas locais, que enfrentam um rápido aumento da epidemia, não tinham capacidade para expandir os recursos médicos, resultando numa admissão limitada de infeções em instalações centralizadas dentro de um curto período de tempo", disse um funcionário da província, em conferência de imprensa. As autoridades de Changchun, a capital da província já fechada, estão a realizar testes em massa e a trabalhar para transformar um centro de exposições num hospital de campanha com 1.500 camas.

Hong Kong em situação difícil

A região administrativa especial não só registou um grande aumento de infeções, como tem uma das maiores taxas de mortalidade por covid-19 do mundo, com uma média de mortes superior a 200 por dia. Os números deixaram uma série de serviços sem capacidade de resposta, noticia o Público, que adianta que, na sexta-feira, as autoridades enfrentaram muitas queixas por haver cadáveres de pessoas nas enfermarias do hospital junto a pessoas que estavam a ser tratadas – tudo porque o limite de 3000 corpos das morgues da cidade fora ultrapassado. Segundo o South China Morning Post, um dos principais problemas tem sido os surtos em lares de idosos. Desde o início desta quinta vaga, houve surtos em 745 lares com 26.300 infeções. 

A situação em Hong Kong levou o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, a demonstrar publicamente, há cerca de um mês, desagrado com a acuação do governo de Carrie Lam, especulando-se se o futuro da responsável poderia estar em risco.

Nos últimos dias, as bolsas de valores chinesas sofreram perdas significativas devido a receios sobre o impacto económico da guerra na Ucrânia e de surtos causados no país pela variante Ómicron. Esta segunda-feira, o índice de referência da Bolsa de Valores de Hong Kong, o Hang Seng, abriu a cair abaixo da barreira psicológica dos 20.000 pontos, pela primeira vez desde meados de 2016. Três horas depois da abertura, o Hang Seng perdia 3,72%, para 19,789,93 pontos.

 

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