Supertaça: Sporting-FC Porto, 3-4, a.p. (crónica)

André Cruz , Estádio Municipal de Aveiro, Aveiro
3 ago, 23:04

Nova cara, o mesmo ADN

O FC Porto mudou de rosto a vários níveis, mas manteve a sua essência. E foi graças a ela que entrou a ganhar na época 2024/25, diante do Sporting, na Supertaça (a 24.ª do palmarés). Um triunfo por 4-3 suadíssimo, que durante muito tempo pareceu impossível. Mas há equipas assim, que não podem ser dadas como derrotadas.

Já sem Sérgio Conceição, o FC Porto voltou a ser uma equipa competitiva, ainda que na primeira parte tenha sido cilindrada pelo campeão nacional, a quem faltou estofo nas horas decisivas – é este o preço a pagar pelas saídas dos líderes do balneário.

Vítor Bruno vence um título logo na estreia e que pode servir de incentivo extra, numa época que se espera complicadíssima para os dragões. O novo treinador começa no banco tal e qual Villas-Boas: a ganhar a Supertaça, em Aveiro, num jogo em que entrou como vencedor da Taça e com o favoritismo do lado contrário.

Já Ruben Amorim, terá de repensar várias coisas, desde logo, arranjar um antídoto para bater este FC Porto, algo que só conseguiu numa ocasião na última dúzia de jogos.

RECORDE O FILME DO JOGO

Vítor Bruno tinha garantido que muitos internacionais nem sequer iriam a jogo e, de facto, só Diogo Costa foi titular. Os outros, ficaram na bancada, à exceção de Eustáquio. O FC Porto manteve a fórmula que trouxe sucesso na pré-época, assim como o Sporting, que apenas mexeu no lado esquerdo, por força das circunstâncias. Sem Matheus Reis nem Nuno Santos, Quenda e Geny Catamo assumiram o protagonismo nas alas.

Comprimido Amorim para adormecer o dragão

Nem parecia o arranque da temporada. A Supertaça começou a um ritmo frenético e não permitiu descanso a ninguém. O FC Porto entrou a querer marcar uma posição, com as linhas bem subidas e a pressionar o Sporting logo desde a saída de bola junto à área.

Foi então que entrou em cena o laboratório Amorim. O Sporting deu uma aula com um pontapé de canto estudado, baralhou por completo as marcações e Gonçalo Inácio deu vantagem com um golpe de cabeça – os campeões nacionais passavam para a frente aos seis minutos.

E nem foi preciso esperar muito para ver o segundo golo. Viktor Gyökeres e Pote libertaram-se após o 1-0, começaram a forçar a entrada pelo corredor esquerdo e a defesa portista revelou muitas dificuldades em controlar o jogo associativo dos leões.

O sueco calou quem dizia que Zé Pedro o colocou no bolso no Jamor e, numa cavalgada bem ao seu estilo, desmontou por completo a defesa do FC Porto e serviu Pote para o 2-0, ainda antes dos primeiros dez minutos.

O comprimido de Amorim tinha surtido efeito e o dragão estava adormecido. Com o conforto dos dois golos de vantagem, o Sporting, perante um FC Porto claramente baralhado, mostrava-se confiante e atingiu o pico do êxtase aos 24 minutos. Após nova combinação entre Pote e Gyökeres, o sueco tirou o cruzamento ao segundo poste, onde apareceu Geovany Quenda a marcar na estreia com um excelente pontapé à meia-volta.

Nem meia-hora de jogo, 3-0 desfavorável no marcador e fogo de artifício no lado contrário. O cenário para o FC Porto arrancar 2024/25 não podia ter sido pior. Mas, se há coisa que os dragões parecem manter na sua gênese, apesar da saída de Sérgio Conceição, é a atitude competitiva, que nunca pode deixar o adversário descansado. E talvez tenha sido esse o problema do Sporting. Pensou que já tinha domado o FC Porto, mas o dragão tem muitas vidas. Nestes momentos, a presença de figuras como Coates pode ser determinante.

O primeiro vislumbre da reação aconteceu aos 28 minutos, quando uma oferta de Debast permitiu a Galeno recolocar o FC Porto no jogo. O central belga colecionou erros em zonas proibitivas, alguns por desconcentração, outros por confiança em demasia. No lance do 3-1, foi uma clara má abordagem que deixou Galeno na cara de Kovacevic.

Vítor Bruno com toque de Midas

Era esperado que Vítor Bruno mexesse ao intervalo, dada a escassa produtividade de quem tão bem tinha correspondido na pré-temporada. O técnico não foi por esse caminho e demorou cerca de um quarto de hora até arriscar.

E melhor não poderia ter corrido. O FC Porto marcou aos 64 e 66 minutos: num ápice, os dragões tinham empatado o jogo e o Sporting, que até então tentava gerir a vantagem, tinha-a perdido.

O primeiro golo nasceu da criatividade e explosão de Gonçalo Borges, que arrancou pela direita e serviu Nico González. Mais um golo para o médio espanhol, que validou as credenciais de goleador que lhe foram atribuídas na pré-epoca.

O mérito do empate tem de ser dado a Eustáquio. O internacional canadiano – Vítor Bruno bem avisou que alguns estavam com melhores índices do que outros – rompeu pela área, temporizou, viu Galeno a chegar e assistiu o brasileiro, que só teve de encostar.

Que cambalhota no jogo! E nem dava para respirar!

O Sporting estava com muitas dificuldades para conseguir subir as linhas e não defender tão encostado à sua área. Por outro lado, o FC Porto, embalado pela euforia da bancada e pelas mexidas de Vítor Bruno, mostrava claros sinais de vida. Ainda assim, foram insuficientes para resolver o primeiro troféu da época nos 90 minutos.

Iván Jaime como Joker

O prolongamento já mostrou o Sporting a voltar a equilibrar o jogo, mas também porque ambas as equipas jogavam com o receio de perder no detalhe. E foi isso mesmo que aconteceu.

Afastado do grupo por Sérgio Conceição na última temporada, Iván Jaime já tinha feito questão de vincar o sorriso nos jogos de preparação, no momento de festejar os golos. Não começou a Supertaça como titular, mas foi lançado na segunda parte e ainda a tempo de ser protagonista – que enredo este.

No prolongamento, o médio espanhol tentou um remate sem muita esperança, de fora da área, mas a bola sofreu um desvio e deixou Kovacevic completamente nas covas. Se a estreia do reforço Debast não entusiasmou, a do guarda-redes também deixou dúvidas no ar. Mas, aqui, o papel principal foi mesmo de Iván Jaime que, qual Joker, teve a oportunidade de mostrar o sorriso (outrora rejeitado) aquando da reviravolta.

A partir deste momento, a ordem de Vítor Bruno foi para cerrar fileiras. David Carmo entrou para lateral-esquerdo – por essa altura era Galeno que fazia a posição – e o FC Porto fechou os caminhos a uma possível reação do Sporting, emocionalmente destruído. Uma exibição de mais a menos dos leões, em sentido inverso à dos dragões. Para a memória fica um jogo de loucos.

Se é isto que nos reserva a temporada 2024/25, caro leitor, ainda bem que ela já chegou!

 

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