Que jogo de loucos! Que jogo de LOUCOS! O futebol está de volta e já dá para perceber porque é que isso, como sempre, é tão bom
Spoiler: ganhou o FC Porto, mas ninguém estava à espera, sobretudo depois do filme do jogo
Vamos já tirar o elefante da sala: é muito giro ver tiro com arco, os trampolins são espetaculares (menção honrosa para Gabriel Albuquerque) e Patrícia Sampaio mostrou-se ao mundo. Mas o povo gosta de futebol.
Não há muito a dizer. Aqueles 22 senhores a correr que nem doidos atrás de uma bola caprichosa fazem mesmo o nosso deleite. E esse deleite voltou. Eis a Supertaça, que nos trouxe golos, e não foram poucos. Se essa fome havia, e havia, já deu para encher qualquer coisinha.
O melhor do jogo: tinham fome de golo?
O FC Porto entrou afirmativo, foram quase cinco minutos de, se podemos dizê-lo, sufoco portista. Só que, à primeira oportunidade, os leões soltaram-se e conseguiram o primeiro golo. Um autêntico balde de água fria que mais fez lembrar o último jogo da época. Afinal, o FC Porto nunca conseguiu defender as bolas paradas na final da Taça de Portugal – hoje voltou a ter evidentes dificuldades nesse ponto.
Mas não foi só isso. Era novamente o FC Porto a tentar matar o jogo, mas poucos minutos depois, talvez ainda quando muitas pessoas estivessem na casa de banho ou a ir buscar mais uma jola (demasiada gíria), Zé Pedro também fazia lembrar a final da Taça de Portugal. O problema é que foi ao contrário. Se no Jamor o central tinha secado por completo Gyökeres, desta vez o sueco mostrou-se com vontade de outras coisas, mesmo que supostamente limitado. Arrancou pela esquerda e Zé Pedro ficou a ver – dificilmente podia fazer melhor –, antes de uma assistência para o segundo do Sporting.
A sensação foi essa durante todo o jogo: equilíbrio, sim, mas com o Sporting muito por cima sempre que se pediu algo mais (exceção feita a Debast, que ainda não sabe bem como a coisa funciona).
Perdão. Não foi durante todo o jogo, que muitos, incluindo eu, deram como terminado antes dos 30 minutos. Afinal havia mais quatro golos, todos para o outro lado.
Uma loucura completa para matar essa fome que era impossível não termos.
O pior do jogo: façam lá a segunda mão
O virar do século trouxe uma coisa irritante, mas se calhar só agora nos apercebemos. Imaginemos, numa distopia, em que esse virar não tinha trazido uma decisão. Afinal ainda havia uma segunda mão na Supertaça.
Isso ainda queria dizer que poderíamos ter um outro enorme jogo como este? possível imaginar? Ou se calhar seriam dois jogos secantes. Pois, ninguém sabe, mas dá muita vontade de pensar no assunto.
P. S.: este incrível espetáculo de futebol estragou um jantar, mas pronto, já lá vamos.
Momento do jogo: quantos minutos tem um jogo?
Entrar logo a perder por 1-0 é difícil. Entrar a perder por 2-0 é complicado. Estar antes da meia hora a perder por 3-0 é mesmo impossível. Tenho de confessar que a brutal reação do FC Porto me complicou a crónica, que até certo momento chegou a estar quase totalmente pensada logo aos 26 minutos.
Só que o Galeno, o Eustáquio, aquela malta toda, decidiram que eu não podia ir jantar descansado – tinha um jantar marcado, obrigado por terem estragado isso.
Tinha acabado de ser o 2-3 para o FC Porto e meio que se disse “olha, até parece equilibrado” quando Galeno, numa jogada meio aos trambolhões, voltou a meter a bola dentro da baliza. 3-3, bolas? Sim, 3-3. Empatou o FC Porto, estragaram-me o jantar, deliciaram-me com futebol e lançaram uma Supertaça que ninguém podia pensar.
No fim, acho que quando pensamos que queremos grandes jogos, é nisto que pensamos. Não pode haver outro pensamento. É mesmo isto, não é?
A surpresa do jogo: dá para termos mais disto?
Nem temos coração para isto, ou temos? Nunca se tinham marcado tantos golos na Supertaça este século – é preciso recuar a 2022 e ao Sporting 5-1 Leixões para coisa parecida e não igual – e não há memória de uma final deste género. É que só por uma vez se marcaram seis golos desde que existe a final a uma mão (foi nesse mesmo jogo) e antes disso algo do género só aconteceu por duas vezes – FC Porto 4-2 Benfica na 2.ª mão da Supertaça de 1986 e Sporting 6-1 SC Braga na 2.ª mão da Supertaça de 1982. Só aí se marcaram pelo menos seis golos na final.
Uma autêntica loucura, diga-se, até na marcha do marcador, da qual não existe memória que tenha sido tão louca como desta vez.
Um obrigado a Rúben Amorim e a Vítor Bruno, mas, sobretudo, aos jogadores. Foram eles que, com a genialidade, ou por vezes falta dela, conseguiram colocar isto num outro patamar. Olá época de 2024/25, sois muito bem-vinda.