"Suisse Secrets": lavagem de dinheiro, corrupção e até tortura. Fuga de informação mostra lado negro do Credit Suisse

20 fev 2022, 18:02

Polémica surge cerca de um mês depois de Horta Osório se ter demitido da presidência do banco

Uma fuga de informação de grande dimensão no banco suíço Credit Suisse deixou a nu detalhes das contas de cerca de 30 mil clientes de várias nacionalidades. Os documentos expuseram os proprietários de mais de 100 mil milhões de francos suíços, aproximadamente 96 mil milhões de euros, depositados numa das unidades bancárias de maior renome na Suíça, o Credit Suisse.

Entre os ficheiros tornados públicos, saltam à vista fortunas de vários clientes envolvidos em crimes como tortura, tráfico de droga, lavagem de dinheiro, corrupção e outros crimes considerados graves.

A fuga demonstra falhas graves nas diligências tomadas pelo banco que, ao longo das últimas décadas, tem vindo a assegurar fazer esforços para eliminar clientes e fundos provenientes de negócios cuja legalidade é questionada em quase todo o mundo.

Os ficheiros demonstram como o Credit Suisse abriu e manteve contas bancárias para um leque de clientes de alto risco em todo o mundo e de forma repetida, contra a posição assumida publicamente pelo próprio banco.

Os documentos foram entregues, há quase um ano, ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung, que também tinha obtido os dados que originaram o Panamá Papers, e foi partilhada com um consórcio de jornalismo de investigação, o OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project), e mais 46 media em 39 países, incluindo o Expresso em Portugal, o The Guardian no Reino Unido, o Le Monde em França e o New York Times nos Estados Unidos.

O Credit Suisse recusou comentar casos específicos, justificando que as leis rígidas pelas quais se regem os bancos suíços impedem que a entidade bancária comente alegações feitas em relação a clientes particulares.

“Credit Suisse rejeita fortemente as alegações e a interferência sobre as supostas práticas de negócio do banco", referiu a empresa através de um comunicado, argumentando que os documentos descobertos pelo consórcio de jornalistas são baseados em “informações seletivas, retiradas de contexto, e que resultam de interpretações tendenciosas da conduta dos negócios do banco”.

O Credit Suisse acrescenta que as alegações são, na sua maioria, muito antigas e, em alguns casos, datam de uma altura em que “as leis, práticas e expectativas sobre as instituições financeiras eram muito diferentes do que são hoje”.

O jornal The Guardian explica, no entanto, que apesar de existirem dados sobre contas que foram abertas na década de 40, mais de dois terços datam já do século XXI. A publicação britânica lembra ainda que muitos destes clientes e contas ainda estavam abertas até à última década e grande parte permanece em funcionamento ainda hoje.

De polémica em polémica: Credit Suisse volta às bocas do mundo depois da saída de Horta Osório no mês passado

Há apenas um mês, o banco Credit Suisse já tinha estado nas bocas do mundo por culpa de uma polémica com um português. Passados apenas nove meses depois de ter assumido o cargo, António Horta Osório deixava a presidência do banco, após quebrar as regras de prevenção da covid-19 na Suíça e no Reino Unido.

"Lamento que algumas das minhas ações pessoais tenham levado a dificuldades para o banco e comprometido a minha capacidade de representar o banco interna e externamente. Por conseguinte, acredito que a minha demissão é do interesse do banco e das suas partes interessadas neste momento crucial", anunciou Horta Osório em comunicado citado pela Bloomberg.

A saída do português acontece após uma investigação do próprio Credit Suisse Group, com sede em Zurique. Na altura, a imprensa internacional já classificava o incidente como uma “nova polémica” (dizia a agência Bloomberg), que se juntava ao passado conturbado do banco.

O português tinha regressado à Suíça do Reino Unido a 28 de novembro e partido para a península ibérica antes de um período de quarentena obrigatório de 10 dias ter terminado, acrescentou a Bloomberg.

Antes, Horta Osório já teria quebrado as regras em julho de 2021, quando assistiu às finais de ténis de Wimbledon em Londres, contrariando as regras de prevenção no Reino Unido.

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