Capital do Sudão regista mais explosões e caos mesmo com apelos para cessar-fogo

Agência Lusa
18 abr 2023, 13:46
Khartoum, Sudão (EPA/MAXAR TECHNOLOGIES HANDOUT)

Apesar dos apelos da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 no Japão, da ONU e dos EUA "para pôr fim imediato à violência", os combates continuam na capital sudanesa.

A capital do Sudão, Cartum, registou esta terça-feira mais explosões e confrontos de artilharia no solo contra aviões que tentam ultrapassar as barreiras colocadas pelas Forças de Apoio Rápido (RSF), apesar dos apelos gerais para um cessar-fogo.

De acordo com a agência de notícias France-Presse (AFP), a situação continua caótica na capital sudanesa apesar dos apelos da comunidade internacional e dos vizinhos regionais, que tentam suspender ou parar o confronto que eclodiu no sábado e que já fez pelo menos 180 mortos e mais de 1.800 feridos.

Nos céus sobre a capital, os aviões do exército do general Abdel Fattah al-Burhan, o líder de facto do país desde o golpe de 2021, estão a tentar ultrapassar o fogo intenso dos paramilitares (RSF) liderados pelo general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como "Hemedti", que orquestrou em conjunto o golpe de 2021, mas que se tornou inimigo desde sábado.

Apesar dos apelos da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 no Japão, da ONU e dos EUA "para pôr fim imediato à violência", os combates continuam na capital sudanesa.

Media árabes dizem que exército aceita cessar-fogo

Meios de comunicação árabes noticiaram hoje ao início da tarde que o exército sudanês concordou com um cessar-fogo de 24 horas que começará ao final do dia, horas depois do acordo das Forças de Ação Rápida (RSF).

De acordo com a agência de notícias Associated Press (AP), os meios de comunicação Al-Arabiya e Al-Jazeera estão a noticiar, citando o dirigente militar Shams El Din Kabbashi, que o exército do Sudão vai também aceitar a proposta do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e vai parar as hostilidades a partir do final do dia, por um período de 24 horas.

As declarações deste responsável surgem no mesmo dia em que Cartum continua mergulhada no caos e violência e acontecem horas depois de o exército ter emitido um comunicado no qual diz que o cessar-fogo aceite pelo grupo paramilitar RSF serve apenas para encobrir a derrota.

"Não temos conhecimento de nenhuma coordenação com os mediadores e a comunidade internacional sobre uma trégua, e a declaração de cessar-fogo de 24 horas por parte dos rebeldes [das RSF] pretende encobrir a inevitável derrota que vão sofrer dentro de algumas horas", lê-se no comunicado citado pela agência de notícias EFE.

O líder das RSF, Mohamed Hamdan Dagalo, conhecido como 'Hemedti', tinha aceitado um cessar-fogo "para garantir o livre trânsito seguro dos civis e a saída dos feridos".

Numa mensagem no Twitter, 'Hemedti' disse ainda que as forças armadas continuavam os bombardeamentos e que esperava "novas conversações" com Blinken para ver "a melhor maneira de abordar estas violações".

O surto de violência surgiu no fim de semana entre os dois principais generais sudaneses, cada um deles apoiado por dezenas de milhares de combatentes fortemente armados, levando milhares de pessoas a permanecerem desde então nas suas casas ou em outros abrigos, com os mantimentos a esgotarem e vários hospitais a serem forçados a encerrar os serviços.

Face à tragédia em curso, diplomatas de diferentes países tentaram sem êxito negociar uma trégua, e o Conselho de Segurança da Nações Unidas foi convocado para discutir a crise.

A luta pelo poder colocou o general Abdel Fattah al-Burhan, comandante das forças armadas, contra o general Mohammed Hamdan Dagalo, chefe das Forças de Apoio Rápido, um grupo paramilitar, numa reviravolta face à organização conjunta de um golpe militar em outubro de 2021.

Agora, a violência trouxe o espectro da guerra civil, numa altura em que os sudaneses estavam a tentar incrementar um governo democrático e civil, após décadas de governo militar.

Sob pressão internacional, Burhan e Dagalo tinham recentemente acordado num acordo-quadro com partidos políticos e grupos pró-democracia, mas a assinatura foi repetidamente adiada à medida que as tensões aumentavam entre as duas fações em resultado da integração das RSF nas Forças Armadas e da definição da futura cadeia de comando.

Apenas há quatro anos, o Sudão inspirou esperança após uma revolta popular, ajudando a depor o líder autocrático de longa data Omar al-Bashir, mas a agitação desde então, especialmente o golpe de 2021, frustrou o impulso democrático e arruinou a economia.

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