"Succession" chegou ao fim. O que nos diz o episódio final de uma das séries mais aclamadas?

29 mai 2023, 13:40
Série "Succession"

No último episódio, as tensões nesta família tão poderosa são projetadas ao extremo. Atenção: este texto contém (muitos) spoilers

ALERTA SPOILER: ESTE ARTIGO CONTÉM MUITAS REVELAÇÕES DO ÚLTIMO EPISÓDIO

Quem ganha e quem perde, quem fica afinal com o quê. As perguntas que habitualmente queremos ver respondidas quando uma série termina são, provavelmente, as que menos interessam quando chegamos ao final de "Succession". Sim, o último episódio da série da HBO revelou os destinos do império de média Waystar Royco após a morte do multimilionário Logan Roy (Brian Cox) e o nome do novo CEO, mas foi muito mais do que isso: serviu aos espectadores um último cocktail com os melhores ingredientes desta receita de sucesso - drama, luxo, capricho, intriga e traição até ao fim, sem margem para a catarse ou para a rendição. E todos acabam mais ou menos miseráveis.

Neste último episódio, "With Open Eyes", o conglomerado Waystar Royco acaba mesmo por ser vendido e nenhum dos Roy é nomeado CEO. E este é um desfecho que, no fundo, condensa tudo aquilo a que assistimos ao longo das quatro temporadas: esta história não é sobre qual dos filhos de Logan Roy - Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin), Siobhan (Sarah Snook) e Connor (Alan Ruck) -, deve liderar as empresas da família, esta história é sobre tudo o resto. Esta história é sobre os meandros de um contexto de enorme riqueza e privilégio e sobre perigosos jogos de influência entre a agenda política e a imprensa. É sobre um universo patriarcal em que se procura não só o poder, mas também a validação, e sobre como uma série de personagens terríveis - que se deslocam em jatos privados, subornam políticos e conseguem escapar à justiça mesmo quando estão envolvidos na morte de alguém - nos parecem tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximas.

Nas cenas finais de "Succession" as tensões nesta família tão poderosa são projetadas ao extremo: há uma reunião entre os irmãos para afinar uma última estratégia e chega mesmo a haver um acordo para apontar Kendall como CEO - tudo isto acontece numa mansão das Caraíbas, entre coqueiros e banhos de mar tropicais, com jogos inusitados e extravagantes, e numa harmonia tão fina, como superficial.

Mas depois, mudança de planos, reviravolta de última hora: Siobhan, grávida, decide apoiar o marido, em detrimento do irmão, e o que se segue é uma cena intensa com uma derradeira troca de insultos e agressões entre os Roy. Não há qualquer espécie de final feliz: Kendall falha a o lugar de CEO e acaba perdido, a vaguear o horizonte com o olhar, Roman está sozinho, refugiado num bar, e mesmo Siobhan, que termina como esposa do novo CEO, surge visivelmente miserável junto ao marido -  ela aprendeu a "dissociar-se" bem cedo, já a tínhamos ouvido dizer, num episódio anterior.

Com efeito, é Tom Wambsgans (Matthew Macfadyen), o marido de Siobhan, que acaba por ser coroado CEO. Uma personagem que foi ganhando relevância sobretudo a partir da terceira temporada e que foi mostrando, gradualmente, a sua enorme flexibilidade tanto para trocar de lados e de players, nos jogos do poder, como para arcar com o trabalho sujo - vimos isso de forma flagrante no escândalo de abusos em torno do departamento de cruzeiros. De resto, Tom conseguiu um acordo secreto com o dono da GoJo, Lukas Matsson (Alexander Skarsgard), para ser nomeado CEO - o lugar já havia sido prometido a Siobhan - precisamente por ter esse perfil: Matsson sublinha que precisa de alguém que apare os golpes, que seja uma "esponja" para absorver o mal e a dor.

E pouco importa por quem é que o espectador estava a torcer. Uma coisa que "Succession" fez saber desde a primeira temporada é que nesta disputa não há bons nem maus - as personagens estão cheias de contradições e complexidades que as tornam tão particulares quanto familiares.

Num episódio com uma duração maior do que o normal (uma hora e meia) chegou, assim, ao fim uma das séries mais aclamadas dos últimos tempos - a terceira temporada venceu o Emmy de melhor série dramática e deu ao autor e argumentista, Jesse Armstrong, o galardão de melhor escrita para série dramática. Os atores revelaram que só perceberam que se tratava do final da série quando começaram a ler o guião do episódio e que este lhes foi dado poucas horas antes das gravações.

A série da HBO estreou no pequeno ecrã em 2018 e deu origem a quatro temporadas, num enredo cheio de intrigas, manobras políticas e de bastidores, e que terá sido inspirado numa das mais poderosas famílias do mundo: os Murdoch.

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