Pêssegos, nectarinas e cerejas estão mais caros. Porque é que a fruta de caroço subiu de preço este verão?

24 jul 2022, 22:00
inflação, preços, fruta, mercado, maçãs. Foto: Pedro Fiúza/NurPhoto via Getty Images

A guerra fez subir os preços, mas o clima também não ajuda

Quando vai ao supermercado certamente já deve ter reparado que a fruta da época está mais cara. Um quilo de maçã golden, por exemplo, pode agora custar cerca de 1,29€. Tendo em conta a atual conjuntura, até pode pensar que tal se deve à inflação. E não está errado. Mas há mais por detrás destes aumentos.

De acordo com os cálculos dos analistas da XTB, no último mês e meio os preços das frutas subiram em média 8,7%, com destaque para a maçã golden e para as cerejas, que subiram mais 10% cada uma.

"As frutas que sofreram o maior aumento este verão foram a maçã Golden e as cerejas", indica Nuno Mello, analista da XTB.

Segundo avança a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) à CNN Portugal, as frutas de caroço estão entre as que aumentaram mais o valor. Aliás, de acordo com os produtores, as frutas como o pêssego, nectarina, ameixas e cereja já começam a refletir uma parte do aumento dos custos de produção.

"Nestas frutas de época, ou sazonais, andam todas com o mesmo aumento do custo de produção. É inevitável: neste momento os aumentos rondam os cerca de 15%", afirma Domingos dos Santos, presidente da Direção da FNOP.

Porque é que a fruta está mais cara?

Tanto produtores como analistas de mercado indicam que há vários fatores que estão a fazer subir os preços. A limitação da oferta de matérias-primas e o aumento dos custos de produção, nomeadamente da energia, necessária à produção agroalimentar, podem, por isso, estar a refletir-se num incremento dos preços das frutas não só nos mercados internacionais como também no mercado nacional.

“O que mais influenciou foi o aumento da inflação: fertilizantes e adubos (que vêm da Rússia), combustíveis (para as máquinas), energia elétrica e embalagens (caixas de cartão, plástico) e aumento do custo de mão de obra", detalhou o presidente da FNOP. "Notamos uma diferença muito grande. Falamos entre os 35 e os 40% de aumento dos custos de produção".

Outro fator importante é o clima. O tempo seco e a baixa frequência com que chove também prejudica a produção.

“E há menor produção até porque as condições climatéricas não têm sido favoráveis. A seca e as geadas tardias são fatores que prejudicam", diz Domingos dos Santos.

Em Alpiarça, por exemplo, o sol arruinou várias culturas de melão e melancia, onde se temem prejuízos na ordem dos 10% em apenas uma semana. Os produtores explicam que, no caso do melão, é "como se a fruta tivesse ficado cozida". Mas não só, segundo o presidente da FNOP, "tivemos prejuízos significativos em pêras e maçãs, com alguma fruta queimada pelo sol, mas ainda não sabemos qual o impacto".

"Com este golpe de calor, as plantas entraram em stress portanto não sabemos como é que vão reagir", diz Domingos dos Santos.

Além disso, segundo a XTB, Portugal está altamente dependente dos mercados externos, nomeadamente da vizinha Espanha.

O caso do melão e melancia espanhol

O país vizinho enfrenta uma situação complexa no setor. Segundo noticia o El Mundo, os consumidores têm-se surpreendido com o preço da melancia e do melão nas grandes superfícies. Nas últimas semanas, o seu custo ultrapassou até dois euros por quilo nos hipermercados, que representam 70% das vendas totais em Espanha.

À inflação juntou-se um clima muito adverso na primavera, que arruinou as primeiras colheitas em Almería e Múrcia, que atiraram o preço de uma melancia com entre seis e sete quilos para mais de 15 euros.

O preço de custo de produção de melões e melancias aumentou em média 30% nesta campanha, segundo cálculos da Interprofissional Castilla La Mancha. E depois há o fenómeno da especulação: de acordo com o índice de preços de origem e destino dos alimentos em Espanha para junho, em média, cada agricultor recebia 0,36 euros por cada quilo de melancia, mas o preço nas prateleiras era de 2,17 euros, o que representa um aumento de 500%. Pelo mesmo valor, um produtor de melão recebeu 0,47 euros, mas o consumidor pagou em média 1,87 euros, ou seja, quase 300% a mais. 

A União dos Pequenos Agricultores e Pecuaristas (UPA) de Espanha, considera que “por trás desse aumento dos preços no destino, sem reflexo na origem, há movimentos especulativos que aproveitam a espiral inflacionária e as frutas de verão estão a ser vítimas dessa especulação".

Mas os produtores portugueses tranquilizam: a melancia e melão nacionais estão com valores normais para a época. "Há um ligeiro aumento, mas é da inflação". "É completamente diferente do que acontece em Espanha", diz Domingos dos Santos.

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