Sporting-V. Guimarães, 2-0 (crónica)

17 mai, 20:27

Entre a inspiração de um ET, nunca faltou transpiração. O leão é bicampeão!

Aqueles dias de outubro/novembro foram dos mais quentes de que há memória no Sporting. Não que o passado recente não esteja ele repleto de acontecimentos «inesquecíveis», com toda a abrangência da palavra em diferentes contextos.

Mas a confirmação da saída de Ruben Amorim para o Manchester United pareceu pôr tudo em xeque, até porque o mês que se seguiu, com maus resultados e uma vantagem confortável esfumada, tornou ainda mais claro o que já era evidente. Era Ruben, sem acento, que acentuava o poderio de uma equipa e de um clube cada vez mais pujantes.

João Pereira foi um erro ou, talvez, um mal necessário para permitir que quem lhe seguiu não chegasse com o peso de uma herança capaz de esmagar qualquer homem como aconteceu em pouco mais de um mês.

Com Rui Borges, o Sporting não foi uma equipa de assinatura. Dificilmente poderia sê-lo, pela falta de tempo para olear novas dinâmicas e pelas inúmeras lesões que obrigaram o técnico transmontano a queimar etapas de crescimento de jovens da formação e lançá-los no onze.

Com um ou outro tropeção pelo caminho e a eliminação prematura da Champions – uma boa notícia para muitos – o leão manteve-se à tona, numa apneia constante, aliviada depois pelos regressos de jogadores importantes nas últimas jornadas. Reagiu às aproximações do eterno rival, que recuperou de desvantagens de cinco e de seis pontos em duas fases da época mas foi negligente quando menos se esperava e quando estava proibido de sê-lo.

Claro que a história deste título não se escreve sem o nome de Viktor Gyökeres, o futebolista mais impactante da história recente do futebol português. O sueco apareceu sempre: quando tudo corria bem e quanto tudo parecia prestes a desmoronar: 39 golos no campeonato e influência em muitos outros que não lhe pertenceram. O Sporting não foi o mesmo sem Pote e também não seria o mesmo sem Hjulmand, sem Trincão, sem Diomande, Inácio, sem aquele pé direito de Eduardo Quaresma frente ao Gil Vicente e, até, sem Rui Borges, que teve o mérito de estabilizar um conjunto que parecia caminhar para o precipício. Mas sem Gyökeres, um extraterrrestre que aterrou por cá há dois anos e que ganha jogos sozinho, não poderia sobreviver.

E neste sábado voltou a mostrá-lo, com o sueco a fechar o triunfo por 2-0 e a repesentar um perigo permanente para a baliza contrária.

Ainda que intenso na pressão e a conseguir fazer do Vitória uma equipa quase banal nos momentos com bola, foram sobretudo as cavalgadas do sueco com bola e os movimentos em profundidade sem ela que instalaram o pânico nos defesas minhotos.

Obrigada – tal como o Sporting face ao Benfica – a igualar o resultado do Santa Clara diante do Farense, a equipa de Luís Freire sentiu muitas dificuldades para se aproximar da baliza de Rui Silva. Por incapacidade ou por estratégia, quando o 0-0 ainda persistia baixou as linhas até ao limite do suportável, permitindo que a bola andasse demasiado perto da área de Varela, que alternou entre momentos erráticos e brilhantes. Com bola, os vimaranenses pareciam apostados em tirar ritmo, jogando com o nervosismo crescente do público que nem a desvantagem do Benfica na pedreira, naquele momento, parecia atenuar.

O Sporting terminou a primeira parte sem Diomande, lesionado, e a segunda começou só com uma novidade: a entrada de Nuno Santos para o lugar de Gustavo Silva. De resto, a nota dominante do jogo manteve-se. O Sporting continuou instalado no meio-campo contrário e a bola continuou a ser um corpo estranho para os jogadores do Vitória.

Ainda assim, com ela, os leões foram quase sempre mais transpiração do que inspiração. Até àquele momento em que, como em tantas outras ocasiões, Eduardo Quaresma vestiu-se de criativo, deixou adversários para trás e forjou o desequilíbrio que permitiu a Pote, servido por Maxi, inaugurar o marcador aos 55 minutos.

Demasiado passivos até aí para que ainda tinha um apuramento europeu em jogo, os visitantes tiveram de rasgar os papéis cujas linhas traçavam um plano conservador. Tentaram ser diferentes, mas nunca conseguiram sê-lo, muito por culpa do Sporting, que depois do 1-0 foi em busca do segundo, que chegou nos minutos finais pelo inevitável Viktor Gyökeres.

No epílogo da Liga, o campeão nacional fez o que lhe competia. Ganhar, coisa que o rival Benfica, que chegara empatado em pontos à última jornada, nem conseguiu fazer, pelo que termina o campeonato isolado no primeiro lugar. No fim, os efeitos práticos são os mesmos, mas nunca é igual.

O Sporting fez mais pontos, teve o melhor ataque e a melhor defesa da Liga. Com pouco brilho? Talvez, mas quem ousa dizer que não é um justo campeão?

«Que nunca falte transpiração», apelou Rui Borges quando chegou a Alvalade. E a esta equipa nunca faltou.

Setenta e um anos depois, o Sporting é bicampeão. Quando o foi pela última vez, foi tetra. Será capaz de voltar a sê-lo?

«Vamos ver.»

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