Palco 410: a luz que guiou Coates em Barcelos

10 fev 2021, 00:21
Palco 410, o camarote que Coates partilhava com «Morro» García no Parque Central (foto: Nacional)

«Bis» do central do Sporting ao Gil Vicente foi dedicado a Santiago «Morro» García, amigo e antigo colega de equipa, que se suicidou recentemente

«Para mim foi um jogo muito especial. Esta semana perdi um amigo, um irmão, e foi um jogo muito complicado por isso. Tenho de dizer muito obrigado a todos os meus companheiros, que me apoiaram dentro do campo.»

O «bis» em Barcelos, que permitiu a reviravolta do Sporting no terreno do Gil Vicente, teve dedicatória incontornável para Sebastián Coates. Embora sem referir o nome, o central leonino deixou entendido que os dois golos eram dedicados a Santiago «Morro» García, um antigo colega, mas acima de tudo um amigo de longa data.

Rúben Amorim até foi mais específico, ao passar também pela zona de entrevistas rápidas da Sport TV, onde destacou a semana «muito difícil» que Coates teve porque «uma pessoa muito próxima se suicidou».

O treinador do Sporting também não referiu nomes, mas já tinha ficado bem evidente que, no meio da alegria dos dois golos marcados, que deram uma vitória muito suada ao Sporting, Coates tinha pensado no amigo.

Coates bisou para a reviravolta do Sporting em Barcelos e apontou para o céu, em homenagem a «El Morro»

Sebastián e Santiago nasceram ambos em 1990, com poucas semanas de diferença. Foram colegas nas camadas jovens do Nacional de Montevideu, clube ao qual o central chegou com 11 anos, e conquistaram juntos um espaço de destaque na equipa principal.

«El Morro» estreou-se logo em 2008, e depois foi a vez de Coates, em 2009, ano em que também partilharam o balneário no Mundial de sub-20 do Egito.

Coates e «Morro» García festejam um golo do avançado no Mundial de sub-20 de 2009, disputado no Egito

A ligação era tão próxima que até deixaram o Nacional no mesmo ano, em 2011. Curiosamente foram ambos falados para equipas portuguesas nessa altura (FC Porto e Benfica, sobretudo).

Coates acabou por assinar pelo Liverpool e só cinco anos depois chegaria ao Sporting.

Santiago assinou pelo At. Paranaense, e já estava no Brasil quando se soube que tinha testado positivo para cocaína num controlo antidoping realizado num dos últimos jogos pelo Nacional. Acabou por não cumprir o castigo de 13 meses, uma vez que este era válido apenas no Uruguai, e o avançado só regressou ao país natal em 2014, já depois de uma passagem pouco feliz pelo Kasimpasa, da Turquia.

Voltou a procurar a felicidade no Nacional, mas o sucesso não foi o mesmo. Seguiu depois para o River Plate (do Uruguai), mas foi no Godoy Cruz, da Argentina, que cumpriu quatro anos de grande sucesso.

Agora, contudo, tinha sido afastado do plantel. A imprensa sul-americana dava como certa a saída, e o regresso ao Nacional aparecia como potencial destino.

A vida profissional separou Coates e Santiago, mas a amizade manteve-se. Sustentada até nessa ligação umbilical ao «Decano» de Montevideu. Coates e «Morro» García partilha(va)m um camarote no estádio Parque Central, com Diego Arismendi (outro ex-Nacional, atualmente no Torque).

Esse camarote, o Palco 410, está agora cheio de flores, camisolas e outras lembranças de «Morro» García, que sofria de depressão.

É a luz desse camarote que tem ficado acesa durante a noite, para lembrar o antigo avançado.

Foi essa luz que guiou Coates em Barcelos.

Dois golos ao jeito de um avançado.

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