Champions: Sporting-Man. City, 4-1 (crónica)

Sérgio Pereira , no Estádio de Alvalade, em Lisboa
5 nov, 22:11

God save the King

Passaram 1700 dias, o que pode parecer pouco mais de quatro anos e meio, mas na verdade são uma vida. Ou duas, ou três. Este Sporting não é, de todo, o mesmo.

Definitivamente, não é.

Naquele dia 8 de março de 2020, com dois dias de trabalho, Ruben Amorim jogou perante 26 mil adeptos, em protesto contra a equipa, num jogo que parecia à porta fechada.

Havia mais contestação do que apoio, numa família desavinda e triste, que venceu o Desp. Aves com golos de Sporar e Vietto. Lembra-se, leitor?

Provavelmente não. Porque, lá está, foi há uma vida. Ou duas, ou três.

Hoje, 1700 dias depois, Alvalade cobriu-se de euforia até às orelhas, para viver uma noite de entusiasmo, futebol e sportinguismo. Uma noite que ficará para a eternidade do clube.

Até porque se fez história. Há mais de quatro anos que o City de Guardiola não perdia um jogo sofrendo quatro ou mais golos. É certo que há coisa de um ano também sofreu quatro golos, mas empatou, com o Chelsea. A última vez que tinha perdido com estes números foi em setembro de 2020, numa derrota por 5-2 frente ao Leicester.

Quatro anos depois, foi o Sporting a fazê-lo.

Para além dos números, porém, fica a manifestação de autoritarismo, perante os olhos do futebol, de um Sporting que goleou aquela que é talvez a melhor equipa do mundo.

Escândalo!, gritará sua majestade. Ruben Amorim!, gritamos nós.

O treinador dificilmente podia ter uma melhor despedida, ele que é o maior responsável por tudo isto. Ou não tivesse dado uma curva de 180 graus no destino, para transformar aquela equipa errática e temerária neste super Sporting, que goleia o City de Guardiola.

É certo que para o fazer, esta noite, teve de alterar ligeiramente os princípios da equipa. Mas isso pouco importa. É apenas um parágrafo no meio do texto.

Aqui está ele.

Foi um Sporting mais recuado, a dar totalmente a posse de bola ao adversário, a saber sofrer e defender bem, para depois criar perigo em transições rápidas, quase sempre de dois contra dois ou três contra três. Geovany Quenda foi nesse aspeto também precioso, ele que jogava sempre aberto, independentemente do que se passasse do outro lado, para ter espaço e tempo para receber a bola e colocar a bola na desmarcação dos avançados.

No fundo estava tudo pensado, tal como Ruben Amorim mostrou ao longo destes quatro anos que sabe fazer tão bem.

O Sporting começou algo nervoso, a falhar muitos passes, a recuar em demasia, a perder as bolas até em situação perigosa, como aquela que permitiu a Foden abrir o marcador.

Depois de Gyokeres ficar na cara do golo e falhar escandalosamente, porém, a equipa e os adeptos acreditaram que algo mais era possível. O que aos poucos empurrou a equipa para uma exibição mais segura, materializada no golo do empate em cima do intervalo.

A segunda parte, essa, arrancou com o golo de Maxi Araújo e a partir daí foi toda do Sporting. Um festival de defender bem, sair rapidamente e criar perigo, que permitiu construir esta goleada. Correu tudo bem, portanto, até o penálti que Haaland atirou à trave.

Gyokeres deu uma coça ao norueguês e Amorim serviu uma lição tática a Guardiola. Alguém em Old Trafford deve estar muito feliz, não é Sir Ruben Amorim?

No fim houve festa por largos minutos, com os adeptos a gritar por Ruben Amorim, a fazer vénias, a cantar a música que inventaram para ele e a querer viver plenamente este momento.

Pode não repetir-se, por isso convém vivê-lo enquanto dura.

Amorim andou pelo ar, nos braços dos jogadores, despediu-se do estádio e partiu. A obra que deixa, essa será eterna.

God save the King.

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