opinião

Varandas vaidosas (também) são propícias a quedas vertiginosas

8 dez 2024, 11:35

A decisão de Frederico Varandas nomear João Pereira como treinador sucessor de Ruben Amorim no Sporting pode (e deve) ser analisada sob diferentes perspectivas. No que concerne ao conteúdo da decisão, existem indícios de que o novo treinador do Sporting não tem conhecimento, experiência, liderança e carisma para suceder a Ruben Amorim. Ainda assim, deve ser dado o benefício da dúvida a quem acompanha o jovem treinador de perto há alguns anos. Porém, no que concerne à forma como João Pereira foi apresentado, restam poucas dúvidas de que Frederico Varandas errou ao assumir publicamente, com pompa, prepotência e vaidade que a escolha estava “há muito tempo planeada” e que “João Pereira daqui a quatro ou cinco anos, estará num dos clubes mais poderosos da Europa”.

O futebol já nos mostrou inúmeras vezes ser pouco dado a certezas, e quatro jogos depois desta decisão o Sporting: (i) soma três derrotas consecutivas (que não acontecia desde 2019), (ii) pode ter perdido a liderança da liga, e (iii) viu os seus jogadores e adeptos perderem toda a confiança no seu futebol. Perante isto, que deve Frederico Varandas fazer? Admitir um erro publicamente e reverter uma decisão de alto impacto é um dos maiores desafios que um presidente pode enfrentar. Esta dificuldade está ancorada em fatores psicológicos, sociais, económicos e políticos que influenciam tanto a percepção do líder quanto as reações dos stakeholders.

Do ponto de vista psicológico, Frederico Varandas corre o risco de persistir numa decisão equivocada, mesmo perante evidências que as contradizem. Este comportamento deve-se, em grande parte, ao desconforto emocional associado a um possível despedimento de João Pereira, uma vez que tal ação seria renunciar a recursos temporais, financeiros e reputacionais já investidos. Além disso, e assumindo que Frederico Varandas se considera altamente competente, a admissão pública deste erro pode ser percionada como um desafio à sua autoimagem. Para mitigar esta tensão interna, o presidente do Sporting pode sucumbir ao viés de confirmação, procurando informações que validem a sua decisão, e ignorando ou desconsiderando evidências contrárias.

A sua própria reputação é, para Frederico Varandas, um ativo de elevada importância. Do ponto de vista social, a admissão pública de que estava errado pode ser percecionada como um sinal de fraqueza ou incompetência, sobretudo num contexto mediático e competitivo como o futebol, onde os líderes estão sujeitos a uma pressão constante para projetar uma imagem de infalibilidade.

Do ponto de vista económico-financeiro, despedir um treinador de futebol recentemente nomeado num clube da dimensão do Sporting acarreta custos significativos. Concretamente, pode implicar perdas adicionais ou a aplicação de penalizações legais e contratuais, tornando a opção “não fazer nada” mais atrativa no curto prazo. Contudo, essa abordagem pode gerar impactos negativos a longo prazo, como sejam a desvalorização de ativos importantes, como Gyökeres, Pedro Gonçalves e Hjulmand, ou mesmo a perda deste campeonato.

No contexto político, admitir que a nomeação de João Pereira foi um erro pode ser interpretado como um sinal de fragilidade, comprometendo a autoridade de Frederico Varandas perante sócios, claques e adversários. Tal reconhecimento poderá, em última instância, gerar desafios diretos à sua posição enquanto presidente ou culminar na perda de apoio institucional. Assim, a prioridade em preservar a confiança e o controlo tende a sobrepor-se à vontade de corrigir o curso da decisão. Frederico Varandas poderá ainda evitar admitir que errou ao escolher João Pereira devido ao receio de desestabilizar o Sporting, uma vez que uma confissão pública pode desencadear uma crise de confiança e fomentar o descontentamento popular.

Admitir erros publicamente é um desafio significativo, mas pode ser transformado numa oportunidade para demonstrar liderança ética e resiliente. Este processo exige coragem, autoconhecimento e competências de comunicação eficazes. Embora o receio das consequências imediatas seja compreensível, os benefícios de adotar uma postura transparente e responsável tendem a superar os riscos associados. Um líder que evidencia humildade e compromisso com as suas aprendizagens não só preserva a sua integridade, como também reforça a sua posição a longo prazo.

Colunistas

Mais Colunistas

Mais Lidas

Patrocinados