Bernardo Topa perdeu um olho quando estava a festejar o título do Sporting. Foi atingido por uma bala de borracha da polícia. Diz que decidiu contar o que se passou para que não volte acontecer. Porque, diz, já aconteceu antes dele. E acontece com os festejos dos três grandes, afirma. Este é um depoimento na primeira pessoa
Boa tarde. Antes de mais, queria agradecer a oportunidade de estar a contar na primeira pessoa o que aconteceu. O grande objetivo disto é que não se volte a repetir algo que parece já ter acontecido nos últimos anos, nas últimas festas, quer seja de Sporting, Porto ou Benfica. Evitar situações destas no futuro, porque não é normal o que aconteceu.
Eu estava com os meus amigos na zona do Saldanha, depois de ver o jogo, a festejar o título, mesmo antes de o autocarro chegar. Nem cheguei a ver o autocarro, estava toda a gente a abrir engenhos pirotécnicos, fogo de artifício, tochas, potes de fumo. Era um ambiente de festa, como podem ver pelas imagens e como toda a gente falou. Eu não ia ficar perto do autocarro porque no ano passado fiquei e reparei que os agentes, quando passavam a abrir caminho, era a dar com cassetetes com toda a força.
Então a minha ideia este ano era não ficar junto ao autocarro, era ficar um pouco mais longe. Entretanto percebo que, no meio daqueles fumos, sai uma equipa de intervenção com shotguns na mão a disparar para todos os lados.
Não consigo dizer que estava junto ou não de adeptos com engenhos pirotécnicos, porque realmente nestes dias, como é a conquista do campeonato, não vou dizer toda a gente, mas quase toda a gente leva os engenhos. Portanto, eu não consigo garantir à minha volta, mas eu não estava.
Não recebi qualquer aviso, só os comecei a ver a disparar, ouvi, vi-os de longe. E, do nada, pronto.
Estava de frente com certeza. Tenho um metro e noventa e dois, não sei como é que me atingiram no olho, mas foi um tiro certeiro.
Não fui contactado pela PSP. O que aconteceu logo de seguida foi, tal como já saiu nas notícias, saí disparado de lá, fui a correr, encontrei os agentes, que também se assustaram quando me viram, houve enfermeiras também que apareceram e ajudaram-me até a ambulância chegar.
Foi um processo demorado. Depois, fui para o hospital, fui operado e confirmou-se, pronto, a notícia que já toda a gente sabe.
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