opinião
Colunista e comentador

Basta!!! Vamos lá encetar um movimento verdadeiramente nacional contra a vassalagem às claques!

11 dez 2024, 19:56

O Sporting acaba de ser multado pela UEFA em 25 000 € e interdição parcial do seu Estádio (suspensa por 2 anos) pelo comportamento de um sector do seu público, em Bruges, na sequência do arremesso de uma tocha para o relvado.

Independentemente da menor ou maior celeridade da aplicação de sanções (caso a estudar), estamos perante uma situação reincidente que tem penalizado a generalidade das equipas portuguesas nas competições europeias.

É tempo de se acabar com isto!!!

E a melhor forma é jogadores e treinadores deixarem de, no final dos jogos, se dirigirem ao sacrifício perante certo tipo de adeptos.

Apoiar tem de ser uma manifestação voluntária sem contrapartidas.

O agradecimento pode ser feito de outras maneiras e não em torno de um exercício de ignóbil vassalagem.

Chega de dar poder a quem não o deve ter.

Um acordo de regime entre Varandas, Rui Costa e André-Villas Boas é necessário e urgente. Acabem com isso, e já! E colaborem com as autoridades para identificar os agressores! Não há outro caminho.

E por isso valorizei a forma como o treinador do FC Porto se manifestou após os incidentes em Famalicão:

Caro Vítor Bruno,

Quero dar-lhe os parabéns pela atitude que tomou no final do encontro em Famalicão quando afirmou que  seria a última vez que se ia submeter ao juízo colérico de um grupo de adeptos que, em cada jogo, assume o papel de uma espécie de tribunal, preparado para utilizar todo o tipo de sevícias e, seguramente, um ignóbil e inaceitável linchamento moral sobre profissionais.

Compreendo que, até agora, sempre queira ter dado a cara, porque é um homem que não foge às responsabilidades e, por uma questão de carácter, não quer ser acusado de se ter escondido em momentos de menor fulgor da equipa que dirige.

É em momentos de complexidade extrema, a exigir respostas difíceis, que se avalia a coragem de cada qual e bem se sabe que, não apenas no futebol mas também no futebol, posturas corajosas são as que, infelizmente, menos predominam. Repito: infelizmente.

A história do FC Porto, num determinado momento, exigiu coragem. CO-RA-GEM com todas as letras. Em primeiro lugar de um homem que se fez presidente, André Villas-Boas, por ter percepcionado que o FC Porto estava a afundar-se na fórmula de assegurar rendimentos e privilégios a uma elite muito bem remunerada e compensada, na qual se incluía a dinâmica, entretanto desvendada e assumida, do negócio dos bilhetes.

Villas-Boas está agora, como se viu na cerimónia dos Dragões de Ouro, a tentar estancar a hemorragia de um choque ideológico com o FC Porto de Pinto da Costa, que foi demasiado marcante na vida do grande clube portista, num esforço titânico para que as forças resistentes não boicotem o árduo trabalho que esta administração tem entre mãos, mas é de CORAGEM que se continua a falar e, nesse plano, caro Vítor, você está a dar um grande exemplo.

Mesmo com segurança privada, mesmo com a sua família a ser importunada pelos impulsos de franjas e reminiscências de cenas macacas, o que podia fazer-lhe estugar o passo da coragem, você disse o que disse: "Os jogadores não mereciam ouvir o que estavam a ouvir. Foi a primeira e última vez que faço isto. Os jogadores não merecem sofrer o que sofreram no final”.

Sim, CO-RA-GEM.

Outra vez coragem, depois de ter tido a dita cuja ao aceitar o convite do presidente para substituir Sérgio Conceição, convite esse que, segundo sei, o próprio Sérgio Conceição soube da boca de Villas-Boas antes mesmo de lhe ter sido dirigido, o que causou não apenas a fúria do Sérgio mas também a construção de uma visão cabalística que lhe colou à pele o rótulo de traidor.

Seria importante esclarecer este ponto por quem de direito (só Andre-Villas Boas está em condições de o fazer) porque a cruz que o Vítor transporta sobre os ombros tem esse peso acrescido e aumenta a sensação de impopularidade que se desenvolve no seio ou na periferia desse tipo de adeptos em relação à sua pessoa.

BASTA!

Caro Vítor,

Basta! Fez muito bem em dizer basta a situações que protagonizou no pós-jogo de Famalicão.

Sempre me fez muita impressão, e não apenas no FC Porto, também nas hostes de Benfica e Sporting, este espectáculo de submissão de jogadores e treinadores perante grupos mais ou menos organizados de adeptos, com ou sem a proteção oficial dos clubes.

Isso corresponde à falência do processo de organização e gestão dos clubes de futebol.

Viram o que se passou agora com a derrota do Sporting em Moreira de Cónegos?

Vêem o que se passa com adeptos do Benfica (e não só) que ignoram os apelos de não utilização de tochas e outros artefactos pirotécnicos e continuam a fazer aquilo que lhes dá na gana, sem que haja uma medida mais enérgica de não actuação com actos que lesam a imagem e as finanças dos clubes?

Não enxergam que isso corresponde a hipotecar a liderança e a dar poder a quem não o deve ter? Ou enxergam e têm medo das represálias?

Só há um caminho, caro Vítor: fazer o que você disse que não vai voltar a repetir. Não se submeter. Não estar à mercê dos carrascos. E isso não é uma exigência que se coloca ao Vítor, ao André, ao Jorge ou ao Bruno ou agora ao João.

É uma exigência que se coloca aos presidentes, a todos os agentes desportivos, às instituições e às autoridades.

Este País e as nossas Polícias não podem continuar a ser insultados e vilipendiados às portas dos tribunais por 6 ou 7 indivíduos encapuzados sem que nada lhes aconteça. Esta falta de reação e este tipo de submissão não é aceitável num Estado de Direito.

Obrigado, Vítor, pelo seu contributo! E, se lhe servir de algum mínimo conforto, quero dizer-lhe desta tribuna que, pelo menos neste aspecto, não está sozinho.

Que se inicie à volta deste tema um movimento verdadeiramente nacional e aclubístico!

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