Taça: Benfica-Sporting, 1-3 a.p. (crónica)

Sérgio Pereira , no Estádio Nacional
25 mai, 20:13

Espelho meu, espelho meu, há alguma equipa mais forte do que eu?

Dobrada, sentida e bem servida.

Vinte e dois anos depois, o Sporting juntou a Taça de Portugal ao título de campeão, numa daquelas tardes em que foi preciso ir ao fundo da alma buscar todos os restinhos de força para dar a curva quando o destino parecia traçado.

Foi na última jogada que Gyökeres converteu da marca de onze metros o penálti que tornou este dérbi eterno.

Talvez até um pouco mais eterno do que a maioria: mais trinta minutos para a eternidade, para se ser mais preciso. Trinta minutos que passaram num instantinho, entre o golo de Conrad Harder e a entrada em campo de Di Maria, sempre uma ameaça para qualquer baliza.

Mas já lá vamos.

Interessa, antes disso, dizer que o Benfica ficou a um fósforo de ganhar esta final porque chegou mais cedo a ela. Como todos sabemos, quem chega primeiro fica com os melhores lugares e foi isso que os encarnados fizeram: colocaram-se a vencer com toda a justiça.

Afinal de contas, antes do golo de Kökçü - logo no regresso dos balneários -, o Benfica já tinha tido as melhores ocasiões. Incluindo até um remate ao poste de Pavlidis, após defesa de Rui Silva.

O golo encarnado, de resto, foi um bom exemplo de como o Sporting veio para esta final fazer figura de corpo presente: Geny Catamo ficou no chão a queixar-se de falta e não mais se levantou, os companheiros pararam a pensar que o jogo ia ser parado, o Benfica continuou a jogar até à bola chegar a Kökçü, para um remate fulminante de fora da área.

Aliás, como se não bastasse ter sofrido um golo assim, meio adormecido, houve uma repetição logo a seguir: desta vez foi Trincão a ficar no chão e Bruma a marcar. Felizmente para o Sporting, havia mesmo falta de Carreras sobre Trincão e o golo foi anulado.

Estes dois minutos tiveram, porém, o condão de puxar o aristocrata da varanda: o campeão percebeu que não era a olhar de cima que ia ganhar, desceu à rua e foi enfim o Sporting.

Uma equipa mandona, com capacidade de jogar por dentro, em boas triangulações para procurar depois a profundidade. Quase sempre através de Gyokeres, é verdade, parece que não há um plano B neste Sporting, mas ainda assim com mais eficácia do que até então.

Para este crescimento, diga-se, também muito contribuíram as mexidas de Rui Borges. O treinador foi muito feliz: Morita entrou muito bem, Harder entrou muito bem, Quenda entrou também para manter a bitola alta de Geny Catamo.

Em contrapartida, do outro lado nada funcionou. Enquanto Di Maria continuava no banco, a equipa perdia poder de meia distância e capacidade de passe médio ou longo. Para piorar, Renato Sanches entrou e cometeu a falta sobre Gyokeres, que virou o jogo do avesso.

Harder e Trincão voltaram, depois, a marcar no prolongamento, deram ao resultado uma expressão talvez exagerada, mas acima de tudo cumpriram o essencial: vinte e dois anos depois o Sporting juntou a Taça de Portugal ao título de campeão e conquistou a dobradinha.

O resto é história: o leão perguntou ao espelho se havia alguma equipa mais forte do que ele e saiu para a festa.

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