Confusão na sala de VAR travou cartão vermelho a Matheus Reis

12 jul, 11:29
Matheus Reis na final da Taça (Maciej Rogowski/Eurasia Sport Images/Getty Images)

Tiago Martins e um videoárbitro assistente não estavam de acordo e acabaram por não avisar o árbitro do pisão na cabeça de Belotti

O Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol revelou, no acórdão da condenação de Matheus Reis a uma suspensão de quatro jogos (mais um pelo cântico no final do jogo), por que  razão a equipa de vídeoarbitragem não sancionou disciplinarmente o brasileiro.

No fundo, na sala de VAR não houve entendimento entre o VAR Tiago Martins principal e um dos AVAR assistentes, acabando por se deixar seguir sem sanção o pisão na cabeça de Belotti.

De acordo com o relatório, o lance não foi corretamente percecionado pela equipa de arbitragem em campo: nenhum deles (árbitro principal, árbitros assistentes e quarta árbitra) avaliou o incidente na totalidade, nem tomou qualquer decisão disciplinar. O caso ficou, assim, nas mãos do VAR.

Ora a gravação da comunicação na sala de videoarbitragem mostra que o VAR Tiago Martins detetou o pisão e considerou que havia lugar à expulsão, mas acabou por recuar depois de uma troca confusa de interpretações com os seus assistentes.

O diálogo de toda a confusão na sala de VAR

Na base da confusão esteve uma questão técnica: o jogo já tinha sido interrompido e reiniciado, ou não?

  • Durante o diálogo, o VAR Tiago Martins começa por dizer coisas como «siga» e «foi sem querer», mas pouco depois acrescenta: «Quero rever noutro ângulo». Depois de ver de outro ângulo, atira que «isto é vermelho, isto é vermelho, eu vou chamar».
     
  • Na transcrição do diálogo, percebe-se que o primeiro AVAR assistente, Vasco Santos, concorda com o VAR princicipal. «Para mim é vermelho», refere.
     
  • É nessa altura que o segundo AVAR, Sérgio Jesus, diz que «o jogo recomeçou».
     
  • «O jogo está interrompido, é conduta violenta», insiste o primeiro AVAR, concordando que se deve chamar o árbitro Luís Godinho.
     
  • «Mas o jogo já tinha recomeçado, não podes intervir», refere o segundo AVAR.
     
  • «Foi com o jogo parado... mas é conduta violenta», atira o primeiro AVAR.
     
  • O VAR Tiago Martins diz então que vai intervir. «Eu vou chamar, mete lá as imagens, isto é conduta violenta.»
     
  • O segundo AVAR, Sérgio Jesus, mantém-se irredutível. «Entretanto, recomeçou», refere.
     
  • «É conduta violenta na mesma, a bola não está lá, é pisão na cabeça», insiste Tiago Martins. Passados alguns segundos, porém, desiste de discutir. «Ok, tudo bem, vá, siga.»

Segundo AVAR admite por email que se enganou

Apesar de duas opiniões favoráveis à amostragem de cartão vermelho, a dúvida alimentada pelo segundo AVAR Sérgio Jesus sobre se o jogo já tinha recomeçado acabou por levar o VAR a abdicar de intervir, temendo um erro técnico.

Mais tarde, os próprios intervenientes vieram reconhecer o erro. O segundo AVAR explicou, por email:

«Considerei erradamente que se tratava de uma falta grosseira e, como o jogo já se tinha reiniciado, não se podia intervir. Esse erro pode ter influenciado a decisão final do VAR de não intervir.»

O próprio VAR confessou, noutro email, que a confusão gerada pelas diferentes interpretações dentro da equipa o levou a manter-se em silêncio, mesmo depois de concluir que o pisão de Matheus Reis justificava a expulsão:

«Com as diversas interpretações da equipa VAR, gerou-se uma dúvida sobre se estávamos perante conduta violenta ou falta grosseira. Como o jogo já tinha recomeçado, e havia o risco de erro técnico, decidimos não intervir.»

Conclusão do Conselho de Disciplina: o silêncio do VAR não é decisão final

O Conselho de Disciplina considera que não existiu uma decisão final da equipa de arbitragem, nem em campo nem na sala de VAR, e que por isso podia intervir e punir Matheus Reis com uma pesada sanção, como veio a acontecer.

Segundo o Conselho de Disciplinar, o silêncio do VAR não pode ser interpretado como uma decisão deliberada de não punir, o que abre espaço para que o lance seja alvo de análise disciplinar posterior.

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