Sophia Kianni, a ativista climática que também defende o direito a "usar uma roupa gira"

23 nov 2022, 12:24
Sophia Kianni na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, a 9 de novembro de 2022. Sean Gallup/Getty Images)

A mais jovem conselheira climática da ONU foi criticada pela escolha do fato que usou na Cimeira do Clima

O movimento contra as alterações climáticas cada vez mais é encabeçado por rostos jovens. A expressão desafiante e as tranças aprumadas de Greta Thunberg celebrizaram-se quando tinha apenas 15 anos, mas a sueca está longe de ser a única jovem a tentar mudar o mundo. 

Em 2020, Sophia Kianni fez história nas Nações Unidas como a mais jovem conselheira climática da organização. A iraniana-americana estuda Ciência Climática e Política de Saúde na prestigiada Universidade Stanford e é fundadora da Climate Cardinals, uma organização sem fins lucrativos que pretende disponibilizar informação sobre a crise climática e que já dinamizou nove mil voluntários em mais de 41 países - e tudo isto antes de completar os seus atuais 20 anos. 

Mas a jovem tem sido notícia por mais do que o seu ativismo precoce. Sophia marcou presença na última Cimeira do Clima (COP27), onde teceu duras críticas à inação de "alguns" líderes mundiais que "dizem uma coisa e fazem outra". "Parem de mentir", disse, em inglês, antes de o repetir nas outras cinco línguas oficiais das Nações Unidas: árabe, chinês, francês, russo e espanhol. Não foi este discurso que se tornou viral - foram as fotos que tirou junto a António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, em que se apresentou com um top azul e uma minissaia turquesa. 

Não é a primeira vez que a ativista publica fotos com roupa descontraída, ou que alguns consideram apenas desadequada à ocasião. A sua presença online é semelhante à de tantas influenciadoras da sua idade: fotos com amigas, momentos de lazer, poses estudadas e face imaculadamente maquilhada. A diferença é que estas pequenas partilhas de fragmentos do dia a dia vão sendo acompanhadas por mensagens relacionadas com ativismo climático - como é evidente numa foto publicada na segunda-feira, em que Sophia posa numa rua da Índia com um sorriso e sacos de compras. "A poluição do ar está a cortar dez anos da esperança média de vida em Deli, a cidade mais populosa do mundo", escreve na descrição.

A roupa escolhida para se apresentar na Cimeira do Clima parece, porém, ter desapontado os seguidores. Multiplicaram-se os comentários de desagrado: "é inapropriado", "que mau gosto", "se queres ser levada a sério e que ouçam a tua mensagem, segue o dress code". Mas a iraniana-americana insiste que a forma como se apresenta não afeta, de modo algum, a mensagem que pretende transmitir. "Podes ser conselheira das Nações Unidas e ainda assim usar uma roupa gira! #GenZ", publicou no Twitter, em conjunto com a foto no centro da polémica. 

A hashtag com o grupo geracional a que pertence não é mera decoração. É uma referência à estratégia que tenta seguir: manter-se firme na sua campanha ativista, mas sempre apelando à geração dos "cute outfits" e das redes sociais. Mais do que palestras e campanhas de sensibilização, é através do Instagram e do TikTok que se chega aos mais jovens - e Sophia sabe-o. 

"É isto o que nos diferencia. O que nos torna totalmente únicos e capazes de mobilizar mudanças sociais, como nenhuma outra geração, é estarmos confortáveis com as redes sociais", explicou, numa entrevista com a Vogue, citando as "Sextas-feiras pelo Futuro" de Greta Thunberg como um movimento que adquiriu relevo a nível global graças às inúmeras partilhas no Instagram. 

Na mesma entrevista, Sophia explica que o truque é "ser autêntica" e manter-se fiel aos ideais que tenta transmitir, mas esforçando-se sempre por "fazê-lo dentro dos limites dos trends" vigentes. A música escolhida para o vídeo, por exemplo, deve ser aquela que mais utilizadores estão a ouvir naquele momento, para gerar um maior engajamento e permitir que a mensagem seja, pelo menos, ouvida - e, na melhor das hipóteses, assimilada. 

E deixa uma mensagem aos jovens que querem fazer a diferença nas suas comunidades: conciliar o ativismo com uma forte presença na Internet. "Usem o Instagram, usem o LinkedIn, usem o Twitter, usem o TikTok, e tentem simplesmente alcançar o máximo possível de pessoas. É este o futuro das organizações." A polémica da foto com António Guterres parece ter resultado, neste sentido. É um dos tweets recentes mais populares da jovem, contando com 2.456 likes no momento da publicação deste artigo (uma outra partilha sobre o Irão ficou-se pelas duas centenas). 

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