Tracking Poll. Muitos dos que votaram AD estão hoje indecisos. PS cai nos jovens e Chega nos mais velhos

13 mai, 07:00
Luis Montenegro André Ventura Pedro Nuno Santos

Análise à primeira semana de campanha mostra que a AD tem um grande apoio entre o eleitorado do sexo feminino, mas a registar descidas acentuadas nas classes mais baixas. PS cresce no eleitorado mais idoso, mas perde no mais jovem, uma situação inversa à do Chega

Chega ganha nos jovens e perde nos mais velhos, PS perde nos jovens e ganha nos mais velhos, AD a perder muito eleitorado para a indecisão. Uma semana depois de a CNN Portugal ter lançado a Tracking Poll, a sondagem que tem permitido compreender diariamente as intenções de voto dos portugueses, há vários elementos que permitem perceber em que eleitores e em que regiões os partidos estão em erosão ou a avançar a toda a velocidade. 

Para já, há um claro favorito: a AD alcançou uma média com distribuição de indecisos de 34,26%, com Luís Montenegro a conseguir uma distância bastante larga do PS que, entre 1 e 12 de maio, alcançou uma média de 26,94% nas preferências de quem respondeu ao inquérito feito pela Pitagórica para a CNN Portugal. 

Já o partido de André Ventura registou uma média nas intenções de voto de 16,23%, sendo que atingiu o seu pico nas últimas 24 horas, alcançando os 18% registados nas legislativas do ano passado.

A Iniciativa Liberal apresenta, por sua vez, uma média de 6,78% e uma tendência muito oscilante. O partido de Rui Rocha entrou bem na campanha, tendo alcançado um pico de 7,8% este mês, mas veio a diminuir constantemente até chegar aos 5,6% no sábado, conseguindo uma leve recuperação na última medição (6,9%), na segunda-feira, um dia após ter sido alvo de um ataque com pó verde durante um comício em Lisboa.

O início da segunda semana de campanha foi também marcado por várias sugestões de que liberais e AD podem vir a acordar uma coligação pré-eleitoral, tendo até Rui Rocha revelado que foi abordado por “lideranças” do partido de Montenegro para uma eventual união antes do início da campanha. Se juntarmos as médias entre AD e IL nestes 12 dias, o resultado seria 41,04% - muito próximo dos 41,38% que levaram à maioria absoluta de António Costa contra Rui Rio em 2022. 

Esta última maioria absoluta do PS, a menor de sempre, seria mesmo ultrapassável se à AD e à IL se juntasse o PAN, que obtém uma média nas intenções de voto de 0,91%. Em 2023, foi o partido de Inês de Sousa Real que deu a mão a Miguel Albuquerque na Madeira, com um acordo de incidência parlamentar que, ainda que breve, permitiu desbloquear o governo PSD/CDS na ilha.

Já a média das intenções de voto em toda a esquerda, incluindo PAN, apenas consegue chegar aos 37,63%. Da última vez que existiu uma frente de esquerda a governar Portugal, a Geringonça em 2015, PS, Bloco e CDU tinham alcançado 50,75% dos votos. Com os resultados desta primeira semana de tracking poll, os mesmos partidos não iam, em média, além dos 32,49%.

AD com grande apoio entre mulheres e a perder tração junto da classe média

Luís Montenegro com Ana Paula Martins em campanha em Vila Real (LUSA/MIGUEL A. LOPES)

Ao longo da última semana, tornou-se cada vez mais claro o crescimento das intenções de voto na AD entre as mulheres. Essa tendência oscilou inicialmente entre os 30 e os 32%, tendo estabilizado numa média de 30,7%. O pico ocorreu no dia 5 de maio com 33% - 24 horas após o dia da mãe, que foi assinalado pelo primeiro-ministro incumbente em Bragança, no arranque oficial da campanha. Naquele distrito, Montenegro tentou passar a mensagem de que um voto no seu partido é um voto num trabalho “que dá esperança aos jovens para não terem de emigrar à procura de um futuro melhor”. Já entre os homens o apoio tem vindo a cair de 29% para os 24% registados esta segunda-feira, igualando o dia em que teve o pior resultado junto dos eleitores homens: o mesmo 5 de maio em que se deu o pico de intenções de voto por parte do eleitorado feminino.

Já entre as faixas etárias, os dados refletem que o apoio mais sustentado da AD vem dos eleitores com 55 ou mais anos, ainda que esta segunda-feira tenha sofrido a sua maior queda, passando dos 34% para os 29%. De resto, as intenções de voto têm oscilado entre os 38 e os 29%. O dia em que a AD conseguiu o melhor resultado desta base eleitoral foi a 8 de maio, quando teve início a paralisação total dos comboios da CP e o primeiro-ministro admitiu mexer na lei da greve, que atribuiu a “influências políticas, partidárias e eleitorais”. 

Foi também neste primeiro dia de greve que os jovens afetaram mais a coligação, fazendo cair a intenção de voto para os 18%, o segundo valor mais baixo desde o início da Tracking Poll. O apoio na faixa etária entre os 18 e os 34 anos tem sido bastante volátil, atingindo mínimos de 17% (9 de maio) e máximos de 24% (2 e 3 de maio). 

Em termos regionais, as intenções de voto na AD têm sido mais fortes a Norte, registando uma média de 31,92%, e mais fracas em Lisboa, com uma média de 22%. Já no Centro (28%), Sul e Ilhas (30,92%) têm-se mantido estáveis. 

Também o apoio entre as classes mais altas tem sido relativamente constante, variando entre 29 e 32%, sem grandes oscilações, o que pode sugerir uma base de apoio mais sólida. Já na classe média tem existido uma diminuição progressiva, que fez cair as intenções de voto dos 30% no início do mês para os 25% desta segunda-feira. É, no entanto, nas classes mais baixas que a AD tem sofrido quedas mais acentuadas - dos 26% (5 de maio) para os 22% (6 de maio) -, com uma ligeira recuperação nos últimos dias para os 28% (11 de maio) antes de cair novamente para os 24%.

PS cresce a Sul, mas perde voto dos jovens

Pedro Nuno Santos na Figueira da Foz (José Sena Goulão / Lusa)

À semelhança da AD, também Pedro Nuno Santos começou o mês a registar intenções de voto muito mais fortes entre as mulheres (26% a 1 de maio) do que nos homens (22% a 1 de maio), mas à medida que o tempo foi passando este indicador começou a cair, encontrando-se agora praticamente em convergência, o que pode indicar uma perda de tração junto do eleitorado feminino. Na segunda-feira, as intenções de voto de mulheres correspondiam a 21%, o mesmo que os homens.

O pico em ambos os casos deu-se nos primeiros três dias de maio antes do início formal da campanha eleitoral e quando Pedro Nuno Santos apostou na responsabilização de Montenegro pela dissolução da Assembleia da República. “Quando o país, os partidos políticos, a comunicação social, aquilo que exigiam eram esclarecimentos, Luís Montenegro preferiu chantagear o Parlamento e preferiu eleições antecipadas a dar os esclarecimentos que são devidos e que são devidamente exigidos pelo povo português”, reiterou num comício pré-eleitoral em Aveiro. 

O eleitorado mais velho com 55 ou mais anos tem permanecido como a faixa mais fiel, mas há sinais de desgaste: até ao dia 6 de maio, as intenções de voto deste grupo apontavam para uma média de 32%, contabilizando o período em que Pedro Nuno ensaiou o ataque contra Montenegro por ter “nomeado um grupo de trabalho para a privatização da Segurança Social” no frente a frente entre os dois candidatos e do reforço desse mesmo ataque na semana passada: "O PS não precisa, como a AD, de pôr uma máscara para enganar os pensionistas. Os nossos mais velhos sabem que podem confiar no PS." 

Porém, de 6 a 12 de maio, registou uma queda para os 29,7% naquele grupo. Mas a queda mais acentuada é mesmo na faixa etária mais jovem. As intenções de voto no PS de quem tem entre 18 e 34 anos desceram mais de 13 pontos percentuais em 24 horas (a 1 de maio eram 23% e no dia a seguir eram 10%) e nunca mais voltaram a crescer expressivamente, fixando-se numa média de 11,7%. A descida mais abrupta acontece no dia 7 de maio, início da greve da CP e marcado por discursos à volta do tema das pensões e do reforço do SNS. 

A maior parte das intenções de voto no PS surgem também do eleitorado que mora no Centro do país, com uma média de 24,8%. Na região de Lisboa, a média está nos 22,1%, mas Pedro Nuno Santos tem vindo a cair nas intenções, chegando a descer 8 pontos entre 1 (26%) e 12 de maio (18%). Inversamente, o PS apresentava uma tendência de crescimento no Sul - onde Pedro Nuno prometeu derrotar o Chega - e nas ilhas, crescendo de 21 para 27% no domingo antes de cair para os 23% (a média nesta região está nos 22,25%). O Norte continua a ser a maior dificuldade para os socialistas: com uma média de intenção de voto na ordem dos 21%.

É entre as classes mais baixas que está o apoio mais consistente a Pedro Nuno Santos que consegue uma média nas intenções de voto de 28,7%. A base de apoio na classe média não tem igualmente sofrido muitas oscilações, posicionando-se, em média, nos 20,7%. O maior desafio reside no voto das classes mais altas que não vai, em média, além dos 17,5%.

Jovens dão motor ao Chega, pensionistas travam crescimento

André Ventura recebe apoiantes durante campanha eleitoral / Lusa

No período em análise, o apoio ao Chega tem sido consistentemente mais alto entre homens (14% a 18%) do que entre mulheres (10% a 12%). Ainda que mais baixo, as intenções de voto do eleitorado feminino têm flutuado menos, mantendo-se próximas dos 12% entre 2 e 9 de maio. 

No que concerne às faixas etárias, o Chega demarca-se do PS e da AD com um grande apoio dos jovens que perfazem a maior parte das intenções de voto no partido de André Ventura e que chegam, em média, aos 17,5%, tendo registado um pico a 10 de maio, dia em que, como no anterior, a comitiva do Chega deparou-se com protestos da comunidade cigana. Inversamente, a fatia do eleitorado com mais de 55 anos que tem intenção de votar no Chega é muito menor do que nos outros partidos analisados, tendo valores entre 6% e 9%.

Há um ano o Chega foi um dos protagonista da noite ao conquistar o círculo eleitoral de Faro. No Sul, mas também nas ilhas, o Chega tem registado um aumento gradual de 12% (1 de maio) para 20% na segunda-feira, situando-se, em média, nos 15%. O Centro é a segunda região com maior intenção de voto, estabilizando nos 13,8%. Já em Lisboa, o mesmo indicador tem-se fixado, em média, nos 13,3%, com a maior descida a acontecer no período entre 7 de maio (16%) e 10 de maio (11%). Já a Norte, as intenções de voto não vão, em média, além dos 11%.

Na mesma linha, a maior parte do apoio ao Chega tem vindo ou da classe média, que ronda os 13-20%, ou das classes mais baixas que, desde o início de maio, tem variado entre os 15 e os 20%. Por outro lado, o apoio é consistentemente mais baixo nas classes mais altas, caindo até aos 8% e subindo não mais do que 11%. 

Quem está a roubar votos a quem?

Os dados da Tracking Poll até esta segunda-feira revelam ainda um padrão de transferência de intenções de votos que tanto beneficia a AD como a prejudica.

Comecemos pelas boas notícias para Montenegro: a análise mostra que a coligação PSD/CDS é a que mais beneficia com as trocas de apoio, especialmente com transferências significativas do PS e do Chega. A AD ganha 0,7% de intenções de voto do PS e 1,6% do Chega. Além disso, a AD também obtém votos da IL (1%) e do PAN (0,1%), o que fortalece ainda mais a sua posição.

Por outro lado, os eleitores que escolheram a AD nas legislativas do ano passado representam o maior grupo de indecisos neste momento. De acordo com os dados, 9,5% dos eleitores que dizem ter apoiado Luís Montenegro no ano passado ainda não têm uma posição clara sobre o seu voto nas próximas eleições.

Já o PS perde votos para vários partidos, destacando-se a perda de 0,9% para a AD, 0,8% para o Chega e 0,2% para a IL. O Chega também beneficia da transferência de votos, ganhando 1,2% da AD, 0,3% da IL e 0,1% do BE. 

A Iniciativa Liberal, por sua vez, apresenta uma dinâmica mais instável, ganhando 0,9% da AD e 0,1% do Chega, mas perdendo 1% para a AD, 0,3% para o Chega e 0,1% para o PS.

O Bloco de Esquerda apresenta uma transferência de votos para o PS (0,4%), para a AD (0,2%) e para o Livre (0,2%), enquanto o PAN perde para a AD (0,1%), o Chega (0,1%), a CDU (0,1%) e o Bloco (0,2%). O Livre, por sua vez, perde votos para o PS (0,7%) e para o PAN (0,1%).

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