"Eu tenho seis filhos e está é única forma de ter comida"
Os habitantes da Somália recorrem a medidas cada vez mais desesperadas para sobreviverem à fome. Segundo um artigo originalmente publicado no The New Humanitarian e reproduzido pelo El País, há registo de casos em que que mães acreditam não ter outra opção a não ser envenenar os filhos para assim conseguirem comida gratuita nos centros de saúde enquanto as crianças são tratadas
"Eu tenho seis filhos e está é única forma de ter comida", diz Maceeey Shute, uma mãe somali citada no artigo. Deu aos filhos água com detergente ou sal para ficarem com diarreia e poder lavá-los ao centro de saúde. Uma vez lá, os menores recebem biscoitos e papas enriquecidas com nutrientes - e os restos são guardado para a família ou para vender.
O governo, a ONU e outras instituições de ajuda humanitária não conseguem responder à escassez de recursos provocada pela seca. Em muitas cidades da Somália não foi prestada qualquer ajuda humanitária, segundo o artigo, e as pessoas procuram soluções para sobreviver - mesmo se isso colocar em risco a saúde e a segurança das crianças.
A diretora do Programa Alimentar da ONU, Cindy McCain, apelou no Twitter para a necessidade de se lutar urgentemente contra a fome na Somália. Pede um esforço mundial e questiona: "Quantos mais têm de morrer?".
What I have seen in #Somalia is heartbreaking and unacceptable.
— Cindy McCain (@WFPChief) May 6, 2023
Conflict & drought are devastating millions of lives. 6.5 million people face extreme hunger. Nearly 500k children are at risk of dying right now.
We cannot turn our backs on the Somali people. Lives are at stake. pic.twitter.com/YsjCyMMdRu
Alugar os filhos, outro método extremo
Na capital da Somália, Mogadíscio, existem pais que alugam os seus filhos a pedintes, para depois partilharem os lucros. Amino Ikar Hilowl mendigava pela capital sozinha e tinha dificuldade em encontrar quem a ajudasse até alugar uma criança: "Quando peço esmola com o bebé às costas as pessoas têm pena de mim".
O The New Humanitarian falou com Shumey Abukar, uma mãe que aluga dois dos seus quatro filhos a pedintes em troca de cinco dólares. "Às vezes sinto-me culpada. Mas não tenho escolha porque tenho de os alimentar e não tenho quaisquer qualificações que me ajudem a arranjar emprego." Shumey revela ainda que confia na pedinte a quem aluga os filhos.
Várias famílias decidem ainda casar as filhas menores com homens mais velhos. Uma adolescente de 15 anos, Maryan Shute, contou ao jornal a sua experiência de casamento forçado: "O meu pai disse-me que tinha de casar com este homem mais velho. Disse-me que isso iria melhorar a vida da nossa família porque podíamos ficar no campo de graça e receber mais ajuda. Mas estou casada há dois meses e as nossas vidas pouco melhoraram."