Darwin Núñez

15 set 2022, 18:07
Darwin Núñez no Liverpool

«Quem é que defende?», o espaço de opinião de Sofia Oliveira no Maisfutebol

A ditadura resultadista, diz-se por aí à boca cheia, é o elixir do crescimento qualitativo de uma equipa. A afirmação, já de si bizarra quando enfiada num discurso onde também cabe a antagónica deixa de que a diferença entre a vitória e a derrota pode estar na bola que bate no poste, não esclarece nada sobre futebol. Isto não se torna claro nem para um povo que recorre quase semanalmente à triste sina da maioria dos treinadores da Liga Portuguesa para apontar graves problemas estruturais de um dirigismo que se baba pelo imediatismo inócuo – não sei se algum presidente já ligou ao Lito Vidigal, hoje. Se essa malta que por aí anda a comer o pão que o diabo amassou não escolher, primeiro, como é que as suas equipas querem perder ao invés de como é que as suas equipas querem ganhar, receio que pouco ou nada irão crescer. Ninguém precisa de ter completado os níveis de treinador ou de já ter ganhado títulos em quatro campeonatos diferentes para chegar à brilhante conclusão de que as vitórias ajudam emocionalmente e quiçá no convencimento de uma ideia de jogo – ainda que o segundo ponto seja um tanto ou quanto relativo, porque se há hobby em que nos especializámos, esse é o de aplicarmos ordens com as quais não concordamos para recebermos o nosso ao final do mês. Spoil: os jogadores de futebol são seres humanos.

As amostras de Sporting e Benfica na Liga dos Campeões não servem para congratular a equipa de Rúben Amorim pela aclamada capacidade de sofrimento – termo popular e fofinho que veio substituir o mais sóbrio «nem sabes como é que não sofreste» – no início da segunda-parte, nem a equipa de Roger Schmidt pela bola de Moise Kean ao poste da baliza de Vlachodimos aos 71 minutos, que de certeza que também há quem ache que foi estrategicamente preparada pelo técnico alemão. Não. Servem para dar razão a Rúben Amorim quando tentou explicar que a primeira-parte do Sporting frente ao Chaves fora muito boa, se não a melhor da época, além de representar óbvios indicadores de melhoramento colectivo, pese embora a derrota no final; e servem para dar razão a Roger Schmidt, que ainda não sabe perder, mas já passou por dificuldades durante vários jogos, quando tentou explicar que a sua equipa estará mais próxima do sucesso quanto menos vezes se afastar dos seus hábitos, pese embora o número de jogadores que coloca no processo ofensivo faça tremer das perninhas os fãs dos equilíbrios, muito lestos a apresentar as jogadas em que os adversários do Benfica conduzem com perigo quando são capazes de ultrapassar a primeira fase de reação à perda.

Quem guarda pedras para atirar àqueles que analisam o futebol ignorando os números esquece-se do quão patetas seriam as conversas entre duas pessoas que estivessem a elogiar «os belos primeiros 45 minutos do Chaves em Alvalade, que nem respirou entre sucessivos ataques do Sporting ou praticamente pisou o meio-campo ofensivo, valendo-lhe, sobretudo, a desinspiração dos adversários na hora de definir ou finalizar no último terço. Valentes rapazes, carregados de tonturas por se permitirem andar aos papéis devido à mobilidade dos três homens da frente do ataque leonino, sem esquecer a competência dos postes da baliza de Paulo Vítor» – Vítor Campelos teria saído do Dragão com outro resultado se tivesse tido metade da sorte que teve em Lisboa. «E aquele Famalicão? Muito abnegado defensivamente, ainda que não se fartando de permitir ocasiões de golo ao Benfica. Tudo contemplado, certamente. Só não empataram porque o conjunto de Rui Silva foi incapaz de criar uma clara ocasião de golo, mas isso também foi um pormenor. Quem sabe se, num pontapé de baliza, o Vlachodimos não se lembra de marcar na própria». Quão patetas seriam as conversas entre duas pessoas que leram apenas o título deste texto.

A ver se me lembro de pedir à minha avó Maria para me dar os resultados dos próximos jogos do campeonato. Poupo o tempo que passo em frente à televisão para propor uma lei sobre a possível proibição de entrar com camisolas de futebol no Jardim Zoológico, não vá algum encontro entre adeptos rivais importunar o bom funcionamento daquele pacifico estabelecimento.

«Quem é que defende?» é um espaço de opinião de Sofia Oliveira no Maisfutebol. A autora escreve pelo acordo ortográfico antigo

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