Souberam tirar partido do mundo da fama, da vontade dos outros estarem perto delas, para levar os seus planos em frente. Mas o brilho cedo terminou. Em três delas, atrás das grades. A outra foi apenas um projeto escolar, para mostrar como o mundo se deixa deslumbrar.
Anna
A vida dela deu, literalmente, uma série. Anna Sorokin é a prova viva de que o lema “Fake it Until You Make It” [fingir até conseguir, em português] pode funcionar – até determinado ponto. Quando, em 2014, chegou a Nova Iorque, fez questão de se integrar o mais possível na cena social. Era apaixonada por moda e arte, mas isso não bastava para abrir portas. Anna apresentou-se como Anna Delvey, herdeira de uma fortuna sedeada na Alemanha. Uma fortuna que não existia.
Com esse argumento, mas também com documentos falsos, conseguiu comprar roupas de luxo e viver a pular entre hotéis exclusivos, dando gorjetas muito chorudas. Quando lhe pediam para pagar, ela argumentava que teria havido um problema no banco. E lá conseguia ir arrastando a mentira. Anna chegou mesmo a contratar um jato privado.
Mas o seu sonho era outro: abrir em Manhattan um clube dedicado à arte, exclusivo para membros. E quase conseguiu, pedindo um empréstimo de 22 milhões de dólares, com recurso a falsas declarações. Na hora de enfrentar a Justiça, acabou por não ser condenada por esta acusação. Nem por ter roubado 60 mil euros a uma amiga, prometendo-lhe que lhe pagaria a despesas de uma viagem de luxo a Marrocos.
Anna, que nasceu na Rússia e cresceu na Alemanha, soube tirar partido da sua influência, do facto de os outros querem estar ao pé dela. E, à custa disso, conseguiu roubar pelo menos 275 mil dólares a empresários, socialites e hotéis. Criou até falsos contactos, para que os envolvidos falassem com o seu consultor financeiro, que lhes garantia que tudo seria pago mal fosse possível. Era ela, com um software de transformação de voz.
Em fevereiro de 2021, após três anos de cadeia, foi libertada por bom comportamento. Mas logo acabou detida novamente, desta feita num centro para imigrantes ilegais, já que o prazo do seu visto tinha sido largamente ultrapassado. E, agora, o que é feito de Anna? Está em prisão domiciliária num apartamento que arrendou em Nova Iorque. Com o dinheiro que a Netflix lhe pagou para usar a sua história numa série, saldou as dívidas.
Anna quer, a todo o custo, evitar a extradição. Assim como quer muito voltar a integrar-se na cena nova-iorquina. Se ela, com pulseira eletrónica, não pode sair de casa, o mundo vem até ela. Segundo a imprensa norte-americana, a jovem está a promover jantares exclusivos no seu apartamento. E tem ainda outra fonte de rendimento: os desenhos que fez enquanto esteve na prisão.
Angela
A história desta fraude passa por Portugal. E, quando ler o apelido da protagonista, vai perceber porquê: Gulbenkian. Angela Gulbenkian é casada com um sobrinho-bisneto de Calouste Gulbenkian. E foi condenada, em julho de 2021, a três anos e meio de prisão.
Isto porque a alemã mediou a compra, por cerca de 1,2 milhões de euros, de uma escultura da artista japonesa Yayoi Kusama. Angela recebeu o dinheiro do comprador mas nunca chegou a entregar a obra com forma de uma abóbora.
Foi o apelido Gulbenkian que deu confiança ao comprador para avançar com o negócio. Numa entrevista, Angela garantia que não tinha qualquer ligação com a Fundação Calouste Gulbenkian. Mas não era isso que acontecia nos bastidores: a mulher tirava partido do apelido e recorria a nomes e emails falsos para forçar uma ligação à instituição. Nas redes sociais, fotograva-se em feiras de arte e junto de artistas reconhecidos mundialmente, como Ai Weiwei.
Angela Gulbenkian dizia querer começar uma nova vida em Portugal, para conhecer o passado do marido. Chegou mesmo a admitir que, se um dia colaborasse com a Fundação Calouste Gulbenkian, gostaria de instalar uma abóbora de Kusama nos jardins da mesma. A mesma abóbora que pôs tudo a perder.
Angela fugiu como pôde à justiça, faltando a várias sessões em tribunal no Reino Unido. Em junho de 2020, acabaria detida em Portugal pela Polícia Judiciária, ao abrigo de um mandato europeu de detenção. Com o dinheiro da obra, a alemã pagou, entre outras despesas, um jato privado e um relógio Rolex.
Zou
A Zou Yaqi bastou uma mala Hermès falsa para viver durante 21 dias em Pequim sem ter de pagar nada. Mas atenção, esta jovem não é uma burlona. Antes uma estudante de Arte que, no seu projeto de graduação, quis mostrar como a sociedade tende a premiar aqueles que mais têm.
Zou passeou-se por hotéis de luxo, usou salas VIP e experimentou joias caras. Para comer, recorria às amostras promocionais dadas por cadeias de restaurantes. “É interessante como estes produtos são distribuídos. Normalmente são dados a pessoas que já aparentam ser suficientemente ricas”, contou.
A experiência ficou toda gravada em vídeo, que acabou divulgado nas redes sociais. Zou Yaqi, que ficou conhecida como “fake socialite”, recebeu reações extremas. Se houve quem a criticasse, houve também quem reconhece o propósito do projeto: mostrar como uma sociedade movida pelo dinheiro se deixa enganar pelas aparências e procura chamar a atenção daqueles que mais têm potencial para comprar algo – acenando-lhes, precisamente, com coisas grátis.
“Apesar de ser pobre, consegui entrar no mundo dos ricos e ganhar coisas grátis”. Uma lição de que, aos olhos dos outros, muitas vezes não é preciso ser. Basta parecer.
Dina Wein-Reis
Dina Wein-Reis voltou a ser notícia este ano, quando colocou à venda a mansão que tem no Upper West Side, em Nova Iorque, avaliada em 65 milhões de dólares. E a casa é uma parte fundamental para perceber a história desta mulher: aí recebeu muitos presidentes e administradores de empresas, em jantares privados, com o argumento de que estava a avaliar os seus perfis para vagas de emprego.
Wein-Reis acumulou uma fortuna na ordem dos 100 milhões de dólares, uma coleção de arte avaliada em 35 milhões e seis casas. Um retrato muito distante do seu começo humilde no bairro de Brooklyn. E como conseguiu tudo isto? Enganando os outros.
A “socialite” solicitava produtos a grandes empresas. Conseguia grandes descontos – na ordem dos 85% - porque argumentava que seriam usados como amostras ou pacotes promocionais, destinando-se a uma rede “exclusiva” de distribuição que chegava a retalhistas de difícil acesso, assim como a instituições.
Só que ela acaba por vender esses mesmos produtos ao preço original, com um grande lucro. A acusação deu conta que enganou 54 empresas em 18 estados. Foi condenada a 19 meses de prisão. Em 2014, saiu da cadeia. Mas foi também condenada a restituir sete milhões de dólares, a que se juntou outro milhão em multas. Por isso, no ano passado, segundo a imprensa norte-americana, terá pago a um antigo procurador federal para que fizesse pressão para que esta parte da pena fosse perdoada pelo presidente, à altura Donald Trump.