E você onde estava pelas 05:11 de 26/08/2024? Marcelo estava "num começo de semana normal" (a história do sismo e da comunicação no Facebook)

26 ago, 14:32

Há décadas que o território continental não passava por isto: um abalo sentido em quase todo o território pôs o país a pensar se estava num pesadelo ou num sismo

Portugal acordou esta segunda-feira com um forte sismo de magnitude 5,3 na escala de Richter. Não há registos de um sismo tão forte em território continental desde 1969. O epicentro foi registado às 05:11 ao largo de Sines e foi sentido em várias zonas do país, sobretudo no litoral do distrito de Setúbal e na zona do rio Tejo - em Lisboa até Cascais.

Várias pessoas relatam ter acordado nesse momento, mas admitem que só mais tarde é que se aperceberam de que se tratou de um sismo. A CNN Portugal estava em direto no momento em que se deu o sismo, com o programa CNN Novo Dia: o estúdio tremeu e os focos de luz abanaram, obrigando a entrada de técnicos para verificar a integridade do local e as condições para prosseguir com a emissão.

Após o sismo foram registadas pelo menos quatro réplicas de “pequena magnitude” - 1,2; 1,1; 0,9 e 1,0, especificamente - “não tendo nenhuma delas sido sentida pela população”, indicou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que está a pedir relatos do evento sísmico para coordenar uma estratégia para futuros eventos sísmicos. O link está disponível AQUI.

Pouco depois das 08:00, a Proteção Civil explicou em conferência de imprensa que não foi emitido aviso de risco de tsunami porque esse alerta só é feito em sismos de magnitude igual ou superior a 6,0 na escala de Richter. Além disso, acrescentou o porta-voz da Proteção Civil, André Fernandes, “houve uma notificação, pelo Centro Europeu, de que de facto não havia risco de tsunami e não era necessária nenhuma medida face a esse risco".

Portanto, "não houve esse receio", sublinhou o porta-voz.

Nessa altura, cerca de três horas após o sismo, a Proteção Civil entrou “em fase de monitorização”, não tendo sido necessário ativar os “planos especiais existentes para este tipo de eventos”, indicou André Fernandes. “Só são ativados os planos [especiais] a partir de [sismos de magnitude] 6,1 na escala de Richter. O sismo foi de 5,3, portanto uma situação perfeitamente normal na capacidade de resposta operacional e acompanhamento da situação junto da população”, sublinhou.

A Proteção Civil garante que a resposta das autoridades foi a mais correta, apesar de não terem sido enviadas mensagens à população nem divulgadas informações nas redes sociais da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, à exceção do Facebook. André Fernandes nega que tenha havido “uma falha” nesse sentido, mas sim cautela, uma vez que as autoridades tiveram de “validar a informação” com os diferentes comandos regionais e subregionais.

“O sismo foi sentido às 05:11, às 05:40 foi quando tivemos a confirmação dos diferentes comandos regionais e subregionais de que, de facto, não havia danos pessoais nem materiais. Só a partir dessa data é que nós podemos afirmar com certeza aquilo que aconteceu. Foi isso que foi feito, foi publicado nas redes sociais da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, e também do IPMA, que é a autoridade competente nesta matéria para os avisos e para a manutenção da informação”, explicou.

André Fernandes explicou ainda que a informação foi divulgada na página oficial do Facebook da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, tendo sido, “neste caso, a rede social privilegiada para a partilha da informação”.

“A comunicação foi feita, temos de olhar para a questão do evento sísmico em si: foi um sismo de magnitude 5,3 e que, dentro da escala, do ponto de vista operacional, não vou dizer [que foi] normal, é um evento obviamente atípico, mas a comunicação que foi feita parece-nos adequada”, insistiu.

Marcelo convicto de que "funcionou o que devia ter funcionado" neste "começo de semana normal"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o ministro de Estado, Paulo Rangel, primeiro-ministro em exercício durante as férias de Luís Montenegro, reuniram-se com a Proteção Civil para um ponto de situação. Em declarações aos jornalistas, Paulo Rangel explicou que a reunião serviu para “olhar para isto como um teste real à nossa capacidade de resposta no caso de uma catástrofe real”. Questionado sobre o eventual resultado desse teste, o ministro disse fazer uma “avaliação muito positiva quanto à capacidade de resposta, à prontidão da resposta, à forma como a informação circulou”.

Marcelo Rebelo de Sousa, por sua vez, elogiou a "capacidade de resposta muito rápida" das autoridades perante o fenómeno e a "muito boa coordenação entre o Governo e a Proteção Civil". “O primeiro-ministro em funções comunicou à Presidência da República muito poucos minutos depois de ter sabido e muito poucos minutos depois de ter ocorrido o sismo”, adiantou aos jornalistas, em Belém.

“Não se sabia na altura da incidência total - que felizmente não é o que se temia - do sismo. Portanto, a mensagem é muito simples: serenidade, tranquilidade, normalidade - quem andar por Lisboa verifica isso e a informação que temos de outros pontos da área teoricamente abrangida é a mesma, é um começo de semana normal, natural, e, portanto, sem razões nenhumas da preocupação particular”, disse o chefe de Estado.

“Funcionou aquilo que devia ter funcionado”, resumiu o Presidente da República.

Nas próximas horas e dias é provável que ocorram novas réplicas, de magnitude cada vez mais reduzida, segundo Pedro Terrinha, geólogo e investigador do IPMA, em declarações à CNN Portugal.

Edifícios construídos a partir de 1980 são mais "resilientes" perante sismos

A ocorrência de um sismo levanta questões quanto à resistência antissísmica dos edifícios. O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, estima que “mais de 50% dos edifícios de Lisboa não têm regulamentação antissísmica”, sobretudo os edifícios mais antigos. 

Segundo o presidente da Ordem dos Arquitetos, António Oliveira, “todos os edifícios” construídos a partir de 1980 tiveram de seguir a legislação antissísmica, ou seja, “têm, à partida, níveis de resiliência superiores a eventos sísmicos”. Nos edifícios construídos anteriormente, é necessária “cautela acrescida”, diz, apelando à “verificação” dos regulamentos por quem as habita.

Apesar dos riscos sísmicos, a Associação Portuguesa de Seguradores (APS) adiantou que apenas 19% das habitações do país têm seguro com cobertura de risco sísmico, sendo que 47% não tem qualquer seguro e 34% tem seguro de incêndio ou multirriscos, mas sem cobertura de risco sísmico.

Neste contexto, e tendo em conta os riscos em Portugal, APS espera que o sismo sentido esta segunda-feira “seja determinante para acelerar a decisão de criação de um mecanismo que ajude os cidadãos a enfrentar e mitigar as perdas que um sismo de grande intensidade pode causar” em Portugal.

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