Trabalhadores a fazerem 18 horas por dia e uma folga por mês. Televisão britânica entrou nas fábricas da Shein com uma câmara oculta

CNN Portugal , MJC
20 out 2022, 19:31
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Jornalista disfarçada filmou duas fábricas chinesas da gigante do "fast fashion". A Shein tem sido criticada por fazer quase tudo o que não se pode fazer numa empresa, incluindo ter más condições de trabalho, altos níveis de produtos químicos tóxicos nas peças que produz, cópia de modelos de designers e uso incorreto de dados de clientes

A trabalhar cerca de 18 horas por dia, sem folgas e a ganhar três cêntimos por peça de roupa - estas são as condições de muitos dos funcionários das fábricas que produzem as roupas e outras peças vendidas online pela Shein, revela o documentário "Untold: Inside the Shein Machine", exibido pelo Channel 4 na segunda-feira.

A investigação da estação de televisão britânica descobriu pormenores "desumanos" sobre as práticas da empresa chinesa de moda. O canal enviou uma jornalista disfarçada, com o nome "Mei", para filmar dentro de duas fábricas em Guangzhou, na China, que fornecem roupas para a gigante da fast fashion

O que a jornalista descobriu foi uma "cultura de exploração laboral", disse. Numa fábrica, o Channel 4 descobriu que os trabalhadores recebem um salário base de 4 mil yuans por mês – cerca de 567 euros – para fazer 500 peças de roupa por dia e que o pagamento do primeiro mês fica retido; noutra fábrica, os trabalhadores recebiam o equivalente a três cêntimos por peça.

Os trabalhadores de ambas as fábricas não têm horário definido e muitos trabalham mais de 120 horas por semana, sem direito a fins de semana e com apenas um dia de folga por mês. "Aqui não há domingos", lamenta um dos trabalhadores mostrados na reportagem.

Numa das fábricas, a jornalista viu mulheres a lavar o cabelo durante o intervalo do almoço, porque não tinham mais tempo livre, e os trabalhadores eram penalizados em dois terços do seu salário diário se cometessem um erro numa das peças de roupa.

O programa descobriu ainda que a Shein “investiga as redes sociais em busca de tendências emergentes, transformando-as em designs que encomendam em pequenos lotes de uma rede de milhares de fábricas em Guangzhou, na China”.

Não é a primeira vez que estas acusações aparecem. A Shein tem sido criticada por fazer quase tudo o que não se pode fazer numa empresa, incluindo ter más condições de trabalho, altos níveis de produtos químicos tóxicos nas peças que produz, cópia de modelos de designers e uso incorreto de dados de clientes.

As horas e condições de trabalho relatadas violam as leis do trabalho na China. Ao Business Insider, a Shein declarou estar "extremamente preocupada com as alegações feitas". “Qualquer não conformidade com este código será imediatamente tratada e iremos pôr fim às parcerias que não sigam os nossos padrões”, afirmou, numa resposta semelhante à que foi dada quando a empresa foi acusada de práticas ilegais anteriormente.

A empresa garante que já pediu mais informações ao Channel 4 para poder agir em conformidade. “Os padrões de Abastecimento Responsável (SRS) da Shein impõem aos nossos fornecedores um código de conduta baseado nas convenções da Organização Internacional do Trabalho e nas leis e regulamentos locais, incluindo práticas e condições de trabalho. Trabalhamos com as principais agências independentes para realizar auditorias sem aviso prévio nas instalações dos fornecedores", assegura a Shein.

Apesar de tudo isto, os preços baixos da marca e a produção incrivelmente rápida tornaram a Shein, fundada em 2008, uma das marcas preferidas dos mais jovens e transformaram-na numa das maiores empresas de "fast fashion" do mundo. Em abril deste ano, a Shein foi avaliada em mais de 100 mil milhões de euros, um valor superior à da Zara e da H&M juntas.

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