Chegou a primeira sexta-feira 13 do ano. Receio? Indiferença? Saiba como surgiu esta superstição e porque persiste

13 jan 2023, 08:00
Lua cheia

Será que esta é mesmo uma data de azar? A crença e o pensamento positivo podem ter um papel importante no que diz respeito a superstições

Abrir o chapéu de chuva em casa, varrer os pés de alguém, pousar a mala no chão. Acreditando ou não nas consequências pessimistas destes atos aparentemente triviais, muitos de nós evitam-nos - não vá o diabo tecê-las e condenar-nos a casamentos infelizes e falta de dinheiro. Mas, de todas as superstições, talvez uma das mais célebres seja a sexta-feira 13.

Mais do que célebre, é inevitável. Podemos sempre desviar-nos para não passar por baixo de um escadote, mas todos estamos destinados a viver aquelas sextas-feiras pouco auspiciosas que coincidem com o décimo terceiro dia do mês. E não se trata sequer de um fenómeno raro - muito pelo contrário. O calendário gregoriano prevê que certas combinações de datas e dias da semana sejam mais frequentes do que outras e, de acordo com as estatísticas, é mais provável que o dia 13 assente numa sexta-feira do que em qualquer outro dia. 

Em 2023, acontecerá duas vezes. A primeira é hoje, dia 13 de janeiro, e a segunda cai no (já sombrio) mês de outubro. 

Mas como surgiu esta superstição?

Tal como na grande maioria das crenças populares, a origem é incerta. Mas vamos por partes. 

Ao longo da História, tanto o número 13 como as sextas-feiras têm sido vinculados a eventos negativos em várias culturas. A má reputação do 13 poderá justificar-se parcialmente por empalidecer perto do 12, a combinação numérica que completa os meses do ano, os signos do zodíaco, e os apóstolos de Jesus. Ao acrescentar-se mais um número, a ordem perturba-se e a sorte pende para o infortúnio. Veja-se o exemplo de Judas, o décimo terceiro apóstolo da Última Ceia, ou de Loki, deus da mitologia nórdica que irrompeu por um banquete de doze convidados e assassinou o filho preferido de Odin. 

O mau augúrio das sexta-feiras pode ser mais difícil de compreender, já que tendemos a associá-las à aproximação do fim de semana. O Cristianismo tem uma perspetiva diferente. Jesus Cristo terá sido crucificado no dia 3 de abril, uma sexta-feira, mas este é apenas o expoente máximo de uma série de eventos bíblicos funestos que também se deram no último dia da semana: a expulsão de Adão e Eva do Paraíso e condenação da espécie humana; o assassinato de Abel pelo irmão Caim; a destruição do Templo de Salomão. 

Judas foi o décimo terceiro convidado do episódio bíblico da Última Ceia. Nesta representação de Leonardo Da Vinci, é o membro com o rosto parcialmente sombreado - e atenção ao saleiro derrubado à sua frente, um outro sinal de azar (Bettmann/Getty Images)

A sexta-feira 13 parece ser um cruzamento entre estas duas superstições individuais que, juntas, veem o seu impacto redobrado. Até ao momento, nenhum estudo identificou probabilidades acrescidas de acontecimentos negativos incidirem nesta data - e, mesmo que tal venha a acontecer, nada aponta para uma correlação entre ambos. Mas a crença dura e perdura no imaginário popular, tendo até obtido a distinção de ser o único dia do ano com um franchise de terror homónimo. Afinal, as superstições são isso mesmo: crenças ou práticas infundadas que, de tão repetidas e perpassadas de geração em geração, se tornam marcas incontornáveis de uma cultura, seguidas sem se saber bem porquê. 

Vale a pena referir, porém, que as superstições são crenças culturalmente construídas; produtos artificiais manufaturados pela civilização que os concebe e que recebem leituras diferentes noutros pontos do mundo. Na China, por exemplo, é o algarismo 4 o portador de má sorte, evitado a todo o custo e até suprimido de pisos de edifícios por ser homófono à palavra “morte”. Já na América Latina, reza o ditado: “en martes, ni te cases ni te embarques” (traduzido para português, “na terça-feira, não te cases nem viajes”). 

Tem medo da sexta-feira 13? Aqui fica um truque: o importante é não ter

Ainda que saibamos não existir uma razão científica para temer a data, algumas pessoas optam por não agendar grandes compromissos e até se desviam das suas rotinas normais. As más notícias são, isso sim, para as empresas: os dados indicam que os consumidores norte-americanos chegam a gastar menos mil milhões de euros em compras nestas sextas-feiras desafortunadas, em comparação com as restantes, e também as companhias aéreas têm muitas vezes de diminuir os preços para aliciar potenciais interessados.

Em casos extremos, o medo da sexta-feira 13 pode evoluir para uma condição patológica que até ganhou nome na área da psicologia: triscaidecafobia. Um dos casos mais notáveis será o do compositor austríaco Arnold Schoenberg, nascido a 13 de setembro - um domingo. O seu receio de morrer num ano múltiplo de 13 está bem documentado, e terá evoluído para um repúdio geral pelo número em questão. Numa fase mais tardia da carreira, chegou até a trocar a métrica 13 por 12b nas suas composições. Quando completou 76 anos, um astrólogo sugeriu que esta poderia vir a ser uma idade crítica, uma vez que a soma dos dígitos 7 e 6 totaliza o tão temido 13. E, de facto, Schoenberg acabou por falecer subitamente aos 76 anos, no dia 13 de julho de 1951. Era uma sexta-feira... e faltavam 13 minutos para a meia-noite. 

Arnold Schönenberg, criador do Dodecafonismo e uma das figuras mais influentes da música do século XX, num retrato de 1922. É também, muito provavelmente, o caso mais célebre de triscaidecafobia (Imagno/Getty Images)

Coincidência? Talvez não. Decerto não terá sido a influência do 13 a provocar a doença fulminante, mas poderá ter contribuído para uma sensação de ansiedade que exacerbou problemas de saúde já existentes. A psicóloga Catarina Lucas explica que o pensamento negativo, para além de nos deixar “menos motivados ou predispostos a usufruir do dia”, também se repercute “na forma como nos relacionamos, como vivemos e como interagimos com os outros e o mundo”. O mundo, por sua vez, retribui-nos com ainda mais negatividade: “Como diz o ditado, quem procura encontra.” 

O elemento-chave nesta equação não é a data em específico, mas sim a forma como reagimos a ela. “Se acreditarmos que o dia 13 será um dia de azar, a nossa ‘lente’ ou ‘radar’ estarão muito mais atentos a coisas menos boas, pequenas ou grandes, que possam acontecer.” A morte de Schoenberg é um evento demasiado significativo para desvalorizar, mas outras inconveniências menores - como um copo partido ou uma nódoa na roupa - poderão ver a sua importância exagerada. “Aquilo que noutras ocasiões não seria relevado acaba por não passar despercebido, servindo como mecanismo confirmatório de que aquele é mesmo um dia de azar”, continua Catarina Lucas, evidenciando que esta “estratégia” é típica do ser humano, que tenta amiúde testar e “confirmar as suas crenças e teorias”. 

A triscaidecafobia não é, porém, uma fobia comum na generalidade da população. As pessoas com perturbação obsessivo-compulsiva podem revelar-se mais vulneráveis e “desenvolver uma componente supersticiosa muito intensa e disfuncional”, manifestada por pensamentos como “se fizer ou não fizer determinada coisa, algo de mal pode ocorrer”. No entanto, como ressalta a psicóloga, “aqui já estamos a falar de uma dimensão patológica e não da superstição comum”. 

Mas qualquer instância em que o medo condicione a vida do indivíduo deve ser compreendida e trabalhada. Em primeiro lugar, é útil “entender as causas do medo, onde se iniciaram e como se mantiveram ao longo do tempo, e também identificar o modo como interferem no dia a dia”. Uma vez identificada a origem do problema, é preciso enfrentá-lo com “um processo de exposição ao medo” que, adverte a psicóloga, nunca deve ser feito sem acompanhamento. “O impacto psicológico do problema e do próprio processo de enfrentamento” exigem um “conhecimento técnico” da questão que só um profissional de saúde poderá proporcionar. 

Sexta-feira 13. Dia de sorte?

Em casos mais moderados, talvez seja suficiente exercitar o pensamento positivo - e também o racional, que ajuda a desmistificar as conceções associadas à sexta-feira 13. Organizar uma saída com os amigos ou ver um filme ligeiro (nenhum protagonizado por Jason Voorhees, de preferência) pode ajudar a modificar a perceção da data e até a associá-la a eventos agradáveis. 

Esta parece ser a atitude de Taylor Swift, no extremo oposto a Arnold Schoenberg na escala de medo. Nascida no dia 13, e após uma série de coincidências em que foi bafejada com a sorte ao associar-se ao número, procura-o agora em todos os parâmetros da sua vida. E não tem dúvidas: “quando surge um 13, é um bom sinal”. Sabemos que as superstições são apenas construções culturais, e que a cultura está em constante evolução. Quem sabe, então, se um dia a sexta-feira 13 virá a tornar-se sinónimo de sorte? 

Taylor Swift explicou a sua relação com o número 13 à MTV em 2009, numa fase inicial da carreira em que costumava desenhar o número na mão. "Nasci no dia 13. Fiz 13 anos numa sexta-feira 13. O meu primeiro álbum ganhou o certificado de Disco de Ouro em 13 semanas. A minha primeira canção a chegar ao número 1 tinha uma introdução de 13 segundos. Sempre que ganhei um prémio sentei-me no 13.º lugar da 13.ª fila. Basicamente, sempre que um 13 surge na minha vida, é uma coisa boa." (Jason Kempin/Getty Images)

 

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