6 factos que pode não ter aprendido em Educação Sexual

CNN , Rachel Fadem
31 jul 2022, 18:00
Educação Sexual

A Educação Sexual precisa e abrangente pode ser difícil de encontrar nos Estados Unidos e as pessoas nem sempre estão cientes de que não estão a receber informações suficientes.

Em julho, apenas 29 estados dos EUA e Washington DC obrigam à frequência da disciplina de Educação Sexual e, desses estados, apenas 11 exigem que as informações lecionadas sejam clinicamente precisas, segundo o Instituto Guttmacher, uma organização de pesquisa e legislações sem fins lucrativos que se centra nos direitos sexuais e reprodutivos por todo o mundo. Além disso, o uso das redes sociais pode permitir que a desinformação se espalhe mais depressa, mesmo entre aqueles que procuram ativamente informações precisas, de acordo com um estudo de 2021 da Universidade de Louisville, no Kentucky.

A desinformação e as ideias erradas podem ter consequências que incluem a gravidez não planeada, as infeções e as doenças sexualmente transmissíveis e o aumento do medo e do estigma em torno do sexo e da saúde sexual, disse Kristen Mark, investigadora de sexo e de relacionamentos e professora de Medicina Familiar e Saúde Comunitária do Instituto de Saúde Sexual e de Género da Universidade de Medicina do Minnesota.

Neste artigo, educadores e investigadores do sexo destroem algumas ideias erradas comuns e partilham informações precisas que pode não ter aprendido na Educação Sexual tradicional.

O sexo e a saúde sexual não têm apenas que ver com o ato físico

Muitas vezes, as pessoas acreditam que a saúde sexual está relacionada apenas ao sexo em si, disse Logan Levkoff, educadora em sexualidade de Nova Iorque. Na verdade, a saúde sexual é um “estado de bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade”, segundo os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA.

“Tem que ver com a forma como cuidamos dos nossos corpos de forma holística”, disse Levkoff, “como navegamos na saúde mental, o acesso que temos às informações e aos serviços, e a cultura em que vivemos.”

Compreender e promover a saúde sexual pode permitir que as pessoas se sintam capacitadas nos seus corpos e nas suas decisões sexuais, e pode abrir o debate sobre esses temas, potencialmente permitindo que as ideias erradas sejam contestadas de forma mais direta.

O “normal” não existe

A pergunta mais comum que Levkoff ouve é: “Sou normal?”

“As pessoas não querem sentir que são estranhas, que são diferentes dos outros, que há algo de errado com elas”, disse a educadora.

Algumas pessoas podem questionar-se se tiveram a primeira menstruação numa idade normal. No entanto, a menstruação, incluindo a data de início e a duração do período, varia de pessoa para pessoa, segundo a Clínica Mayo.

Não existe uma definição única de normal, diz Levkoff. Como cada pessoa é única, procurar o normal pode não ser o mais benéfico. Em vez disso, as pessoas podem aprender sobre os seus próprios corpos e desejos, acrescentou.

O sexo pode dar prazer

Alexa Hulse, de 20 anos, cresceu num subúrbio de Charlotte, na Carolina do Norte, e aprendeu na escola pública que as pessoas fazem sexo para conceber um filho. Não houve qualquer discussão em torno do orgasmo feminino, e o orgasmo masculino foi discutido no contexto em que ajudava o espermatozoide a encontrar o óvulo para criar um bebé.

A realidade é que o sexo dá prazer, disse Kristen Mark, da Universidade do Minnesota. Na verdade, a principal razão pela qual as pessoas fazem sexo é por prazer, acrescentou ela.

“Eu tinha muito medo do sexo”, disse Hulse. “Não se falava em prazer. Era só ter filhos e medo, porque não queríamos engravidar e não queríamos contrair uma DST ou uma IST.”

Com a recente decisão do Supremo Tribunal dos EUA de anular Roe v. Wade, eliminando o direito constitucional ao aborto, as pessoas têm andado a dizer: “Não faça sexo se não quiser engravidar.”

Mas para muitas pessoas que fazem sexo e que tentam evitar uma gravidez, limitar o acesso aos cuidados de saúde reprodutora pode ser um fardo, disse Mark.

“Os métodos contracetivos e o acesso a cuidados de saúde reprodutora, como o aborto, são componentes realmente importantes para garantir que as pessoas se podem envolver no seu direito humano de ter experiências sexuais agradáveis”, disse ela.

Além disso, o prazer sexual pode trazer benefícios à saúde, incluindo melhor saúde geral, um sono melhor, menos stresse, melhor funcionamento cognitivo e mais qualidade de vida, de acordo com a pesquisa.

As IST nem sempre são visíveis

O estigma de que as pessoas que têm doenças ou infeções sexualmente transmissíveis são “sujas” e as que não têm são “limpas” dominaram as narrativas à volta do sexo.

No entanto, as IST, as infeções sexualmente transmissíveis, são mais comuns do que as pessoas pensam. Em 2018, 20% dos norte-americanos já tinham tido uma IST, em algum ponto da vida, segundo um estudo de 2021 da revista “Sexually Transmitted Diseases”.

E as pessoas podem ter uma IST e nem sequer saber, já que a maioria não é percetível, disse Debby Herbenick, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade do Indiana em Bloomington e autora de “Sex Made Easy”.

“A única maneira de saber se alguém tem uma IST é fazendo um teste para as IST, algo que todas as pessoas sexualmente ativas devem fazer, de tempos a tempos (a frequência varia de acordo com os comportamentos sexuais e os fatores de risco da própria pessoa, portanto, fale com um profissional de saúde para saber o que é aconselhado para si)”, disse Herbenick por e-mail.

Os níveis de desejo sexual variam

Um baixo ou alto desejo sexual não significam que a pessoa tenha algo de errado, disse Herbenick. Os impulsos sexuais das pessoas geralmente flutuam com base em fatores externos, como os níveis de stresse, acrescentou ela.

Além disso, há uma ideia errada comum de que os homens querem fazer sexo a toda a hora e as mulheres não, disse Mark. Essas ideias podem fazer com que as pessoas temam que haja algo de errado com elas, quando, na verdade, o impulso e o desejo sexuais não são baseados no género e variam de pessoa para pessoa.

Ensinar uma Educação Sexual abrangente não significa que as pessoas farão mais sexo

Nos EUA, apenas 11 estados e Washington DC exigem que a importância do consentimento para a atividade sexual seja abordada na Educação Sexual, segundo o Instituto Guttmacher. O consentimento, ou um acordo entre as partes para se envolverem em atividade sexual, é uma componente importante do sexo, disse Mark.

Alguns acreditam que a Educação Sexual é sobre moral e valores, mas na verdade é sobre informações de saúde, incluindo a compreensão da autonomia corporal e do consentimento, disse Mark. A Educação Sexual dá às pessoas a oportunidade de aprender que dizer “sim” é tão importante quanto dizer “não”, e vice-versa, acrescentou.

Falar de temas como o consentimento nas aulas de Educação Sexual não significa que as pessoas vão sair a correr para fazer sexo, disse Mark. Pelo contrário, significa que as pessoas entenderão como navegar melhor no mundo, tanto nas questões do sexo como noutras, acrescentou.

Na verdade, a Educação Sexual direcionada para a abstinência mostrou-se ineficaz e prejudicial, segundo um estudo de 2017 do “Journal of Adolescent Health”.

As crianças mais novas podem ter uma Educação Sexual abrangente a partir do jardim de infância, segundo um estudo de 2021 da mesma revista.

“Vai envolver falar sobre a autonomia corporal e o direito de dizer “não” ao toque no corpo, se não for desejado”, disse Mark sobre a Educação Sexual para as crianças mais novas. “Trata-se de aprender sobre os limites e o respeito pelo próprio corpo.”

Os jovens podem não ter o mesmo nível de confiança, no futuro, se os adultos não responderem às suas perguntas, disse Levkoff.

“Se um jovem, não importa que idade tenha, tem uma dúvida, esse jovem merece uma resposta”, acrescentou. “Tem que ver com quanta informação damos, a forma como a damos e os valores por trás dela.”

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