Na CNN Summit dedicada ao futuro do setor automóvel, três especialistas em inteligência artificial abordam as principais problemáticas da tecnologia de condução autónoma
Teremos em breve a condução automatizada? Estamos a entrar numa terra sem lei? Onde entra a ética? Estas são algumas das questões abordadas no terceiro painel da Summit da CNN "O Carro do Futuro", que se realizou esta terça-feira.
A empresa Critical Techworks, descreve a condução autónoma como “o desenvolvimento mais ambicioso da indústria automóvel”. E não é por acaso. Segundo Pedro Silva Monteiro, para chegar ao carro do futuro é preciso chegar ao nível cinco de direção autônoma e ainda “não há algoritmos de inteligência artificial que permitam chegar a este patamar”. Neste nível o carro não só mantém determinada velocidade, como se mantém na mesma via e muda de faixa quando é preciso, explica o especialista. Estão também a ser estudadas soluções inovadoras como “o reconhecimento de uma criança esquecida dentro do carro, através de sensores”.
Atualmente, existem carros no nível três que permitem ao condutor um nível de conforto superior aos veículos que todos conhecemos. É o caso do Audi A8L de 2019, por exemplo. “A pessoa pode estar a ver um filme e caso o carro detete algo fora do normal, avisa o condutor que deve olhar para a estrada”, desenvolve Pedro Silva Monteiro, acrescentando que neste nível não há um “relaxamento total”. Os carros deste patamar de direção autônoma “funcionam apenas na Alemanha e nos EUA”. E estão “limitados por estradas e condições de tempo específicas”.
Para que este sistema funcione e para que a tecnologia avance até ao carro do futuro, é preciso um estudo e tratamento minucioso de dados, tanto por pessoas como por máquinas. É aí que entra para a conversa Sebastião Villax, da Defined AI, um mercado de dados de treino de origem ética para inteligência artificial.
O especialista em dados garante que esta é ‘uma terra’ com lei e que se deve reger pela ética. Assim, na Define AI "a prioridade está na segurança e no controlo de qualidade e tratamento dos dados". Contudo, reconhece que “não há risco zero”. Por isso, considera que “não há qualquer empresa no mundo que se possa assegurar a 100% que os seus dados não sejam hackeados”. “No entanto, qualquer empresa pode pôr em marcha vários controlos de segurança”, observa.
A tecnologia da condução autónoma também corre os seus perigos. Mas não no que concerne aos dados biométricos, explica Sebastião Villax. O perigo centra-se na “manipulação do sistema dos comandos dados ao carro”. Neste tipo de ‘hack’ o carro que recebeu o comando para virar à direita, vira à esquerda, por exemplo. “Neste caso, consoante as camadas de segurança instaladas, o veículo irá bloquear”.
Há cerca de um mês foi aprovado pelo Parlamento Europeu o primeiro regulamento sobre inteligência artificial, o chamado AI Act, que será aplicado daqui a dois anos. Sebastião Villax critica este regulamento considerando-o demasiado rígido e um desincentivo para as empresas do setor automóvel. Isto porque, o AI Act define quatro níveis de risco para os sistemas de inteligência artificial e a condução autónoma é classificada como um risco elevado. Por isso, estará sujeita a restrições rigorosas obrigatórias antes de serem colocadas no mercado. Lê-se, por exemplo, “sistemas adequados de avaliação e atenuação dos riscos, medidas adequadas de controlo humano para minimizar os riscos, elevado nível de robustez e documentação pormenorizada". Caso não sejam cumpridas, as empresas arriscam-se a pagar uma multa pesada”.
Sebastião Villax compara a diretiva europeia com os guiões americanos, “realizados em conjunto com empresas que produzem modelos de desenvolvimento, com o intuito de criar orientações, mas não regras que não se pode quebrar”.
O terceiro membro deste painel, Francisco España da Microsoft, defende que o setor automóvel tem inovação, mas “ainda está atrás dos outros”. Um passo a ser dado por este setor é a “personalização do perfil do condutor”, que permitirá a “construção de experiência nas vendas de hiperpersonalização”.
O especialista explica ainda que a Microsoft serve de “facilitador de quem constrói e dá ferramentas com estrutura à volta de segurança e compliance”. E frisa a importância do tratamento de dados visto que, alguns “têm de ser processados de imediato”.