Às vezes é necessário dormir um pouco durante o dia para recuperar a energia. A sesta tem vantagens e desvantagens, dizem os especialistas
Quantas vezes, depois do almoço e sobretudo nos dias de calor, sentimos necessidade de parar um bocadinho e até de fazer uma sesta? Será que isto é normal? E devemos deitarmo-nos e descansar? Fazer a sesta faz bem ou mal?
Porque é que as crianças fazem sestas e os adultos não?
"As necessidades de sono variam ao longo da vida e também de pessoa para pessoa. Enquanto um bebé necessita de 14 a 17 horas com vários períodos de sono ao longo das 24 horas, com o crescimento o nosso relógio biológico vai sofrendo uma maturação normal com o estabelecimento do ritmo circadiano sono-vigília", explica à CNN Portugal Vânia Caldeira, médica pneumologista e especialista em medicina do sono. Assim, os adultos passam a ter um período maior de sono, durante a noite, que deverá ser de 7 a 9 horas.
"Idealmente e para termos um sono de qualidade temos de ter em conta a duração do sono, a sua regularidade, mas também o período em que ocorre. Um alinhamento entre o nosso relógio biológico (circadiano) e o ritmo exterior (luz e atividade) permite as condições ideais para o um sono de qualidade", esclarece a especialista. "Cumprindo uma boa higiene do sono, com tempo e oportunidade para dormir e estando garantidas as condições ótimas para o sono, a maioria das pessoas não necessitará de sestas durante o dia."
Quais os benefícios de fazer uma sesta?
Depois de uma noite mal dormida ou em períodos em que estamos mais cansados, podemos de facto precisar de descansar durante o dia. "Por diferentes motivos, algumas pessoas poderão beneficiar do recurso às sestas", admite a médica Vânia Caldeira. "Nesse caso, elas deverão ser curtas e equidistantes do momento de levantar e de deitar ao final do dia". Dormir cerca de 20 minutos após o almoço poderá ser uma boa solução para algumas pessoas combaterem a fadiga, diz a especialista.
Depois deste pequeno período de descanso, as pessoas poderão sentir-se mais relaxadas mas ao mesmo tempo mais alerta e com mais energia. Por esse motivo, poderão ser mais produtivas no trabalho. E geralmente irão sentir-se mais bem-humoradas.
Alguns estudos sugerem ainda que fazer uma sesta ajuda a combater o stress.
Fazer uma sesta contribui para a nossa felicidade?
Um estudo, coordenado pelo professor da Universidade de Hertfordshire, Richard Wiseman, encontrou uma ligação entre as sestas curtas e a autoperceção da felicidade.
Das mil pessoas inquiridas, 66% relataram uma sensação de bem-estar e felicidade, depois de terem dormitado por até 30 minutos.
Não há só vantagens! Se fizer uma sesta tenha atenção a isto
"Se as sestas forem muito prolongadas ou próximas da hora de deitar ao final do dia, vão diminuir a 'pressão de sono', podendo contribuir para dificuldades em adormecer ou diminuição da qualidade do sono noturno", alerta Vânia Caldeira.
Por esse motivo, a sesta deve ser evitada sobretudo por quem tem problemas de insónia ou dificuldades em adormecer à noite.
A sesta não deve exceder os 30 a 60 minutos de duração no caso dos adultos. Caso contrário, pode entrar no sono profundo, provocando confusão e indisposição ao acordar, alertam os especialistas de Harvard. Depois da sesta, deve-se esperar cerca de 10 minutos até voltar a uma atividade que seja mental ou fisicamente mais exigente.
O mais importante é mesmo dormir bem durante a noite
"Não é normal estar sonolento durante o dia! Se a pessoa sente necessidade de sestas diurnas deve procurar ajuda especializada para rever a sua higiene do sono e avaliar a causa da sonolência excessiva diurna", avisa a médica Vânia Caldeira.
Esta sonolência diurna manifesta-se de muitas formas e pode "ter impacto no desempenho no trabalho, no humor, no relacionamento com os outros, mas também riscos de saúde pública – na condução e em algumas profissões de risco. É fundamental ser avaliada a causa da sonolência. O motivo mais frequente é a privação de sono (dormir menos do que o necessário). Ter um parceiro que ressona também pode ser uma causa para a fragmentação do sono e sonolência no dia seguinte", explica a especialista.
Uma causa cada vez mais prevalente de sonolência durante o dia é a apneia do sono (fazer paragens respiratórias durante o sono). "É uma doença muito frequente, com maior incidência nos homens, nas mulheres após a menopausa e nas pessoas com excesso de peso", esclarece Vânia Caldeira. Associa-se a doenças comuns (como a hipertensão arterial e a diabetes) e a doenças graves (como as arritmias ou a insuficiência cardíaca). "A identificação precoce do problema é fundamental. Existem muitos tratamentos para a apneia do sono (tratamento com CPAP – um ventilador durante o sono; os dispositivos orais realizados pela Medicina Dentária; ou em casos selecionados a cirurgia bariátrica ou da via aérea superior) que permitem resolver a sonolência diurna, diminuir o risco cardiovascular e melhorar a qualidade de vida do doente e a qualidade do seu sono."