Noventa minutos a olhar para Bruno Fernandes (até ficar com tonturas)

29 nov 2022, 09:16
Bruno Fernandes festeja com Rafael Leão o 2-0 no Portugal-Uruguai

Através da transmissão televisiva, o Maisfutebol acompanhou Bruno Fernandes. Uma exibição que foi crescendo e que no fim nos esgotados só de ver

Quando o árbitro apitou pela última vez, as câmaras procuraram Bruno Fernandes, que por essa altura dava um abraço pesado a Bernardo Silva. Um daqueles abraços fortes, mas cansados. Um abraço encorpado, espesso, consistente.

Naquele abraço cabia toda a vitória da Seleção Nacional, que valeu o apuramento para os oitavos de final. Bruno Fernandes e Bernardo Silva tinham carregado Portugal às costas e acabaram o jogo de rastos. O esquerdino foi aliás o jogador que mais correu em campo: 12,75 quilómetros, de acordo com os dados oficiais da FIFA.

Já Bruno Fernandes foi também isso tudo, e muito mais.

Marcou os dois golos do triunfo, atirou mais uma vez ao poste e proporcionou ao guarda-redes adversário a melhor defesa. Foi aliás o jogador que mais vezes rematou em todo o encontro, num total de seis. O que mostra como esta foi uma daquelas noites ao jeito dele.

Durante toda a primeira parte, passou o tempo em trocas constantes de posição com Bernardo.

Por exemplo, começou sobre a direita, mas aos três minutos já estava ao centro: tocou para William Carvalho, a seguir recebeu sobre a esquerda e virou para Bernardo, aos sete minutos voltou a encostar à linha.e foi a partir daí que fez o primeiro remate. Sem perigo.

Aos treze minutos já tinha trocado novamente de posição com Bernardo, recuando mais vezes para organizar o jogo. Recebeu de Ronaldo e libertou William, pouco depois fez um cruzamento que ficou curto, aos 22 minutos ficou no chão a queixar-se de uma entrada de Vecino: a dureza dos jogadores uruguaios calhou a todos os portugueses.

Aos 23 minutos teve o primeiro momento de verdadeira classe. Primeiro a lançar Ronaldo de trivela, na sequência da jogada ainda recuperou a bola e fez outra excelente abertura para Bernardo Silva, já dentro da área, mas o companheiro dominou mal e a bola perdeu-se.

Aos poucos Bruno Fernandes foi crescendo no jogo.

Aos 33 minutos, por exemplo, lançou João Félix com algum perigo, aos 45 minutos ganhou a bola no ataque e serviu Raphael Guerreiro para um cruzamento perigoso.

Aquele sorriso para Bentancur parecia premonitório

Pelo meio, uma jogada típica de Bruno Fernandes sempre que surgia ao centro: fletia para a esquerda para apoiar a construção, recebia e virava tudo para João Cancelo. Fez esse gesto por três vezes quase seguidas, aliás: aos 24, aos 28 e aos 33 minutos.

Até ao intervalo sofreu uma falta de Valverde, arrancou um amarelo a Olivera e pouco mais. A primeira parte do médio, tal como a de Portugal, teve muito esforço, mas não foi brilhante.

Já perto do intervalo houve uma imagem que foi premonitória: quando Bentancur lhe disse alguma coisa, Bruno Fernandes abriu um sorriso rasgado.

Foi a primeira vez no jogo, mas não foi a última: a segunda parte traria mais sorrisos.

Ora na segunda parte, precisamente, teve uma posição muito mais fixa. Bernardo jogou sempre ao meio, Bruno Fernandes ocupou a meia direita durante a maior parte do tempo.

Mas já lá vamos.

Antes disso, convém dizer que a segunda metade começou com uma perda de bola, antes de arrastar dois defesas para permitir a Bernardo isolar Félix para um remate às malhas laterais.

Pouco depois, aos 53 minutos, houve um movimento curioso. Cristiano Ronaldo veio receber a bola à linha de meio-campo, sobre a direita, e Bruno Fernandes apareceu no meio dos centrais. Ronaldo tocou para Cancelo e regressou à sua posição, Bruno Fernandes aproveitou a troca para surpreender o adversário, receber a bola entre linhas e cruzar para golo.

Um golo que também teve muito de Ronaldo: o capitão tocou na bola com a aura e com isso ludibriou completamente o guarda-redes uruguaio. O capitão festejou, por isso, como se o golo fosse dele e correu para dar um grande abraço a Bruno Fernandes.

Dez minutos de desorientação até encher o campo (e o jogo)

Aquele golo mudou muita coisa, é verdade. O Uruguai aumentou a pressão e Bruno Fernandes foi obrigado a recuar. O médio, que por essa altura ainda ocupava o lado direito, surgiu então muitas vezes junto à área defensiva a cobrir o espaço e a ajudar Cancelo.

Os quinze minutos que se seguiram foram provavelmente os menos bons. Portugal não conseguiu segurar a bola, não pausou o jogo e Bruno Fernandes foi na torrente.

Com a entrada de Rafael Leão, João Félix viajou para a direita e Bruno Fernandes uniu-se a Bernardo no centro do campo. A alteração não correu bem a ninguém. Aos 67 minutos, por exemplo, Bruno Fernandes quis lançar rapidamente Bernando Silva entre os centrais adversários e perdeu-se a bola. Logo a seguir, recebeu de Ronaldo e tentou lançar de imediato Leão do outro lado, o passe saiu mal e o capitão ficou desolado.

Foram cerca de dez minutos difíceis, mas que acabaram por passar sem consequências.

No quarto de hora final, aí sim, conseguiu dar ao jogo o que ele precisava. Começou por recuperar uma bola junto à linha de fundo portuguesa, logo a seguir fez um pique de trinta metros para pressionar Bentancur, depois tocou para Félix, recebeu, jogou com William e acalmou o jogo que andava partido. Era preciso segurar a bola e Bruno Fernandes mostrava como se fazia. Logo a seguir conduziu a posse, viu Ronaldo e Leão a entrar na área, mas tocou para Félix e pediu ao companheiro calma, para jogar para trás.

Portugal já estava por isso a dar sinais mais animadores, quando Fernando Santos colocou em campo Palhinha, Matheus Nunes e Gonçalo Ramos.

Nessa altura Bruno Fernandes regressou à direita, deixando o centro para Palhinha, Matheus e Bernardo. A Seleção melhorou muito e foi nessa posição que, aos 88 minutos, jogou duas vezes com Bernardo Silva, fez um sprint de dez segundos e surgiu no final da jogada a furar dentro da área adversária.

Giménez parou a jogada com a mão, o VAR não deixou o árbitro cometer um erro e Bruno agarrou a bola para marcar o penálti. Durante alguns minutos isolou-se da confusão, até que já nos descontos bateu com muita classe: deu um saltinho e com calma desviou a bola do guarda-redes.  Depois abriu outra vez o sorriso rasgado. Esta noite era sobretudo dele.

O jogo ainda não tinha acabado, porém, e Bruno Fernandes também não. Aos 95 minutos, aliás, estava completamente esgotado, perdeu na velocidade para Bentancur e ficou desiludido.

Aos 97 minutos fez um sprint para a área, respondeu a um cruzamento de Matheus Nunes e rematou para grande defesa de Rochet. Logo a seguir recebeu de Palhinha em posição frontal e rematou ao poste. Desesperado caiu de joelhos no chão, com as mãos na cabeça.

Bruno Fernandes parece que nunca está satisfeito, que quer sempre mais, e mais, e mais. Acabou o jogo de rastos, completamente esgotado, ele que foi o jogador mais vezes procurado pelos colegas à saída da defesa. E ainda assim acabou inconformado.

Já nós ficámos com tonturas só de ver o que ele correu.


 

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