Jovem morto a tiro em 2003 "reaparece" em vídeo deepfake para tentar resolver o seu próprio homicídio

1 jun 2022, 14:35
Sedar Soares

Com a ajuda de um ator e de uma fotografia com 19 anos, especialistas conseguiram fazer "reaparecer" jovem de 13 anos. Família diz que espera que vídeo ajude testemunhas a falarem com as autoridades e a resolverem o crime

A polícia de Roterdão, nos Países Baixos, decidiu recorrer aos vídeos deepfake (montagens de vídeo hiperrealistas criadas através de inteligência artificial) para tentar resolver o homicídio de um adolescente, que ocorreu a 1 de fevereiro de 2003. Sedar Soares tinha 13 anos quando foi morto a tiro enquanto atirava bolas de neve com os amigos, na estação de metro de Slinge, em Roterdão. 

Em comunicado, a polícia revela que decidiu criar o vídeo com a autorização da família para tentar resolver o crime e encontrar alguém para além "das testemunhas oculares (acidentais) do tiroteio". Caso apareça alguma pista que conduza à resolução do crime, a recompensa é de 40 mil euros.

Assim, graças à tecnologia, Sedar reaparece num campo de futebol, com uma bola na mão, ladeado por familiares, amigos, professores e colegas de turma, enquanto caminha com o olhar fixado na câmara. A voz que se ouve enquanto caminha é da irmã, Janet, que recorda como morreu o jovem e pede ajuda a quem possa ter informações sobre o crime.

"Alguém deve saber quem matou o meu querido irmão. Sabes alguma coisa? Fala agora", diz Janet, numa alusão ao documentário criado pela polícia para divulgar as novas informações sobre o caso e pedir à população que ajude a resolver o crime da estação de metro de Slinge.

Na nota divulgada, a polícia de Roterdão revela ainda que não ter conseguido resolver o caso ao longo de quase duas décadas tem gerado "tristeza e indignação", uma vez que a família e amigos de Sedar "nunca tiveram respostas sobre o que aconteceu".

"Um rapaz foi alegadamente morto por atirar bolas de neve a um motorista. (...) A equipa só pode concluir que, infelizmente, ele estava no local errado na hora errada", lê-se na nota.

Apesar de ainda não ter conseguido resolver o caso, a polícia revela que nos últimos tempos tem recebido novas pistas que mudaram o curso da investigação e que foi o que levou a que o vídeo fosse criado, assim como o documentário "Fale! Agora!" que foi exibido no WNL Vandaag no dia 22 de maio.

"Em 2020, a investigação voltou a ter a atenção do público (...). Como resultado, várias pessoas foram à polícia com informação sobre os factos. Pensam que já passou demasiado tempo, que a família tem direito a saber a verdade, e partilharam informações com os detetives. Esses novos testemunhos foram adicionados ao ficheiro já existente. A combinação das descobertas anteriores e das novas declarações significam que a investigação do caso assumiu um novo cenário".

Vídeo criado com a família

Segundo explica o jornal El País, o vídeo deepfake manipula a imagem e o som para criar um conteúdo falso cujo resultado parece real. Neste tipo de vídeos podem ser utilizados vídeos ou imagens que já existam que serão depois manipulados e transformados. Foi o que aconteceu no caso deste deepfake.

Com a ajuda de um ator que se parecia a Sedar, que caminhou pelo corredor de honra formado pelos familiares e amigos do jovem no campo de futebol, os especialistas criaram o rapaz de 13 anos recorrendo a uma fotografia tirada pouco tempo antes da sua morte.

O porta-voz da família afirma que a preparação do documentário, que antecedeu a divulgação do vídeo, "exigiu muito", mas que esperam conseguir obter respostas.

"Sentimos a falta do Sedar todos os dias. O nosso filho, irmão, sobrinho, estava no sítio errado com os amigos na altura errada. Estamos muito gratos que a polícia volte a dar total atenção à sua morte e estamos gratos às pessoas que ajudaram a fazer este projeto especial. O Sedar era um rapaz querido que queria mesmo ser jogador de futebol e não fazia mal a uma mosca. Esperamos que as pessoas que sabem mais ainda queiram falar sobre isso depois de tantos anos. Isso daria uma grande paz a todos os que amam o Sedar", afirmou.

Tecnologia

Mais Tecnologia

Mais Lidas

Patrocinados