Muitos produtores podem desaparecer até ao final do ano sem apoios para impacto da seca e subida dos preços

Agência Lusa , CE
6 ago 2022, 10:38
36.ª edição da Ovibeja

Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais pede melhor negociação entre o Governo e a Comissão Europeia

Os industriais de alimentos para animais alertaram para o facto de muitos produtores pecuários e industriais poderem desaparecer, até ao final do ano, caso não sejam adotadas ajudas que mitiguem o impacto da seca e da subida dos custos.

“Penso que há medidas que têm que ser negociadas entre o Governo português e a Comissão Europeia. Há um conjunto de medidas que tem que ser rapidamente discutido, sob pena de, até ao final do ano, vermos desaparecer muitos produtores pecuários e indústrias agroalimentares porque há um fenómeno de arrastamento e a questão da soberania alimentar é muito relevante”, afirmou o secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), Jaime Piçarra, em declarações à Lusa.

Segundo a associação, em muitas explorações pecuárias, a disponibilidade de água está a ser assegurada, quase diariamente, pelos bombeiros, nomeadamente em Mértola, no Alentejo.

Por outro lado, as pastagens e forragens são mais escassas, dificultando a alimentação animal.

Somam-se ainda os incêndios rurais, que têm destruído campos agrícolas e levado à morte de vários animais.

“Ainda esta semana voltámos a ter uma subida nos preços dos cereais, nomeadamente do trigo”, acrescentou.

Perante este cenário, há produtores que estão a reduzir o número de animais, através da venda ou do abate.

Apesar de garantir “não desvalorizar” as ajudas que têm vindo a ser adotadas, Jaime Piçarra notou que o processo burocrático “é muito grande”.

No que se refere às reservas de crise, cujas candidaturas decorrem em agosto, os apoios só vão estar disponíveis em setembro.

“Continuamos a ter preços de adubos e fertilizantes em alta. Temos uma grande instabilidade e imprevisibilidade”, assinalou o secretário-geral da IACA.

Jaime Piçarra lamentou ainda que a Comissão Europeia tenha concedido uma derrogação para a próxima Política Agrícola Comum (PAC), que permite, por exemplo, que as áreas colocadas em pousio possam ser cultivadas.

No entanto, esta derrogação deixa de fora o milho e a soja para a alimentação animal.

“As ajudas são bem-vindas, mas parecem-nos ser claramente insuficientes face à conjuntura e os problemas que todos vivemos. Vivemos uma situação extraordinária e deveríamos ter medidas extraordinárias. Temos que considerar a suspensão do IVA em produtos básicos, como está a ser feito noutros países”, assinalou.

Questionado sobre a possibilidade de o preço das rações continuar a subir, Jaime Piçarra não colocou de fora este cenário, face à volatilidade da conjuntura internacional, agravada por uma nova tensão entre os EUA e a China.

Neste sentido, as empresas não estão a assumir coberturas muito longas em termos de compras.

“Era desejável que os preços das matérias-primas descessem, mas também outros custos, como a energia e os transportes”, concluiu.

Questionada, na quarta-feira, sobre as medidas adotadas para o setor da alimentação animal, a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, destacou, em declarações à Lusa, o apoio à eletricidade verde e a isenção do IVA nas rações.

Acresce ainda “uma medida que utiliza oito milhões de euros da reserva da crise da União Europeia e 16 milhões de euros do Orçamento do Estado” para financiar os setores da carne de suínos, aves e ovos e leite de vaca.

Dinheiro

Mais Dinheiro

Patrocinados