Análise ao sangue consegue prever risco de ataque cardíaco (e morte) nos próximos quatro anos

7 abr 2022, 10:32
Análise sanguínea. (AP Photo/Luis Romero)

O teste em causa está apenas disponível em alguns estabelecimentos de saúde nos Estados Unidos. Para além de prever o risco de doença e morte, pode ainda servir de trampolim para o desenvolvimento de novos medicamentos

A empresa SomaLogic desenvolveu um exame sanguíneo que é capaz de prever o risco de ataque cardíaco, de enfarte do miocárdio e de insuficiência cardíaca em quatro anos. O teste em causa, para já em utilização apenas em quatro sistemas de saúde dos Estados Unidos, baseia-se na medição de proteínas no sangue, mais concretamente de 27 proteínas ‘preditivas’. Os níveis de precisão deste teste são de tal forma altos que o exame consegue ainda prever se a pessoa corre o risco de morrer à boleia destas patologias cardíacas.

Segundo o estudo que dá conta dos resultados promissores deste teste, publicado esta quarta-feira na revista Science Translational Medicine e que contou com a colaboração de cientistas da biotecnológica e de investigadores dos Estados Unidos, Suíça e Noruega, a análise de proteínas oferece uma visão mais ampla, mas ao mesmo tempo mais precisa sobre os órgãos, tecidos e células. Além disso, garantem, este teste é duas vezes mais eficaz do que os já existentes e que olham para dados como o colesterol e tensão arterial para medir o risco de doença cardíaca.

Para chegar a esta conclusão, foram analisadas amostras de plasma sanguíneo de 22.849 pessoas, sendo que validaram apenas 11.609 pessoas. Os cientistas passaram a pente fino cinco mil proteínas até chegarem à assinatura das 27 que podem, de facto, ajudar a perceber como será o futuro cardíaco de uma pessoa.

Assim que cruzaram todos os dados e conseguiram decifrar as 27 proteínas mais ‘preditivas’ - , sendo que 12 dessas proteínas estão associadas a características genéticas casuais e que podem estar na origem de um maior risco cardíaco -, os cientistas concluíram que o teste é capaz de categorizar as pessoas de acordo com o risco de evento cardíaco - se mais alto ou mais baixo. Assim que essa categorização foi feita, conseguiram ainda obter uma percentagem de probabilidade de sofrer um evento cardiovascular em quatro anos.

“Se a sua pontuação fosse alta [neste teste], teria aproximadamente uma hipótese em duas de um evento [cardíaco], mas o tempo médio para esse evento seria de pouco mais de 18 meses e o tipo de evento mais provável seria a morte”, diz Stephen Williams da SomaLogic, em declarações ao The Guardian.

Um teste pensado para outras doenças e para o desenvolvimento de novos fármacos

Para o investigador, que espera que este teste chegue em breve ao Reino Unido, estando já o Serviço Nacional de Saúde britânico de olho nesta inovação, a previsão que agora pode ser feita pode ajudar no desenvolvimento de novos fármacos cardioprotetores, que podem ser mais personalizados e direcionados não só para a pessoa em si, como para a doença e evento cardíaco que a espera.

Desde 2019 que cientistas da Universidade de Leeds, no Reino Unido, usam o modelo de análise de proteínas da SomaLogic para prever o risco de desenvolvimento e agravamento da diabetes tipo 2.

Também cientistas do Imperial College London vão unir esforços com esta biotecnológica para descobrir biomarcadores preditivos para o cancro e outras doenças, dando assim um passo mais além nos testes genéticos.

“Procurar biomarcadores quando as medidas são limitadas é restringir a um concurso de popularidade da literatura. Mas encontrar a melhor combinação requer uma abordagem altamente multiplexada e de alto rendimento, que nos permite aumentar o volume de todas as coisas necessárias para otimizar a pesquisa”, disse Williams, num artigo publicado na revista Nature.

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