Secretária de Estado da Saúde considera "um bocado exigente" a pressão sobre o Governo para resolver a crise no SNS. "Desculpem dizer isso"

CNN Portugal , BCE
8 ago, 13:49

 

 

Governo só concluiu duas das 54 medidas que se comprometeu a cumprir. Ana Povo pede menos exigência nos timings. Estas declarações à CNN Portugal surgem no dia em que Marcelo e Montenegro vão visitar o maior hospital do país, isto num contexto de grandes dificuldades no setor da Saúde. Grávidas e doentes oncológicos são dos mais afetados

A secretária de Estado da Saúde admite que o atual cenário no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com a crescente pressão nas urgências e constantes encerramentos, "não agrada a ninguém", mas argumenta que o Governo tem até ao final do mês para implementar o plano de emergência e pede menos exigência nos timings.

"Eu acho que é um bocado exigente - desculpem dizer esta afirmação - estarem já a pedir-nos que todas as medidas estejam concluídas", defende Ana Povo, em declarações à CNN Portugal, respondendo assim às críticas da oposição relativamente à crise no SNS.

Quando o Governo assumiu funções, a secretária de Estado diz que o Executivo estava "consciente das dificuldades que o setor [da saúde] vivia". Mas agora, diz, "constatamos que [as dificuldades] são maiores do que as esperadas".

Por isso, Ana Povo considera "um bocado exigente" a maneira como se está a pedir que o Governo implemente as 54 medidas que apresentou no final do mês de maio, no âmbito do programa de emergência para resolver a crise no SNS em três meses. Destas 54 medidas, apenas duas estão concluídas, 23 estão em curso e as restantes ainda não arrancaram, segundo os dados disponíveis no portal do SNS. Isto numa altura em que falta menos de um mês para o prazo estabelecido pelo próprio Governo.

Neste contexto, a secretária de Estado admite que "não é certo" que um plano para três meses "seja exatamente cumprido" nesse prazo, sobretudo nestas condições de "recursos humanos limitados", sendo que muitas vezes essa lacuna se resolve com recurso a médicos prestadores de serviços.

"Numa situação em que muitas urgências são completadas com recurso a médicos especialistas, mas médicos especialistas prestadores de serviços, é muito difícil dar um mapa exato para três meses", afirma.

Além disso, a governante afirma que, "apesar de não estarem concluídas, as restantes [medidas] que estão em curso já estão a ter resultados", dando o exemplo dos novos centros de atendimento clínico, uma medida que, lamenta, foi alvo de várias críticas, nomeadamente por haver quem entendesse esta iniciativa como "uma repetição das unidades de atendimento permanente das unidades de saúde familiar".

"Isso não é verdade. O objetivo dos centros de atendimento clínico é retirar [as pulseiras] verdes e os azuis das urgências hospitalares para diminuir a pressão e o tempo de espera. E esta medida não está concluída, mas está já em execução. E tal como estas, muitas outras", indica, acrescentando depois que é natural que os tempos de espera sejam maiores para os utentes com aquelas pulseiras, uma vez que "é muito difícil" dar "a mesma resposta aos utentes verdes e azuis quando estão em espera doentes com pulseira amarela e laranja.

Ana Povo responde ainda às críticas da oposição quanto aos "erros" nos mapas semanais sobre as escalas das urgências, argumentando que "ultimamente" tal "não tem acontecido" e defendendo essa estratégia "para garantir que não aconteça o que aconteceu no passado, que é grávidas em ambulâncias, a circularem de urgência a urgência, até encontrarem uma que esteja aberta".

Administradores hospitalares lamentam - em nome "dos doentes" - a maneira como os políticos estão a discutir o SNS

Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), lamenta que se esteja a "perder muito tempo a discutir de quem é a culpa, quem é que devia ter feito no passado e não fez e quem é que devia estar a fazer agora e não faz". Em contrapartida, diz, "perdemos muito pouco tempo a discutir o futuro".

"Nós sabíamos que o cenário ia ser difícil, fomos alertando para isso ao longo dos últimos meses, não tínhamos nenhuma expectativa de que um plano de emergência ou quaisquer medidas milagrosas pudessem evitar esta crise", diz o responsável, em declarações à CNN Portugal. 

Para o presidente da APAH, o grande problema do SNS é a falta de recursos. "E é sobre isso que temos de refletir: como é que, nos próximos anos, vamos gerir esta situação?", lança a questão, sugerindo duas soluções: "Se em algumas especialidades não temos médicos especialistas suficientes para garantir todos os pontos de urgência que tradicionalmente garantimos, então, claramente, temos de mexer numa destas duas dimensões: ou na constituição das equipas-tipo ou nos pontos da rede, reformulando a nossa rede de urgências."

Neste contexto de crescente pressão nas urgências de todo o país, o Presidente da República e o primeiro-ministro resolveram acompanhar esta quinta-feira a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, numa visita ao Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria e às instalações renovadas da Maternidade Luís Mendes da Graça.

Isto numa altura em que 1.547 doentes estão em lista de espera para cirurgia oncológica fora do tempo recomendado e dias depois de um fim de semana marcado pela transferência de cinco grávidas de hospitais públicos para privados - dias em que seis serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia de Lisboa e Vale do Tejo estiveram encerrados. Nos últimos dois meses, só na região de Lisboa e Vale do Tejo, já foram transferidas 42 grávidas do (SNS) para hospitais privados. E há um caso de uma grávida nas Caldas da Rainha que chocou o país.

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