Hospitais: as 25 listas de espera de cirurgias mais atrasadas do país

5 abr 2022, 13:00

Uma cirurgia na especialidade de otorrinolaringologia pode implicar uma espera de mais de 500 dias - 16 meses. Estomatologia, ortopedia e neurocirurgia são outras especialidades cuja espera ultrapassa largamente um ano. O problema é comum de norte a sul do país - e não é de hoje.

Uma cirurgia para tratar problemas de audição, dificuldades em respirar ou complicações nos ouvidos e na garganta pode levar mais de dois anos a ser feita no Serviço Nacional de Saúde. Há hospitais, como o Egas Moniz, em Lisboa, onde uma operação para a obesidade demora mais de um ano. E outros, como no Hospital de Portimão, no Algarve, onde o tempo de espera para ter uma vaga para ir ao bloco operatório tratar doenças da mama ultrapassa os 500 dias, ou seja, mais de 16 meses.  A pior situação vive-se, porém, em Faro. Aqui, um utente tem de ficar 823 dias (27 meses) na lista para ser operado a um problema nos dentes. 

As listas de espera demoradas repetem-se de norte a sul do país, atingem várias especialidades e afetam todas as idades, incluindo crianças. Há casos, como o do Hospital de Setúbal, com cirurgias pediátricas que demoram, em média, 508 dias até serem feitas.

Outros exemplos: as cirurgias para cataratas ou doença distrófica da córnea, ou as cirurgias vasculares para doenças das artérias, veias e linfáticos, podem implicar um ano na fila.

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As informações constam do site do Serviço Nacional de Saúde e foram analisadas pela CNN Portugal e pela TVI.  Ao todo, Portugal tem atualmente 203.051 pessoas no Sistema Integrado de Gestão de Inscritos para Cirurgia (SIGIC), segundo os dados referentes a janeiro de 2022 disponibilizados pelo Portal da Transparência

Uma em cada cinco pessoas já ultrapassou tempos clínicos

Nas listas, há duas situações diferentes: os que esperam dentro do que é considerado aceitável tendo em conta os critérios clínicos e os que já esperam além desse limite. Das cerca de 200 mil pessoas nas listas, pelo menos 42 mil pessoas na Lista de Inscritas em Cirurgia já ultrapassaram os “tempos máximos de resposta garantidos” (TMRG) definidos clinicamente. O tempo médio de espera considerado aceitável é de 180 dias - seis meses - para cirurgias não urgentes e não oncológicas.

Dentro dos tempos máximos de resposta garantidos (TMRG) estão 161.328 utentes na Lista de Inscritos em Cirurgia (LIC). Ou seja, uma em cada cinco pessoas em espera já ultrapassou os tempos recomendados em termos clínicos.

“Vejo esta situação com enorme preocupação, porque não sendo situações de emergência - aí o sistema acaba por dar resposta -, afeta a vida das pessoas, particularmente os mais frágeis que têm mais dificuldade em recorrer ao privado”, diz Jorge Roque Cunha, do Sindicato Independente dos Médicos (SIM). Por exemplo, “uma pessoa que tenha um problema sério no joelho, não consegue andar bem, não consegue trabalhar, fica de baixa durante meses”.

Comparando com os valores pré-pandemia, no final de 2019 estavam 242.949 utentes em LIC, e em 2018 eram 244.501. O número de pessoas em lista de espera para serem operadas nos hospitais públicos é assim ligeiramente inferior àquela altura, tal como se pode observar no Relatório Anual de Acesso a Cuidados de Saúde nos Estabelecimentos do SNS e Entidades Convencionadas em 2020, o mais recente até à data.

O número de utentes em lista de espera para cirurgia é elevado e, tal como o tempo de espera, é uma realidade de norte a sul do país. A CNN Portugal analisou a informação do site do Serviço Nacional de Saúde relativa aos tempos de espera e listou aqueles os 25 tempos de espera mais longos do país. É em Lisboa e Vale do Tejo que a situação parece mais complexa.

As 25 listas de espera mais longas do país

  1. 823 dias - cirurgia de estomatologia no Hospital de Faro (71 pessoas);
  2. 802 dias - cirurgia vascular no Hospital Distrital de Santarém (519 pessoas);
  3. 777 dias - cirurgia de otorrinolaringologia no Hospital São Bernardo, Setúbal (470 pessoas);
  4. 775 dias - cirurgia de estomatologia no Hospital São Bernardo, Setúbal (56 pessoas);
  5. 678 dias - cirurgia vascular no Hospital Garcia de Orta (527 pessoas);
  6. 617 dias - cirurgia de estomatologia no Hospital de Braga (648 pessoas);
  7. 587 dias - cirurgia na unidade de tratamento cirúrgico de obesidade no Hospital Egas Moniz, Lisboa (78 pessoas);
  8. 578 dias - neurocirurgia no Hospital de Dona Estefânia, Lisboa (30 pessoas);
  9. 566 dias - cirurgia de otorrinolaringologia no Hospital Garcia de Orta (852 pessoas);
  10. 544 dias - cirurgia de otorrinolaringologia no Hospital Distrital de Santarém (431 pessoas);
  11. 537 dias - cirurgia de otorrinolaringologia no Hospital Dr. José Maria Grande, Portalegre (78 pessoas);
  12. 508 dias - cirurgia pediátrica no Hospital São Bernardo, Setúbal (284 pessoas);
  13. 502 dias - cirurgia de otorrinolaringologia no Hospital Distrital do Montijo (217 pessoas);
  14. 501 dias - cirurgia na unidade de senologia no Hospital de Portimão (38 pessoas);
  15. 492 dias - cirurgia maxilofacial no Hospital de Braga (142 pessoas);
  16. 480 dias - cirurgia geral no Hospital Distrital de Santarém (1.092 pessoas);
  17. 437 dias - cirurgia de urologia no IPO Porto (para doença não oncológica) (44 pessoas);
  18. 431 dias - cirurgia de ortopedia no Hospital de Dona Estefânia, Lisboa  (487 pessoas);
  19. 417 dias - cirurgia de ginecologia no Hospital de Faro (363 pessoas);
  20. 413 dias - cirurgia de ortopedia no Hospital São Francisco Xavier, Lisboa (934 pessoas);
  21. 407 dias - cirurgia de urologia no Hospital de Vila Franca de Xira (402 pessoas);
  22. 391 dias - cirurgia plástica e reconstrutiva no Hospital de Dona Estefânia, Lisboa (347 pessoas);
  23. 385 dias - cirurgia plástica e reconstrutiva no Hospital do Espírito Santo, Évora (298 pessoas);
  24. 388 dias - cirurgia maxilofacial no Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca, Amadora-Sintra (6 pessoas); 
  25. 381 dias - cirurgia de oftalmologia no Hospital de Faro (1.264 pessoas).

Fonte: Tempos Médios de Espera do site do Serviço Nacional de Saúde


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