Especialistas explicam porque "não parece excessivo" ter passado uma hora e 20 minutos entre chamada para socorrer grávida e chegada ao hospital

31 out, 14:09
INEM

Mulher grávida de 38 semanas foi ao Amadora-Sintra na quarta-feira, tendo-lhe sido detetada "hipertensão ligeira". Foi enviada para casa com consulta marcada. Deu novamente entrada no hospital na madrugada desta sexta-feira, transportada por uma viatura de emergência médica - estava em paragem cardiorrespiratória. Entre a chamada para o INEM e a chegada ao hospital passaram uma hora e 20 minutos

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A cronologia da emergência, confirmada pelo INEM, é a seguinte: a chamada para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes ocorreu às 00h28; às 00h36 foi acionada uma Ambulância de Socorro; às 00h54 foi reportada paragem cardiorrespiratória; às 01h14 a VMER do Hospital Fernando da Fonseca implementou Suporte Avançado de Vida no local; e a doente deu entrada no hospital pelas 01h48, com acompanhamento da VMER — registo que o hospital fixa em "cerca das 01h50". Entre a chamada (00h28) e a chegada ao hospital (01h48) passaram uma hora e 20 minutos.

Ouvido pela CNN Portugal, o médico e antigo ministro da Saúde do PS Adalberto Campos Fernandes descreve como “razoável” o período que decorre entre a chamada inicial e a chegada da ambulância, no caso dos bombeiros, e diz que é “adequado” o período decorrido já após a chegada do INEM. “Porque eles estiveram depois, provavelmente, a tentar reanimar em casa. E face ao insucesso, conduziram ao hospital. O médico tenta fazer a reanimação, são manobras que podem demorar minutos, 15 minutos, às vezes mais até, e portanto a vítima está sempre a ser assistida durante grande parte deste tempo. São os tempos normais”, assegura Adalberto Campos Fernandes. 

Para Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), o período total entre chamada e entrada no hospital “não é de todo excessivo”. “A hora e vinte minutos faz sentido. E faz sentido porquê? Porque é feito o protocolo de reanimação na tentativa de recuperar a pessoa ainda no local — pressupõe-se que em casa. Só depois, não tendo sucesso, que foi provavelmente o que aconteceu, é que realizaram o transporte para o hospital, ainda e sempre em manobras de reanimação.” Estas manobras de reanimação têm, explica Rui Lázaro, um propósito: tentar salvar o feto. “Sobretudo por causa do feto, sim, e também para eventual preservação para órgãos. Portanto, sim, este tempo, ainda para mais havendo uma gravidez e hipótese de perda do feto, não me parece de todo excessivo.” 

Apesar disso, o presidente do sindicato adverte: decorreram mais de 20 minutos entre a chamada inicial, às 00h28, e os bombeiros informarem da paragem cardioreespiratória, às 00h54, ativando a VMER - “e isso é que pode ser um bocadinho excessivo”. No entanto, Rui Lázaro não aponta responsabilidades. “Mas aqui não sabemos que ambulância é que foi para lá e qual era o local, a distância. Ainda não sabemos.”

Perante o óbito, o Hospital Fernando da Fonseca anunciou a abertura de um inquérito interno para apurar “todas as circunstâncias associadas ao ocorrido”, conforme comunicado oficial da ULS Amadora/Sintra. A unidade de saúde lamenta o falecimento e apresenta condolências à família.

Quanto ao recém-nascido, a ULS Amadora/Sintra informa que permanece internado “sob vigilância médica, com prognóstico muito reservado”. 

Em paralelo, esta sexta-feira a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, que ainda não se pronunciou, será ouvida no Parlamento, às 15h00, no âmbito da discussão do Orçamento do Estado para 2026.

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