Como se apanha? E como se previne? Dez perguntas e respostas sobre a hepatite aguda em crianças

25 abr 2022, 16:00
Para já, não foram ainda reportados casos desta hepatite aguda em crianças em Portugal. (Pexels)

Ainda não há casos relatados em Portugal de casos de hepatite aguda como os já detetados no Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, mas a recomendação é para que todos estejam atentos. À CNN Portugal, o pediatra Fernando Chaves, do Hospital Lusíadas Lisboa, explica em que consiste esta hepatite aguda.

  1. O que é uma hepatite aguda?

A hepatite é uma inflamação do fígado causada por uma “variedade de vírus infecciosos e agentes não infecciosos”, descreve a Organização Mundial da Saúde (OMS). O termo aguda deve-se ao facto de, nestes casos, ser uma doença que “se instala, dura e desaparece, são quadros autolimitados”, começa por explicar o pediatra Fernando Chaves, do Hospital Lusíadas Lisboa. 

  1. Qual a origem desta hepatite aguda que tem atingido crianças?

Segundo a OMS, “a etiologia dos casos atuais de hepatite ainda é considerada desconhecida e permanece sob investigação ativa” e, deste modo, “testes laboratoriais para infecções adicionais, produtos químicos e toxinas estão em andamento para os casos identificados”. 

Para já, o que se sabe é que não é provocada por nenhum dos vírus causadores da doença e que estão na origem das hepatites do tipo A, B, C, D ou E, afirma o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). Mas há uma teoria, ainda não comprovada, diz a Reuters, que defende que esta hepatite pode ser de origem viral e causada por um “adenovírus de uma família comum de vírus que pode causar uma constipação comum, entre outras condições”. Diz a agência que se trata “de tipo de adenovírus que comummente causa gastroenterite aguda, e há relatos de que causa hepatite em crianças imunocomprometidas, mas nunca antes em crianças saudáveis”, que é o caso desta hepatite aguda agora relatada, o que mantém as dúvidas sobre a sua origem.

Para o médico pediatra, ainda é cedo para tirar conclusões, porém, explica que “o mais provável é que estes quadros se resolvam sem saber a causa”, defendendo que as hepatites de causa viral são “muito frequentes” em crianças e “felizmente pouco graves”.

  1. O que pode causar uma hepatite?

No leque de agentes infecciosos incluem-se os vírus, adenovírus (vírus com ADN com material genético capaz de causar infeções) ou bactérias, por exemplo. Quanto às causas não infecciosas, inclui-se aqui o consumo de produtos tóxicos, como o álcool ou alguns medicamentos, por exemplo. 

No caso das hepatites contraídas por vírus, por norma, são os cinco vírus da hepatite (A, B, C, D e E) os responsáveis pelo aparecimento da doença. Descoberta recentemente, há ainda a hepatite G, diz o Hospital Fernando Fonseca no seu site. No entanto, destaca o médico Fernando Chaves, “uma hepatite infeciosa pode ser provocada por qualquer vírus, até o vírus da gripe pode causar lesões hepáticas”. E dá um exemplo: “Há cerca de quatro meses tive uma criança com hepatite aguda no consultório causada pelo vírus sincicial respiratório”. 

“Dentro de um quadro de pandemia, o próprio coronavírus pode dar um quadro hepático”, destaca o médico.

  1. Quais são as formas de transmissão de uma hepatite?

Quando estão em causa hepatites causadas por agentes infecciosos, as hepatites A, B, C e D transmitem-se pelo contacto do sangue com outros fluídos, seja por via de relações sexuais, transfusões de sangue, partilha de seringas ou na gravidez de mãe para filho, tal como já foi explicado aqui. A hepatite G transmite-se através do contacto sanguíneo.

Já as hepatites A e E resultam da ingestão de água ou alimentos contaminados e, no que diz respeito à transmissão da E, esta dá-se “pelo consumo de água ou alimentos contaminados e, de um modo geral, não evolui para a cronicidade”, expica o site da CUF.

No caso desta hepatite aguda que afeta crianças, “não sabendo a causa, não se sabe como se dá o contágio”, destaca o médico.

  1. Quais os sintomas?

A hepatite aguda que afeta as crianças pode causar sintomas concretos como mal-estar, náuseas, vómitos, diarreia ou perda de apetite. Há ainda quem manifeste dor abdominal, dor muscular ou icterícia das escleróticas (cor amarelada na parte branca dos olhos), sendo este último o sintoma ao qual os pais mais devem estar atentos.

  1. Há formas de prevenir?

Ora, uma vez que ainda não se sabe qual é a forma de contágio, não é possível determinar a melhor forma de prevenção. De qualquer modo, as medidas de proteção para as outras hepatites são estratégias gerais de prevenção que devem ser tidas em conta para esta que está a afetar crianças e cuja origem é desconhecida, como é o caso da boa higienização das mãos, superfícies e alimentos, assim como evitar comportamentos de risco. A vacinação contra a hepatite B é a forma mais efetiva de prevenir a doença.

  1. Como é feito o tratamento?

“Não há tratamento para hepatite”, afirma o pediatra, que destaca que o quadro clínico determina o plano de ação por parte dos médicos, embora a prioridade seja deixar o fígado recuperar da inflamação.

Uma vez que “é um processo inflamatório, a criança pode necessitar de mais líquidos e de baixar a febre”. Em situações mais graves, “pode exigir o internamento” e “quando há hepatite aguda pode haver quadros de hipoglicemia grave, em que deve ser monitorizada a ingestão de líquidos e alimentos, por exemplo”, explica. 

  1. Quais as consequências?

O fígado é um órgão vital que desempenha um papel central no metabolismo das proteínas, gordura e hidratos de carbono (três nutrientes essenciais), filtra o sangue e ajuda a combater infeções, entre outras funções, e é o principal afetado em casos de hepatite.

Quando o fígado está inflamado, como acontece perante esta doença, a sua função pode ser afetada ou até mesmo falhar. Em alguns dos casos mais recentes de hepatite aguda em crianças, houve a necessidade de recorrer a transplantes de fígado. 

“É importante alertar para o papel que o fígado tem no nosso organismo, a lesão hepática pode provocar doença grave”, diz o médico, que se apressa a dizer que é importante manter a “vigilância” e prestar atenção a eventuais sintomas, mas que “a hepatite não é o fim do mundo, é uma coisa frequente que aparece e desaparece”.

  1. Em que países já foi detetada esta hepatite aguda que afeta crianças?

Pelo menos uma criança morreu e 17 precisaram de um transplante de fígado devido ao surto de hepatite aguda em crianças, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Num comunicado divulgado este fim de semana, a organização diz ainda que foram já confirmados 169 casos em crianças com idades entre um mês e 16 anos anos em 11 países.

A maioria dos casos foi identificada no Reino Unido, que registou 108 casos desde janeiro. O primeiro caso foi na Escócia, a 6 de janeiro. Outros países, incluindo os Estados Unidos, Israel, Dinamarca, Irlanda, Países Baixos e Espanha já relataram casos desta hepatite aguda. 

  1. Há casos em Portugal?

Para já, não foram ainda reportados casos desta hepatite aguda em crianças em Portugal. Apesar disso, em declarações à Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia (SPG) recomendou aos pediatras que estejam atentos a manifestações clínicas pouco visíveis.

 

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