A expressão “Colocar a pessoa no centro do Sistema de Saúde” tem muitos anos, mas, recentemente, o seu sentido ganhou maior relevância, e a sua efetivação maior premência.
A disrupção social causada pela pandemia de COVID-19 e a consequente urgência de proteger os mais vulneráveis, evidenciou as fragilidades dos modelos vigentes e obrigou à adoção de medidas de reestruturação a um ritmo bastante mais acelerado do que até então. O Sistema foi compelido a olhar para si mesmo de modo crítico, a derrubar barreiras muitas vezes meramente ideológicas, e a redesenhar-se, para poder assegurar, de modo eficiente e na menor distância e tempo, a melhor resposta às pessoas.
O mundo mudou. Herdámos desse período, que parece já tão longínquo, uma pressão sem precedentes sobre as instituições de saúde, e a evidente necessidade de uma abordagem mais integrada à prestação de cuidados, no sentido de uma maior eficiência dos recursos e facilidade na jornada de saúde da população.
Mas como legado, a pandemia deixou-nos também a certeza de que a mudança não só é desejável como é possível, e a melhoria nos resultados é alcançável, através de exemplos de projetos que obtiveram impactos tão significativos na vida das pessoas, que um retrocesso no novo normal deixou de poder ser sequer equacionado.
Veja-se o caso da chamada Operação Luz Verde, em que as pessoas a fazer medicação em ambulatório hospitalar deixaram de ter de se deslocar aos hospitais e passaram a poder aceder à sua terapêutica na farmácia comunitária de proximidade. O caminho em frente tornou-se inexorável e hoje estamos prestes a ter essa realidade aplicada de forma transversal a todo o país.
A prestação de cuidados integrados em saúde preconiza dois princípios essenciais: a colaboração entre os vários profissionais envolvidos na gestão da saúde da pessoa - os médicos de família, os médicos especialistas, os farmacêuticos hospitalares, os farmacêuticos comunitários, os enfermeiros, os terapeutas… -, e a utilização de tecnologia para facilitar a troca de informações e o seguimento das pessoas.
O programa de renovação da terapêutica crónica nas farmácias, a dar os primeiros passos em Portugal e que pressupõe um acompanhamento mais próximo das pessoas com doenças crónicas pelo farmacêutico comunitário e a criação de canais de comunicação para trocas de informação clínica com o médico assistente, é outro exemplo.
As vantagens de um Sistema de Saúde colaborativo, integrativo, que se ajusta às necessidades da população ao invés de esperar que sejam as pessoas a adaptar-se a fluxos pouco condicentes com a sua condição e vida, são múltiplas. Há mais eficiência na abordagem aos casos particulares, evitam-se duplicações e os potenciais erros associados. Há ganhos de tempo e poupança de recursos em toda a cadeia de prestação de serviço, e maior adesão das pessoas aos planos de tratamento propostos. Há, em suma, mais saúde e um sistema mais sustentável.
Passo a passo, vamos superando as barreiras colocadas pela fragmentação dos serviços de saúde, pela falta de recursos, pela infraestrutura tecnológica existente, e pela cada vez menor resistência dos profissionais à mudança e ao trabalho em equipas multidisciplinares. A inovação existe, e são várias as experiências em curso no país com bons resultados locais, tanto quantitativos como qualitativos. Importa reconhecer e sublinhar as boas práticas, escalar os projetos e, assim, maximizar o seu impacto.
É esse o objetivo dos Top Health Awards, uma iniciativa da associação Top Health que procura distinguir e dar expressão a projetos que contribuem para criar valor e resultados em saúde de forma inovadora e colaborativa, com foco na excelência e nos resultados, e centrados nas pessoas. Convido todos a conhecer e a partilhar as suas vivências. Afinal, é nesta partilha que se alicerça o desenvolvimento do Sistema de Saúde, rumo a um futuro que todos desejamos.