OMS diz que o fim da pandemia está para breve. E Portugal pode estar bem posicionado para isso

27 jan 2022, 08:35
Pandemia em Portugal

Mesmo com toda a imprevisibilidade que caracteriza o novo coronavírus, o cenário é de algum otimismo. Mas, para que as previsões batam certo, é preciso continuar a apostar na proteção e na vacinação

Mesmo com todas as ressalvas necessárias à boleia da imprevisibilidade deste novo coronavírus, o cenário é de otimismo e a unidade europeia da Organização Mundial da Saúde (OMS) veio mesmo afirmar que o fim da pandemia está para breve, mais concretamente, para março - seja à boleia da vacinação, da imunidade de grupo conferida pelo elevado número de novos contágios ou pela própria sazonalidade do vírus, que se tem mostrado menos resistente fora dos meses mais frios.

Também um recente relatório do Instituto Superior Técnico, em parceria com a Ordem dos Médicos, vem revelar que Portugal irá atingir o pico de infeções na primeira ou segunda semana de fevereiro e que no final desse mês é preciso começar a pensar no pós-covid, que é como quem diz, numa regresso à normalidade antes da chegada da pandemia.

À CNN Portugal, Carlos Antunes, matemático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e que tem monitorizado a evolução da epidemia em Portugal, partilha o otimismo e revela que, de acordo com as previsões feitas, os meses de março e abril poderão ser os da chamada ‘libertação’ portuguesa, mas tudo depende do momento em que o país atingirá o pico de infeções. 

Temos uma projeção que parte do pressuposto que teremos um pico em meados da primeira metade de fevereiro e que em finais de março possamos ter cinco milhões de casos diagnosticados. Sabemos que o número de infetados será superior, o que quer dizer que para março ou abril podemos ter 80-90% da população infetada, o que poderá dar uma classificação de fim de pandemia”, continua o especialista.

Já Filipe Froes, pneumologista, consultor da DGS e coordenador do Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, defende que é possível que a OMS “declare o fim da pandemia entre o final de primeiro semestre e o final da [época de] gripe no hemisfério sul”, que acontece no período de inverno que se dá de junho a setembro.

Um pouco otimista, mas sem fazer previsões a curto e médio prazo está Manuel Ferreira Magalhães, pneumologista pediátrico e professor auxiliar convidado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) e na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que continua a destacar que é preciso ultrapassar mais um inverno para respirar de alívio.

Percebo que efetivamente que o grau de transmissibilidade e infecciosidade é tão elevado que vai haver uma infeção muito significativa de uma grande maioria da população e vai haver proteção, mas tudo depende do que acontecer quando for o nosso período de inverno, que é quando o vírus ganha maior força. O coronavírus ganha mais força a partir do outono-inverno e ganha pico em janeiro. Até passarmos por aí e até termos um tratamento vai ser muito difícil aceitar que a pandemia acabou”, diz o especialista.

 

Fim da pandemia não depende apenas da Ómicron

A chegada da variante Ómicron veio mudar as regras do jogo da pandemia. Se a Delta fez soar os alarmes por apresentar uma maior taxa de óbitos e internamentos com um reduzido número de infetados, a Ómicron, mesmo com um grande grau de contágio, está a trazer alguma esperança e a tão aguardada luz ao fundo do túnel.

Uma vez que Portugal foi “dos primeiros países europeus” a ter a variante Ómicron em circulação, “podemos até alcançar [a endemia] mais cedo uma semana ou duas, mas depende dos outros países também”, refere Carlos Antunes. Além disso, ressalva o matemático, “as projeções que tenho são com algum grau de incerteza, porque não sabemos se o pico será no início ou meados de fevereiro e vai depender da contração da incidência”. 

A nível europeu, continua Carlos Antunes, “o ritmo [de contágios] leva a prever que em dois a três meses teremos mais de 50% da população [europeia] infetada e que isso nos poderá levar a uma fase entre pandemia e endemia”, tal como prevê a Organização Mundial da Saúde. Porém, o matemático deixa claro que há demasiados fatores em jogo, sendo o ritmo a que a vacinação decorre no mundo um dos mais determinantes, sem nunca esquecer as surpresas que são já características deste novo coronavírus. 

A Europa poderá estar perto de passagem para endemia, mas é preciso cautela, a nova linhagem está a ser estudada e podem surgir novas variantes”, adverte Carlos Antunes, frisando que “tem de haver vigilância, mas a monitorização diária e constante deixará de ser necessária porque a gravidade da doença é baixa, pela vacinação e variante ser menos patogénica”.

Também o pneumologista Filipe Froes defende que “temos de ter a noção que o facto de agora chegarmos aqui e podermos aliviar algumas medidas progressivamente é fruto do esforço feito até agora”, sendo que, continua, “se as pessoas desvalorizarem a pandemia arriscamos a voltar para trás e demorar mais tempo a terminá-la”.

Deste modo, para o pneumologista, tão ou mais importante como o comportamento do vírus é o comportamento da população. Filipe Froes defende que se as pessoas a mantiverem “o nível de atenção e responsabilidade”, a chegada de “mais fármacos” e uma maior “taxa vacinal”, fatores aliados “à saturação de novos caso que a Ómicron desencadeia”, só assim poderá ser possível ditar o fim da pandemia.

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