Escolas com mais casos de covid-19 e sem informação clara sobre as regras. Especialista insiste: a ventilação é a solução

13 mai 2022, 07:00
Regresso às aulas em Vila Nova de Gaia

A nível nacional, deixou de existir o registo da situação da covid-19 nas escolas. Mas há escolas que mantêm essa prática, inclusive avisando os encarregados de educação de casos positivos nas turmas dos filhos. O fim da máscara está a fazer aumentar o número de casos também na comunidade educativa. Um especialista de saúde pública explica que, sem salas devidamente ventiladas, a transmissão irá continuar a dar-se. Algumas escolas lamentam que, para lá do anúncio da queda da máscara, não tenham sido informadas de que outras regras deixaram de se aplicar em março

As escolas estão a registar mais casos de covid-19 entre alunos, professores e funcionários. Contudo, apesar da subida dos números, as direções asseguram que a subida não está a afetar o seu normal funcionamento.

“Consegue-se perceber o aumento. Pelo menos, não é um abrandamento. O que agora acontece é que estamos a lidar com uma certa normalidade. Não está a afetar a vida do agrupamento”, conta Dulce Chagas, diretora do Agrupamento de Escolas de Alvalade, em Lisboa.

No mesmo sentido segue a diretora do Agrupamento de Escolas Aurélia de Sousa, Margarida Teixeira: “Tenho conhecimento de alguns casos, mas não sinto que seja um volume muito grande. Neste momento, não afeta o normal funcionamento. Até porque já adquirimos alguma experiência”.

Mas os especialistas em saúde pública alertam que é preciso estar atento a esta realidade. À CNN Portugal, Bernardo Gomes fala mesmo numa “explosão de casos entre os 10 e os 19 anos de idade”. O relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) relativo à primeira semana de maio mostra que esta faixa etária é aquela que regista o segundo maior aumento em termos absolutos, face à semana anterior: com 8279 casos, mais 2660. 

O cenário nas escolas é confirmado por Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, ao lembrar que já existiram períodos com maiores motivos para preocupação. “Temos professores e funcionários em casa, mas em números bastante inferiores aos que já tivemos. É natural que haja pessoas doentes porque a pandemia não acabou. Se o número de casos aumentar na sociedade também vai aumentar na comunidade escolar”, afirma.

Escolas mantêm regras (e identificam casos)

Apesar do uso obrigatório de máscara ter caído em abril, levando com ele outras medidas, há escolas que têm mantido mecanismos de proteção contra a covid-19. Nos dois agrupamentos escolares ouvidos pela CNN Portugal, por exemplo, continuam disponíveis os dispositivos para a higienização das mãos. O uso é que passou a ser opcional.

A nível nacional, a DGS confirma que deixou de existir um inventário sobre a situação de covid-19 nas escolas, mas há estabelecimentos de ensino que não abdicaram de registar os casos com que se vão deparando. “Continuamos a fazer esse registo de professores e turmas com casos”, explica Dulce Chagas. Já Margarida Teixeira conta que, sempre que é possível, os pais são avisados de que algum colega dos filhos testou positivo.

“Há escolas que ainda mantêm bolhas nos recreios ou desinfeção das mãos à entrada. Cada escola estabelece as regras que lhe parecem necessárias”, atesta Paulo Ascensão, presidente da CONFAP – Confederação Nacional das Associações de Pais.

Para que a aprendizagem seja afetada ao mínimo, as escolas apostam nas plataformas tecnológicas. “Mesmo quando estivemos quase a 100% no registo presencial, continuámos a manter toda a estrutura tecnológica”, diz Dulce Chagas.

Ventilar, ventilar, ventilar

“Continuamos sem algo fundamental no centro do discurso: a ventilação”. Quem o diz é o médico de saúde pública Bernardo Gomes, quando questionado sobre como a covid-19 está presente na vida escolar depois de terem caído as máscaras. “As escolas não podem fazer mais do que já fizeram com este nível de transmissão comunitária”.

Medidas como a desinfeção das mãos ou a existência de circuitos, diz, de nada servem quando os alunos têm de partilhar salas muito pouco ventiladas. “O essencial é a ventilação das salas. Das duas uma: ou se põe aparelhos para melhorar a filtragem do ar, ou arranja-se espaços alternativos”, posiciona.

O especialista diz compreender a decisão do Governo de retirar o uso obrigatório de máscaras, mas lamenta que esse anúncio não tenha sido acompanhado por uma mensagem clara: não ser obrigatório não significa uma ordem para retirar. Quem se sentir mais confortável, pode continuar a usar.

Bernardo Gomes avisa que começam a surgir novamente relatos de sobrecarga nos hospitais devido à covid-19 e lamenta que se tenha deixado “cair o papel fundamental das farmácias e dos laboratórios”, com o fim da testagem gratuita – que coloca o vírus em circulação sem um controlo tão apertado. “Com a positividade nos 40%, o número real de casos é muito maior do que as pessoas possam pensar”, insiste. E a escola, como reflexo da sociedade, não escapará a esta lógica.

Sem informação do Governo

As escolas asseguram que não foram informadas diretamente pelo Governo – seja pela DGS, pelo ministério da Saúde ou pelo ministério da Educação – sobre um conjunto de regras que há muito deixaram de ser obrigatórias. Em causa está o chamado “Referencial Escolas – Controlo da transmissão de COVID-19 em contexto escolar”, que foi revogado a 15 de março, como confirmou a DGS à CNN Portugal, passando-se então a aplicar as regras gerais.

Desde aí que a higienização com álcool-gel, as bolhas, o impedimento dos pais entrarem nas escolas, a proibição de banhos nos ginásios ou os percursos de circulação deixaram de se aplicar – mesmo que vários estabelecimentos de ensino as mantenham, seja por vontade das respetivas direções, ou por não terem sido diretamente informadas pela tutela.

“À escola não chegou nenhuma indicação específica. Estamos a usar a informação para a população em geral. Não houve nenhuma diretiva a chegar diretamente”, confirma Dulce Chagas, diretora do Agrupamento de Escolas de Alvalade.

À CNN Portugal, também Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, insiste que a única indicação recebida pelas escolas foi a do fim do uso obrigatório das máscaras.

Relacionados

Covid-19

Mais Covid-19

Patrocinados