A pandemia ainda não acabou. Especialistas deixam alerta para medidas indispensáveis nos convívios da Páscoa

17 abr 2022, 08:00
Encontro familiar em tempos de pandemia. (Pexels)

É a terceira Páscoa em tempos de pandemia e aquela com menos medidas gerais de contenção. Mas isso é quer dizer que já se pode relaxar nos convívios familiares? Não. E os especialistas explicam que cuidados as pessoas devem ter em conta

Atualmente, o cenário pandémico é menos assustador do que aquele que se verificou na Páscoa dos últimos dois anos. Mas isto não quer dizer que o perigo não exista.

Pelo facto de ser uma época festiva e, sobretudo, familiar, torna-se importante evitar o que aconteceu noutras festividades, como o Natal e, mais recentemente, o Carnaval, que levou a uma subida do número de novas infeções entre os mais jovens, alerta o matemático Óscar Felgueiras em entrevista à CNN Portugal.

Para Óscar Felgueiras, embora seja “um facto que os casos [de covid-19] têm descido” e que essa tendência de decréscimo é positiva, a Páscoa poderá trazer uma subida de casos tal como o Carnaval, altura em que “tivemos um fenómeno essencialmente centrado nos jovens entre 15 e os 24 anos que foi particularmente forte: houve quase uma duplicação de casos nessas faixas etárias e acabou por ser o que impediu o aligeiramento dos óbitos” entre os mais velhos.

“É preciso relembrar que o vírus está a circular muitíssimo facilmente entre a população e que só não temos muitos casos graves e mais mortes porque temos uma excelente cobertura vacinal. Mas continuamos a ter pessoas mais frágeis que, mesmo vacinadas, podem não resistir a uma infeção por covid”, alerta Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, defendendo que “para esta Páscoa, é importante manter alguns cuidados preventivos para chegar em segurança aos festejos familiares”.

Também Graça Freitas alertou esta semana que a Páscoa é um período que merece atenção e que, apesar de o caminho ser o da "libertação total", o certo é que todo o cuidado continua ser importante. A diretora-geral da Saúde pede contenção nesta época de grandes convívios familiares e apela à população para que reforce os cuidados e as medidas de contenção.

Para Miguel Castanho, “a Páscoa é semelhante ao Natal” em dois aspetos: a mobilidade das famílias e as reuniões familiares, “frequentemente com algumas pessoas idosas e visitas a lares de idosos”. Estes dois fatores, por si só, requerem cuidados, mas o professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa e investigador no Instituto de Medicina Molecular (IMM) salienta que há “uma diferença importante” entre a Páscoa e o Natal: “estamos em primavera, com bom tempo”.

“É importante comparar os dados de incidência e mortalidade de Abril de 2021 com 2022. Em 2021 estávamos melhor mas, mesmo assim, o verão foi conturbado e o inverno também. É preciso prevenir uma repetição da situação”, diz Miguel Castanho

Páscoa em tempos de pandemia: a comparação

Na semana antes do Domingo de Páscoa de 2020, de 6 a 12 de abril, Portugal registou 4.855 novos casos (uma média de 693 por dia) e 193 novos óbitos (uma média de 27 por dia). Na altura, o país estava confinado - e ainda a tentar perceber como reagir a um novo agente infeccioso. 

No ano seguinte, a 4 de abril de 2021, o Domingo de Páscoa ficou marcado por uma semana com 2.928 novos casos de covid-19 em Portugal (média de 418 por dia). Os boletins divulgados na semana antes do feriado reportavam ainda 42 óbitos em sete dias (uma média de seis a cada dia). Na altura, Graça Freitas alertava para a importância de manter as medidas de contenção até que as vacinas começassem a ser administradas. 

Na última semana, revela o relatório da DGS divulgado esta sexta-feira, há mais 59.434 casos confirmados (uma média a rondar os 8.490 por dia), menos 2.528 do que na semana anterior. Não se registaram internamentos em UCI e nas enfermarias entraram mais 60 pessoas, estando agora 1.172 internadas. 

Nos últimos sete dias faleceram 145 pessoas (20 por dia, em média), menos sete do que o registado no relatório anterior, o que representa uma mortalidade de 14 por milhão de habitantes. A incidência baixou 4%, estando agora nos 577 casos por 100 mil habitantes. Tal como no relatório da semana passada, o R(t) mantém-se nos 0,94.

  2020 2021 2022
Média diária de novos infetados 693 418 8.490
Média diária de óbitos por covid 27 6 20

Após dois anos de pandemia, o vírus continuar a disseminar-se com alguma rapidez, sobretudo à boleia da variante Ómicron. O número de novos casos é maior agora do que nas últimas duas Páscoas, mas a média diária de óbitos mantém-se inferior à de 2020, mas longe da de 2021.

Apesar de os números serem 'piores' agora, a verdade é que Portugal beneficia da elevada taxa de vacinação (atualmente 91,4% da população portuguesa tem a vacinação completa, isto é, duas doses e a de reforço), do facto de o vírus já circular pela comunidade e de uma grande parte dos portugueses terem a chamada imunidade natural, fatores que podem contribuir para um cenário mais animador, como disse à CNN Portugal o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.

Especialistas deixam conselhos para uma Páscoa segura

“A Páscoa consiste num risco em termos de impacto, mas a situação está relativamente controlada”, sobretudo no que diz respeito aos internamentos em unidades de cuidados intensivos, frisa Óscar Felgueiras, docente na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. Também Carlos Antunes, matemático e investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, considera que o facto de a Páscoa estar dentro do período de estado de alerta - que entretanto foi prolongado até dia 18 de abril - fará com que haja alguma proteção, o que poderá ajudar a controlar uma subida do número de infeções.

Mas, que tipo de proteção importa ter numa altura em que o vírus começa a assumir características de endemia no nosso país?

Segundo Miguel Castanho, “as recomendações são iguais às do Natal”, mas o facto de se estar na primavera e com bom tempo faz com que seja “muito facilitada” a implementação das medidas de proteção “no que diz respeito a uso preferencial de espaços ao ar livre e arejamento de espaços interiores”.

O investigador aconselha ainda o “uso de máscara em espaços fechados, sobretudo em ajuntamentos de muitas pessoas” e a realização de “testes rápidos antes das reuniões familiares com isolamento para casos positivos”. Cada português tem direito a dois testes gratuitos até ao final do mês. Quanto aos lares de idosos e estabelecimentos de saúde, mantém-se a recomendação do “uso de máscara e teste rápido prévio”.

O médico Gustavo Tato Borges recomenda também a realização de testes, mesmo em “assintomáticos”, e “o uso de máscara sempre que estivermos em espaços fechados com pessoas fora do nosso agregado familiar e evitar cumprimentos com contacto físico. Mesmo que estejam todos vacinados, continuam a ser medidas importante de prevenção”. E, “tendo algum tipo de sintomas, não devemos negligenciá-los, sendo fundamental realizar um teste de rastreio”, continua.

“Também é importante evitar participar em festas e eventos não familiares onde poderão estar muitas pessoas e onde o uso de máscara pode não ser obrigatório”, continua o representante dos médicos de saúde pública.

Por fim, diz Tato Borges, “depois dos festejos, a realização de um novo teste também pode ser um passo importante para evitar uma maior disseminação”.

“Se ainda não está vacinado, vacine-se”, conclui Miguel Castanho.

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