Investigadora testa em si própria antiviral Paxlovid para recuperar da long covid - e teve sucesso (mas cuidado: ainda é cedo para grandes conclusões)

18 abr 2022, 18:08
Sintomas de Long Covid

A long covid pode durar meses e há relatos de quem nem trabalhar consiga durante esse período

Pelo menos dois doentes com long covid sentiram melhoras após a toma do antiviral Paxlovid da Pfizer. A informação está a ser avançada pela Reuters e um dos pacientes é uma investigadora, que testou nela aquele fármaco.

Os mais recentes relatos dão a conhecer alguns factos sobre os ensaios clínicos para ajudar os que sofrem da "long covid", uma condição que afeta cerca de 30% das pessoas que ficaram infetadas com o vírus. A long covid pode durar meses e há relatos de quem nem trabalhar consiga durante esse período.

As dores musculares ou no peito, a fadiga, falta de concentração, confusão mental, anosmia, ageusia e a dificuldade respiratória são alguns dos sintomas mais recorrentes nestes doentes.

A investigadora que decidiu tomar o fármaco garante que os sintomas que sentia desapareceram após esta terapia, que consiste na toma de apenas dois comprimidos. Antes de tomar Paxlovid, a mulher relatou que sentia que tinha sido atingida "por um camião" ao mínimo esforço físico.

Steven Deeks, professor de medicina da Universidade da Califórnia e especialista na pesquisa da cura para o HIV, disse que as empresas farmacêuticas tendem a desconsiderar estudos cuja amostra se baseia em poucos pacientes. No entanto, garante que casos isolados já impulsionaram a investigação na cura do HIV, acreditando que os casos dos doentes com long covid que tomaram Paxlovid podem ser determinantes para perceber a cura para a covid-19.

“Estes pacientes forneceram factos realmente fortes de que precisamos de estudar a terapia antiviral neste contexto o mais rapidamente possível”, disse.

As provas mais substanciais decorreram de um estudo do National Institutes of Health (NIH), no qual os investigadores realizaram a autópsia a 44 pessoas que morreram de covid ou de outra patologia mas que estavam infetadas com o coronavírus. Em todas os pacientes foi possível detetar uma infeção generalizada em todo o corpo, inclusive no cérebro, que pode durar mais de sete meses desde o início dos sintomas.

O relato de quem melhorou

Uma mulher de 47 anos contraiu o vírus no verão de 2021, apesar de já estar vacinada contra a covid-19. Sem patologias associadas, a maior parte dos sintomas agudos dissipou-se em 48 horas.

No entanto, a paciente revelou fadiga severa, algum nevoeiro cerebral e exaustão após fazer exercício. Também relatou insónias, batimentos cardíacos acelerados e dores no corpo severas, sintomas que a levaram a não conseguir trabalhar.

Cerca de seis meses após a infeção, a mulher foi reinfetada e foram muitos os sintomas agudos que regressaram, levando a médica que a acompanhou a receitar a toma de Paxlovid durante cinco dias. Ao terceiro, a paciente notou melhorias dos sintomas. "Voltou ao normal", revelou Linda Geng, médica e autora do relatório da investigação, publicado na Research Square.

Já o segundo caso diz respeito a Lavanya Visvabharathy, de 37 anos, imunologista que trabalha numa clínica e se dedica ao estudo da long covid. A mulher ficou infetada em dezembro de 2021 e os sintomas iniciais foram leves.

Porém, a imunologista ficou com fadiga crónia, dores de cabeça e distúrbios do sono durante quatro meses após a infeção. Manteve também o teste à covid positivo em testes rápidos de antigénio, um sinal da persistência viral no organismo.

Dessa forma, Visvabharathy decidu experimentar Paxlovid na tentativa de eliminar a restante parte do vírus do organismo. Ao quinto dia, os sintomas de fadiga e insónia melhoraram e a periodicidade das dores de cabeça ficou menos frequente. Duas semanas após terminar o tratamento, a fadiga desapareceu. "É 100% fiável", garantiu, explicando no entanto que provar os benefícios de Paxlovid exigiria ensaios clínicos cuidadosamente controlados.

Paxlovid (Getty Images)

O Paxlovid

O Paxlovid combina um novo fármaco da Pfizer com o antigo antiviral "ritonavir" e está atualmente autorizado para uso em doentes que se encontrem nos primeiros dias de uma infecção por covid-19, de maneira a prevenir doenças graves em pacientes de alto risco.

O porta-voz da Pfizer, Kit Longley, revelou que a empresa não tem estudos feitos sobre a long covid e não adiantou se estão a considerar fazê-los.

Atualmente, existem menos de 20 ensaios clínicos liderados por investigadores individuais ou pequenos fabricantes de medicamentos a testar tratamentos para a covid de longa duração, de acordo com a agência Reuters.

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