Apesar de 66% das seguradoras afirmarem cobrir sessões de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, na prática, dois terços dessas seguradoras cobrem apenas 10 sessões ou menos
Atrair e reter talentos passa, cada vez mais, por uma dinâmica de employee value propositon, com o pacote salário, oportunidades de carreira, flexibilidade e benefícios a serem tidos em conta. No campo dos benefícios, com a pandemia, os relacionados com a saúde ganharam ainda maior relevância junto dos colaboradores e, atualmente, 90% das empresas oferecem seguro de saúde. Mas persiste uma lacuna: as coberturas dedicadas à saúde mental, revela o estudo “Mercer Marsh Benefits Health Trends 2023”, a que a Pessoa teve acesso.
“As escolhas e decisões dos colaboradores são cada vez mais decorrentes de um conjunto de fatores que não apenas a compensação, e essas escolhas dependem das suas prioridades, preferências e necessidades. Neste contexto, a opção de escolha é chave, e os benefícios, ou em particular do seguro de saúde, podem traduzir-se numa vantagem competitiva, o que é chave para a atração e retenção”, começa por explicar Miguel Ros Galego, business leader da Mercer Marsh Benefits Portugal.
“A pandemia levou a algumas alterações naquilo que são as prioridades e fatores mais valorizados pelos colaboradores. A saúde e a proteção dos familiares ganhou ainda mais relevância para os colaboradores, pelo que uma empresa que ofereça benefícios neste contexto (que permitam ao colaborador sentir o seu bem-estar físico e dos seus está assegurado) poderá ter uma vantagem competitiva”, continua.
No que toca à saúde mental, tem-se verificado ao longo dos últimos anos uma “crescente consciencialização” da saúde mental enquanto risco organizacional, sendo Portugal apontado como um dos países em que as pessoas correm o maior risco de burnout. Contudo, a emergência do tema não se traduz necessariamente em seguros de saúde com essa cobertura. Em 2022, cerca de uma em cada cinco seguradoras (16%) não contemplam uma cobertura de saúde mental (contra 26% em 2021). Apesar de existir um progresso, a oferta das seguradoras nesta área é ainda “muito limitada”, salienta a consultora no estudo.
Dois terços das seguradoras (66%) afirmam cobrir sessões de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico, mas, na prática, dois terços dessas seguradoras cobrem apenas 10 sessões ou menos. Pressupondo que é feita uma sessão por semana, significa que o plano cobre apenas 20% das despesas médicas, o que é, para a Mercer Marsh Benefits Portugal, “insuficiente”.
“É positivo ver que existe uma maior preocupação das seguradoras com a saúde mental, mas as estão ainda aquém das necessidades”, comenta Miguel Ros Galego.
“Em Portugal, as seguradoras oferecem apenas apoio à saúde mental através das suas redes wellbeing a preços ou com descontos convencionados, pelo que existe claramente ainda um caminho a percorrer nesta área. A atenção à saúde mental dos colaboradores é chave no sucesso da gestão de pessoas nas organizações, pelo que cabe aos profissionais de RH terem a capacidade de garantir essa lacuna nos seus planos de saúde ou encontrar modelos outros de promoção da saúde mental dos seus colaboradores”, defende.
A cobertura de sessões de acompanhamento psicológico e/ou psiquiátrico na Europa é a mais limitada, com apenas 6% das seguradoras a oferecerem sessões ilimitadas. O valor compara com o Médio Oriente e a Ásia, onde 29% e 16% das seguradoras oferecem, respetivamente, sessões ilimitadas neste campo.
Os riscos emocionais ou mentais são o terceiro maior fator de risco a influenciar os custos médicos de grupo assegurado pelos empregadores a nível mundial, e o segundo maior fator na Europa, América Latina e Caraíbas.
Outras tendências nos cuidados de saúde assegurados pelas empresas
Além da persistência de lacunas nas coberturas dedicadas a saúde mental, o estudo desenvolvido pela Mercer Mars Benefits (MMB) identifica outras quatro tendências nos cuidados de saúde asseguradas pelas empresas. A primeira é, desde logo, o aumento dos custos médicos por pessoa, que estão a aproximar-se dos níveis pré-pandémicos; seguindo-se o impacto da Covid-19 nas reclamações; a modernização em curso dos planos de saúde; e a necessidade de maior rigor na gestão do plano de saúde.
O aumento contínuo da inflação torna-se a principal preocupação das organizações. Perante o inevitável impacto do atual contexto económico, o estudo sublinha a importância das empresas contemplarem este fator nas ofertas de benefícios para 2023. Mais de dois terços (68%) das seguradoras acreditam que as organizações farão melhorias nos planos de saúde, de forma a promover a atração e retenção de talento e o compromisso dos colaboradores, utilizando os benefícios como uma forma de diferenciação num mercado de trabalho competitivo. Esta tendência verifica-se sobretudo na Ásia (73%) e na Europa (73%).
“As organizações devem preparar-se para um aumento da inflação e da tendência dos custos em saúde, mas terão de conseguir um equilíbrio entre o lado financeiro e a gestão das pessoas. Num mercado de trabalho pressionado, os planos de saúde continuam a ser um importante fator distintivo. É necessário ouvir os colaboradores e priorizar os benefícios e programas que mais valorizam”, afirma Miguel Ros Galego.
Os resultados deste estudo indicam que a preocupação com o bem-estar se deverá manter, estando em linha com os resultados do estudo “Global Talent Trends 2022”, que revelaram que um em cada três colaboradores renunciaria a um aumento salarial em troca de benefícios de saúde para si ou para os seus familiares.
Cinco recomendações
Face aos resultados apresentados pelo estudo, a Mercer Marsh Benefits deixa ainda as seguintes recomendações dirigidas às empresas:
- Prepare-se para futuros aumentos de custos relacionados com a inflação, não desvalorizando a importância do seguro de saúde enquanto ferramenta de atração e retenção de talento;
- Questione as seguradoras acerca da verdadeira extensão da sua cobertura de saúde mental;
- Explore a funcionalidade e a qualidade dos serviços digitais oferecidos pelas seguradoras, compreendendo de que forma estes se podem enquadrar nos benefícios oferecidos;
- Promova o rastreio e diagnóstico precoce de doenças crónicas, de forma a ajudar a gerir futuras despesas médicas;
- Esteja atento a eventuais mudanças nos requisitos das seguradoras relacionadas com as suas práticas de subscrição e desenvolva um plano eficaz para os cumprir.
O estudo, desenvolvido pela Mercer Marsh Benefits inquiriu 226 seguradoras de 56 países para identificar as principais tendências futuras dos cuidados de saúde assegurados pelas empresas.