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Psicóloga e membro da Delegação Regional dos Açores da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

O Psicólogo Responde: como distinguir entre stress normal e ansiedade que precisa de ajuda?

19 out, 10:00
Ansiedade (Pixabay)

Numa época marcada pelo imediatismo e pela incerteza, o stress tornou-se uma experiência generalizada. Contudo, nem sempre é claro onde termina o stress considerado “normal” e começa a ansiedade que requer ajuda profissional. A distinção é fundamental, não apenas para compreendermos os nossos próprios limites, mas também no sentido de se colaborar na prevenção da doença mental.

O Stress enquanto resposta adaptativa e temporária

O stress é um mecanismo natural de adaptação. Perante um desafio ou ameaça, o nosso corpo ativa respostas fisiológicas, como o aumento da frequência cardíaca, libertação de adrenalina e maior vigilância cognitiva, com o objetivo de nos preparar para a ação. Desejavelmente, é um fenómeno pontual e autorregulável. Resolvida a situação, o corpo tende a regressar ao equilíbrio. Em contextos específicos, o stress até pode ter um efeito positivo. Sob a pressão de uma avaliação académica ou de um prazo profissional, estas reações potenciam a nossa concentração e produtividade. O risco surge quando os estímulos stressantes perduram no tempo ou quando a pessoa não dispõe de recursos adequados para os gerir.

Ansiedade patológica - quando a preocupação se torna disfuncional

A ansiedade patológica, embora partilhe algumas manifestações físicas do stress, distingue-se pela duração, intensidade e impacto na vida quotidiana. Deixa de estar associada a um estímulo concreto e passa a assumir um carácter persistente e generalizado. O nosso corpo não está preparado para essa sobrecarga constante e começa a dar sinais, entre eles, salientam-se os seguintes:

  • Preocupação constante, difícil de controlar, mesmo em situações banais.
  • Sintomas físicos recorrentes, como palpitações, tensão muscular ou dificuldades respiratórias.
  • Alterações do sono e fadiga crónica.
  • Evitamento de situações sociais ou profissionais por receio de falhar ou ser avaliado negativamente.

Quando estes sintomas ultrapassam a reação adaptativa e interferem no funcionamento diário, é provável que estejamos perante um quadro de ansiedade clínica, que exige uma avaliação por parte de profissionais de saúde mental.

Estratégias de gestão do stress

A literatura científica é consensual quanto ao papel das estratégias de autocuidado na prevenção da escalada do stress para a ansiedade patológica. Entre as práticas mais eficazes destacam-se:

  1. Planeamento e organização - Fazer listas de tarefas, estabelecer prioridades e resolver as pendencias, reduz a sensação de sobrecarga mental.
  2. Subdividir a lista de preocupações em duas colunas. Na primeira coluna coloque o que está ao seu alcance resolver. Na segunda, destaque o que não está ao seu alcance e aprenda a libertar-se do que não é seu. Os sentimentos e as expectativas dos outros, por exemplo, não são seus, tente confiar na capacidade da outra pessoa “resolver” o que é dela.
  3. Atividade física - O exercício físico regular, além de ser um tempo de cuidado pessoal contribui para a sua saúde e para libertação de neurotransmissores associados ao bem-estar.
  4. Técnicas de relaxamento - Exercícios de respiração, meditação ou yoga demonstram ter um impacto positivo na gestão do stress.
  5. Limitação de estímulos nocivos - Estabelecer pausas digitais, definir horários de descanso e estabelecer uma boa higiene de sono são essenciais para recuperar a energia.
  6. Suporte social - Partilhar a sua vida com familiares e amigos, atua como um importante fator protetor da saúde mental. Com as nossas pessoas podemos trabalhar a autenticidade, o humor, a gratidão, a apreciação e a curiosidade!

Quando procurar ajuda?

A fronteira entre o stress e a ansiedade patológica pode ser subtil, mas um critério útil é observar se os sintomas persistem para além da situação desencadeadora e se afetam a qualidade de vida ou o desempenho diário. Nestes casos, é aconselhável procurar um apoio especializado. A psicoterapia, nomeadamente as abordagens cognitivo-comportamentais, tem demonstrado elevada eficácia nesta área.

A diferenciação entre stress e ansiedade patológica exige atenção ao contexto, à duração e ao impacto dos sintomas. Enquanto o stress, em doses moderadas, atua como fator adaptativo, a ansiedade persistente configura uma perturbação que compromete o bem-estar e requer acompanhamento clínico.

Promover a literacia em saúde mental, investir em estratégias de prevenção e reduzir o estigma associado ao pedido de ajuda são passos essenciais para sociedades mais saudáveis e resilientes, pois, tal como na saúde física, também na saúde mental, quanto mais cedo se cuidar do problema, melhores serão os resultados!

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