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A realidade da Maria é igual a tantas outras, a viver como se estivesse constantemente a apagar “fogos”. Apesar de o seu trabalho se centrar em tarefas de organização e de manutenção da agenda dos outros, a sua própria agenda era marcada por uma sequência de interrupções: chamadas urgentes, pedidos de última hora e a necessidade de resolver imediatamente problemas inesperados. Estar disponível e lidar com a imprevisibilidade do fluxo de trabalho fazia com que se sentisse permanentemente nervosa e com a sensação de nunca ter tempo para si própria. Sentia necessidade de um equilíbrio que o seu dia a dia parecia não permitir.
Só quando se decidiu focar naquilo que podia controlar, nas suas rotinas pessoais, é que a mudança começou. Em vez de tentar organizar o caos do escritório, criou fronteiras sólidas: tomar sempre o pequeno-almoço, ter um tempo de 10 minutos para descomprimir no carro antes de entrar em casa e a disciplina de preparar a roupa no dia anterior. Estas pequenas estruturas de previsibilidade na sua vida permitiram-lhe recuperar a sensação de controlo do seu tempo e entre outras rotinas estabelecidas, gradualmente, começou a acalmar o ruído emocional interno.
Num mundo em constante transformação, onde a incerteza é das poucas certezas que temos, a falta de rotina é um dos maiores geradores de stress e de desconforto emocional. Tal como a Maria, é necessário criarmos um conjunto de hábitos com vista ao nosso bem-estar. Importa criar rotinas que não nos escravizem, mas que nos libertem, diminuam a carga cognitiva, dando-nos o equilíbrio emocional necessário e libertando recursos mentais para serem direcionados para tarefas mais complexas ou criativas.
Falar em rotinas ou na relevância de as ter parece evocar para uma ideia de "rigidez" ou de “aborrecimento”, no entanto a investigação tem vindo a evidenciar alguns pontos interessantes. A relação entre a criação de rotinas e o bem-estar físico e psicológico tem sido amplamente explorada em diversas áreas e, de uma forma geral, os estudos mostram que ter rotinas pode ser um grande aliado na gestão do stress, na melhoria da qualidade do sono e na promoção de uma sensação de segurança e de equilíbrio. As pesquisas indicam ainda que seguir uma rotina estruturada contribui para que o cérebro gaste menos energia a tomar decisões acerca do que fazer a seguir, sendo possível que algumas dessas ações se tornem automáticas. Além disso, contribuem para a adoção de estilos de vida mais saudáveis, que privilegiam o sono, o exercício físico e a reserva de tempo para as atividades de lazer e para a socialização.
Mas, como criar uma rotina adequada?
Não há uma forma única de criar rotinas, pois cada um poderá encontrar diferentes formas de organizar o seu dia. Tal como vimos anteriormente, é importante focar-se no que pode controlar, como por exemplo começar por estabelecer horários fixos para acordar, para dormir e para fazer as refeições, criando uma base de previsibilidade para o dia. O passo seguinte passa por organizar as tarefas essenciais em primeiro lugar e, para isso, poderá ser útil fazer uma lista de todas as tarefas diárias - trabalho, tarefas domésticas, refeições, entre outras, de acordo com as atividades de cada um - de modo a ter uma visão clara do que tem de ser feito.
Nesse sentido, adotar hábitos saudáveis implica incluir atividades promotoras de bem-estar, desde a prática regular de atividade física até a criação de momentos de descanso, a adoção de uma alimentação saudável e a valorização do tempo dedicado ao lazer e às relações sociais.
Como adaptar a rotina às necessidades?
A flexibilidade nas rotinas assume um papel chave, pois embora seja importante uma estrutura, a rotina deve poder ser ajustada, mantendo uma base consistente, mas flexível para se poder adaptar às circunstâncias e aos imprevistos do dia a dia. Para isso, o conhecimento de si é muito importante para que possa reconhecer o que funciona e decidir se prefere uma agenda diária rígida ou uma lista de tarefas mais flexível e ajustável, dependendo da personalidade e da motivação.
Muitas vezes esquecemo-nos de prever tempos de pausa ou de descanso e de estabelecer recompensas. O uso desta prática, ajuda-nos a nos mantermos motivados e otimistas, mesmo quando é necessário realizar tarefas das quais não gostamos tanto ou não temos tanto interesse.
É ainda importante ter atenção aos níveis de energia ao longo do dia e ajustar a rotina de forma a aproveitar os momentos de maior produtividade e garantir tempo para descanso e relaxamento.
Estabelecer uma rotina contribui para criar uma sensação de normalidade e previsibilidade, aspetos fundamentais no controlo da ansiedade e do stress. A evidência sugere que manter horários definidos para o trabalho, o descanso e o lazer não só ajuda a prevenir o burnout, como também favorece o equilíbrio emocional. Assim, adotar uma organização diária e hábitos consistentes é essencial para alcançar o bem-estar físico e psicológico."
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