Há antidepressivos que contribuem mais do que outros para o aumento de peso

CNN , Sandee LaMotte
14 jul 2024, 11:00
Saúde mental e medicação (Getty Images)

Há muitos fatores que pesam na hora de os médicos prescreverem determinado antidepressivo a determinado doente. O aumento de peso corporal à custa da nova medicação pode ser um deles. E daí a importância de um novo estudo, que ajuda a antecipar os efeitos secundários de cada antidepressivo na balança

Os antidepressivos podem salvar vidas, sobretudo as daqueles que lutam com vários diagnósticos de doenças mentais: ansiedade, depressão, distúrbios obsessivo-compulsivos, ataques de pânico, fobias sociais e stress pós-traumático. Ainda assim, tomar estas substâncias capazes de alterar o nosso humor pode conduzir a um efeito secundário desagradável para muitos: o aumento de peso.

Mesmo havendo pessoas que não ganham qualquer peso, os médicos reconhecem que a preocupação com os quilos extra é um dos principais motivos pelos quais há quem hesite em iniciar a toma de antidepressivos, com efeitos positivos na sua saúde mental. O aumento de peso é também um motivo pelo qual alguns doentes deixam a sua medicação, apesar de se sentirem menos deprimidos ou ansiosos enquanto a tomam.

Um novo estudo vem agora esclarecer quanto peso se pode ganhar – em média – enquanto se tomam os oito antidepressivos mais prescritos.

Um dos antidepressivos mais prescritos, a sertralina, também conhecida pelos seus nomes de mercado Zoloft e Lustral, esteve associado a um ganho de peso de aproximadamente 0,2 quilos aos seis meses. Houve um aumento de 1,46 quilos aos 24 meses, segundo o estudo.

Tendo estes dados como fator de comparação, os investigadores apuraram que as pessoas a tomar escitalopram, também conhecido pelas marcas Lexapro e Cipralex, tiveram um risco médio 15% maior em relação à sertralina de ganharem pelo menos 5% do seu peso inicial no prazo de seis meses. O risco foi de 14% para a paroxetina, vendida através de marcas como Paxil, Aropax, Pexeva, Seroxat, Sereupin e Brisdelle, concluiu o estudo.

A duloxetina, vendida nas marcas Cymbalta, Loxentia e Yentreve, esteve associado a um risco 10% maior de um paciente ganhar pelo menos 5% do seu peso inicial quando comparando com a sertralina, revelou o estudo.

Um aumento de peso de 5% ou mais face ao valor inicial é considerado clinicamente relevante para a nossa saúde, explica Joshua Petimar, o principal autor do estudo, que é também professor assistente no Harvard Pilgrim Health Care Institute e na Harvard Medical School, em Boston.

O adulto típico ganha, em média, meio quilo a um quilo por ano, algo que, com o passar do tempo, pode contribuir para um quadro de obesidade. Este ganho de peso pode ser causado pela falta de atividade física, pelo stress, pela falta de sono e pelas más escolhas alimentares, incluindo muitos alimentos ultraprocessados, bem como pela medicação, dizem os especialistas.

Ganhos de peso, quilo a quilo

O estudo, publicado na revista Annals of Internal Medicine, recorreu a registos eletrónicos de saúde e massa corporal para comparar os ganhos de massa corporal de mais de 183 mil pessoas. Os investigadores olharam para o peso aos seis, 12 e 24 meses em indivíduos entre os 18 e os 80 anos que começaram a tomar antidepressivos pela primeira vez.

Na análise aos dados sobre o peso ganho, as pessoas a tomar escitalopram e paroxetina tiveram, em média, um aumento de 0,63 quilos aos seis meses. Aos 24 meses, o peso tinha aumentado 1,63 quilos para os que tomavam escitalopram e 1,33 quilos para os que tomavam paroxetina.

A duloxetina esteve associada a um aumento de peso de 0,55 quilos aos seis meses e de 0,78 quilos aos 24 meses.

“No nosso estudo, o peso médio inicial era de 84 quilos”, explica Joshua Petimar por email. “Isto significa que, no nosso estudo, um aumento de 5% no peso se traduziu, em médio, num ganho de 4,2 quilos”.

Contudo, o estudo não encontrou nenhum risco significativamente maior ou menos para o citalopram, vendido como Celexa; para a fluoxetina, vendida como Prozac; ou para a venlafaxina, vendida como Effexor, Effexor XR, Vensir, Vencarm, Venlalix e Venlablue; quando comparado com a sertralina.

“É preciso recordar que estes são valores médios. Há pessoas que não vão ganhar qualquer peso, enquanto outras podem um aumento mais considerável”, insiste Roy Perlis, responsável pela investigação psiquiátrica no Massachussetts General Hospital e professor de psiquiatria na Harvard Medical School em Boston, que conduziu um estudo semelhante em 2014. Roy Perlis não esteve envolvido nesta nova investigação.

Muitos antidepressivos comummente prescritos podem provocar ganhos de peso ao longo do tempo. Contudo, isso não é motivo para evitar a medicação para tratar as doenças mentais, dizem os especialistas (Joe Raedle/Getty Images/File)

“Ainda assim, ter valores médios para trabalhar – e ver que essas médias se alinham bem com estudos anteriores – permitem-nos, pelo menos, dar uma noção às pessoas daquilo que podem esperar”, reage Perlis por email.

Nem todos os pacientes olham para o aumento de peso de uma forma negativa, embora seja mais frequente o desejo de evitá-lo na hora de tomar um antidepressivo, diz Petimar. A mirtazapina, por exemplo, é um antidepressivo que pode ser usado no tratamento de distúrbios alimentares.

“Não analisámos a mirtazapina no nosso estudo porque não é considerada uma medicação de primeira linha para os doentes que iniciam a terapêutica com antidepressivos”, junta.

Perda de peso com uma substância

Um antidepressivo contribuiu para uma pequena perda de peso aos seis meses, apurou o estudo.

“A bupropiona, vendida como Wellbutrin e Zyban, teve, em média, um risco 15% menor de ganhar um peso considerado clinicamente relevante, quando comparando com a sertralina”, diz Petimar.

“O nosso estudo não explorou os motivos pelos quais a bupropiona esteve associada a menores ganhos de peso face a outros antidepressivos. Contudo, outros estudos têm também concluído que está associada a menos ganhos de peso face a outros antidepressivos comuns”, junta.

Quando a análise é feita em quilos, as pessoas que tomaram bupropiona perderam cerca de 0,01 quilos aos seis meses, antes de ganharem 0,56 quilos aos 24 meses, segundo a investigação.

Mas porque contribuem os antidepressivos para o aumento de peso? A ciência ainda não sabe, reage Perlis.

“Lamentavelmente, não sabemos qual é o mecanismo exato através do qual os antidepressivos contribuem para mudanças no peso. Pior, não sabemos muito sobre quem tem maiores probabilidades de ganhar ou de perder peso. Por isso, não podemos fazer prognósticos”, refere.

Segundo Perlis, há pessoas que perdem peso quando se encontram deprimidas, porque perdem o apetite. “O que podemos estar a ver são pessoas a reganhar o peso perdido enquanto a sua depressão ou ansiedade ganhava terreno”.

A melhor forma de lidar com os efeitos secundários é antecipando-os, dizem os especialistas.

“Os pacientes que estão preocupados com o aumento de peso devem ter uma conversa franca e honesta com o seu médico acerca destas preocupações”, diz Petimar.

“Há muitos fatores clínicos a determinar que medicação é a acertada para determinado paciente”, junta Petimar. “Estes fatores incluem os sintomas clínicos, o seu historial na toma de medicamentos, qualquer outra medicação que já estejam a tomar e possíveis efeitos secundários que preocupem o paciente”.

Os médicos têm de pesar todos estes fatores quando decidem qual é o melhor tratamento, refere. Por sua vez, os pacientes podem fazer um esforço para evitar ganhos de peso, seguindo hábitos alimentares saudáveis e fazendo exercício físico com regularidade.

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