Ansiedade: uma perturbação que pode ser dominada. Saiba o que o pode ajudar

CNN Portugal , FMC
9 out 2022, 11:00
Algumas pessoas que têm ansiedade e depressão podem correr maior risco de desenvolver doenças crónicas como a asma e a maioria dos cancros, em comparação com as que não têm nenhuma delas, revela um novo estudo.

Para os que estão de fora e querem ser aliados, a psicóloga recomenda, “quando não souber o que dizer, fique em silêncio. Porque, em muitos casos o silêncio pode “falar”, “abraçar” e “acolher” mais do que muito que possamos dizer”

No rescaldo da azáfama do início do ano escolar e do regresso das férias, muitas pessoas voltam a experienciar sentimentos de ansiedade e desespero. E é cada vez mais importante saber como lidar com estes sintomas e alertar para a necessidade de recorrer a ajuda profissional quando estes se tornam dominantes e prejudicam o bem-estar e a capacidade de funcionar.  

Em primeiro lugar, é importante assegurar que a ansiedade afeta cada vez mais pessoas, especialmente depois de dois anos de pandemia por covid-19 em que a saúde mental ficou fortemente fragilizada, por isso, se se identifica com os sintomas, acredite que não está sozinho e que o importante, acima de tudo, é falar com alguém.  

 Ser uma pessoa mais ansiosa é preocupante?  

A correspondente médica da CNN Portugal, Sofia Batista, explica que “todos nos sentimos ansiosos de vez em quando" e que "é completamente normal”.  Aliás, a psicóloga Débora Bento Correia, da Academia Transformar acrescenta que é “tão natural como nos sentirmos, por exemplo, felizes ou tristes".

Apesar do estigma associado à ansiedade, a psicóloga vai ainda mais longe, mostrando que pode existir um lado benéfico enquanto mecanismo de preparação para algum acontecimento, por poder ser “favorável ao desempenho, ao aumentar a atenção ou até o interesse”.   Ou seja, "surge com o intuito de nos preparar para algo, quase em género de kit de sobrevivência.”

O problema está, como explicaram as duas médicas à CNN Portugal, quando o sentimento perdura na maioria dos dias e de forma duradoura, quando se torna demasiado intenso, regular e irrealista e começa a ter sérias implicações nas tarefas quotidianas e obrigações laborais ou escolares. No fundo, torna-se um problema quando se assume demasiado poderoso, e sentimos que há uma perda de controlo do corpo e da mente.  

Quais os sinais a que temos de estar atentos? 

Esta sensação de nervosismo prolongado é um sinal de alerta de que algo pode não estar bem. A ansiedade acaba por se expressar tanto a nível físico como psicológico, A psicóloga Débora Bento Correia elenca como sintomas físicos: “Tonturas ou sensação de desmaio, dores de cabeça, falta de ar ou respiração ofegante, batimento cardíaco acelerado ou sensação de aperto no peito, desregulação intestinal, tremores, alterações no sono e apetite, entre outros.”  

A parte mental pode também apresentar um cenário mais preocupante manifestando-se através da “dificuldade de concentração, perfecionismo, medo constante e desajustado face à realidade, preocupação excessiva ou pensamentos obsessivos”.  

Existem ainda outros fatores indicativos como fobias específicas e perturbações pós-traumática do stress. No caso do primeiro, “existe um medo irracional e desproporcional de um objeto, lugar ou animal”.

Um exemplo prático é a fobia social, que ocorre quando uma pessoa sente alguns daqueles sintomas no momento em que está em situações de exposição pública. Já a perturbação pós-traumática de stress, que é retratado em filmes e séries de televisão sobre ex-combatentes de guerra, provoca um “reviver de experiências traumáticas do passado, com flashbacks e pesadelos.” 

Outra manifestação muito notória que estamos perante um quadro agravado de ansiedade é a presença de ataques de pânico, muitas vezes confundido com ataques de ansiedade.  

Quais as diferenças entre um ataque de pânico e um ataque de ansiedade?  

O que difere o tipo de ataque é, de acordo com as especlistas, a sua duração e intensidade. Nos ataques de ansiedade registam-se todos aqueles sintomas, ainda que a intensidade não seja igual ao longo do dia e dos dias. Já os sinais de um ataque de pânico distinguem-se sobretudo pela duração, pela “intensidade de sintomas e imprevisibilidade do acontecimento”, explica a psicóloga  Débora Bento Correia. “Podem começar de modo súbdito e imprevisto e, geralmente, duram alguns minutos”, nota por seu lado a médica Sofia Batista.  

O que fazer quando somos ‘atacados’?  

No caso do ataque de pânico que aparece sem avisar, é importante “ficar onde está (desde que em segurança)”, aconselha Sofia Batista, reforçando que devemos procurar respirar devagar e abstrair-nos dos pensamentos negativos. Débora Bento Correia, deixa uma estratégia que poderá ajudar nesses momentos; a técnica 5,4,3,2,1. Tal consiste em olhar em redor e focar os sentidos, identificando “cinco coisas que consigamos ver, quatro que consigamos tocar, três que consigamos ouvir, duas que consigamos cheirar e uma que consigamos saborear”.  

No caso da ansiedade, a psicóloga descreve algumas técnicas que podem ser úteis como “escrever sobre o que sente e pensa, praticar, pelo menos cinco a 10 minutos de meditação por dia, adotar uma alimentação saudável, priorizando alimentos ricos em triptofano (um aminoácido específico que auxilia na libertação de serotonina promovendo sensações de relaxamento e bem-estar generalizado. exemplos disso são, por exemplo, a banana e o chocolate), hidratar-se, dormir bem, praticar atividade física, foque-se no momento presente e na respiração”. 

Quando é que devo procurar ajudar profissional?  

Sofia Batista aconselha a que, quando percebemos que os sentimentos atingiram um patamar desproporcional a partilhar a experiência com “a rede de suporte familiar e amigos” aliada com a ajuda profissional como o médico de família, um psicólogo ou um psiquiatra. Para a psicóloga Débora Bento Correia chega o momento em que temos de pedir ajuda quando ficamos impedidos “de viver, concretizar, sentir e interagir” e deixamos de ter “ferramentas que nos permitam voltar a ter as rédeas da nossa vida”.  

Não sou eu que estou a sofrer e quero ajudar. O que devo fazer (ou o que não devo fazer)? 

Quando se percebe que alguém próximo está a enfrentar um problema de ansiedade, nem sempre dizemos as palavras mais corretas, e, por vezes, sem intenção, acabamos por piorar a situação. Segundo a psicóloga Débora Bento Correia, há certas frases que podem ativar na outra pessoa uma “voz crítica interna dilacerante, em que uma sensação de culpa, desvalorização e frustração ‘ganham espaço’”. Como tal, é fundamental adotar uma postura compassiva, e tentar ser paciente. Além disso, a psicóloga adverte para que não sejam usadas comparações, uma vez que mesmo que sofra com ansiedade, os sintomas são muito latos e nem sempre as experiências são iguais. “Disponibilize-se para estar e ficar, sem cobranças nem julgamentos”, recomenda.  

“Quando não souber o que dizer, fique em silêncio. Porque, em muitos casos o silêncio pode “falar”, “abraçar” e “acolher” mais do que muito que possamos dizer”, avisa.  

Ansiedade é para sempre?  

“A ansiedade é um sentimento que faz parte da condição do ser humano e que, quando em resposta a acontecimentos reais e ajustada, é perfeitamente normal”, começa por reiterar a psicóloga. Ao falar da ansiedade dominadora e excessiva, Débora Bento Correia esclarece que não existe propriamente uma cura milagrosa para que desapareça. “Passa sim por compreendê-la, por trabalhar ferramentas que permitam reconhecer a sua presença e como se pode lidar com ela sem que condicione e domine a nossa vida”, remata.    

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