Energia limpa e inesgotável? Fusão nuclear pode estar acessível daqui a 40 anos

Agência Lusa , BMA
27 mar 2022, 11:07
Produção de energia (EPA)

Cientista português do Campus Tecnológico e Nuclear trabalha "no maior projeto de sempre da humanidade em termos científicos", que pode mudar a dependência dos combustíveis fósseis

A fusão nuclear, o "Santo Graal" da ciência que permitiria acabar com os problemas energéticos, poderá estar ao alcance em 40 a 50 anos, segundo o investigador do Instituto Superior Técnico Eduardo Alves, membro de um projeto que junta cientistas de 35 países.

"É o maior projeto de sempre da humanidade em termos científicos", afirma o cientista do Campus Tecnológico e Nuclear, que considera que apesar de os países mais desenvolvidos investirem "biliões" e estarem apostados no projeto, "os progressos têm sido relativamente lentos" para chegar à produção de energia limpa a partir da fusão nuclear.

O projeto ITER, cuja ideia foi lançada em 1985, visa construir no sul de França um reator de fusão que permita à humanidade produzir energia sem combustíveis fósseis, sem emissões de dióxido de carbono e sem resíduos radioativos, a partir do mesmo processo físico que alimenta o Sol e "todas as estrelas do Universo".

"Se o que vamos testar nesse reator provar que estamos no bom caminho, eu diria que mais 40 ou 50 anos e já podemos começar a ter reatores a fornecer energia. A partir daí, teríamos uma forma de produzir energia mais barata, porque o combustível existe em todo o lado e não haveria possibilidade de o esgotarmos. São isótopos de hidrogénio que existem em todo o lado. Basta partir uma molécula de água e temos combustível. Se isto funcionar, deixaremos de ter preocupações com a energia", antecipa.

Eduardo Alves participa no Programa Europeu de Fusão Nuclear responsável pela construção do ITER na área dos materiais e o foco do seu trabalho é a construção do invólucro para conter "um pequeno Sol".

Na reação de fusão, há "dois elementos leves, um átomo de deutério e um de trítio, dois isótopos de hidrogénio, que se juntam dando origem a um elemento mais pesado (Hélio)" e libertação de muita energia, sem produção de radioatividade ou resíduos.

"Estes isótopos são aquecidos a temperaturas elevadas, o que faz com que se fundam num único elemento. A massa dos dois iniciais é superior à do final. Essa diferença de massa é convertida em energia que depois é aproveitada e parte dela usada para produzir energia elétrica. É assim que funciona o Sol e todas as estrelas do universo", explica o cientista.

Nesse processo, "há partículas muito energéticas que batem nas paredes da câmara do reator e por enquanto não temos forma de validar o comportamento dos materiais quando estiverem a ser bombardeados".

Energia nuclear é essencial

"O medo que as pessoas têm da energia nuclear deve-se ao desconhecimento. O grande mal é que desde o início da produção de energia elétrica em reatores nucleares não houve preocupação de informar as pessoas. Era mais simples e barato queimar petróleo e carvão e agora sofremos as grandes consequências disso. Criámos toda a economia mundial à volta de combustíveis fósseis", afirma Eduardo Alves.

Trata-se de uma energia que na produção é "completamente limpa, em que não há qualquer emissão de dióxido de carbono, poeiras ou outros resíduos para a atmosfera", gerando, no entanto, resíduos radioativos do combustível consumido.

Portugal é um dos países europeus que "não tem neste momento uma autonomia energética, está totalmente dependente do exterior" e é também por isso que "paga das energias elétricas mais caras".

"Mas nós consumimos energia nuclear. As pessoas não podem esconder a cabeça na areia. Na fatura da eletricidade descreve-se de onde vem a energia consumida em Portugal e está lá a nuclear, importada de Espanha e de França. Nós precisamos do nuclear", considera.

 

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