Quando a vontade não chega
De um lado, a vontade. Do outro, o pragmatismo. No final, um ponto para cada.
O Santa Clara e o Boavista empataram dois golos no Estádio de São Miguel, num jogo em que o domínio da posse de bola dos açorianos não chegou para vencer a perspicácia dos axadrezados.
Mas vamos ao filme do jogo.
Com o sol de inverno a reluzir no Estádio de São Miguel, entrou melhor o Santa Clara, com vontade de assumir a posse de bola e de explorar a profundidade para penetrar na zona defensiva do adversário.
A entrada decidida dos açorianos sucumbiu perante o pragmatismo axadrezado. 13 minutos de jogo. Um livre cobrado rapidamente e de forma curta para Salvador Agra, que cruzou para a cabeçada certeira de Sasso. O defesa francês foi mais forte do que toda a defesa açoriana e inaugurou o marcador no primeiro lance perigoso do Boavista no encontro.
Balde de água fria nos Açores.
Na verdade, a alteração no marcador não alterou a tónica do encontro. A equipa de Jorge Simão manteve o domínio da posse de bola e assumiu a iniciativa de jogo. O Boavista, por seu turno, em vantagem, arriscou ainda menos no processo ofensivo e procurou erguer um bloco compacto para proteger a sua baliza – o que dificultou a criação de oportunidades de golo por parte do Santa Clara.
Apesar do aparente domínio dos açorianos, o certo é que foi o Boavista quem esteve perto do segundo golo aos 39 minutos.
Outra vez através da bola parada. Livre cobrado na ala esquerda por Agra e Boateng, ao cortar o lance, quase introduziu o esférico na própria baliza. Era um sinal de que esta equipa de Petit é sempre perigosa, mesmo quando não parece.
No final dos 45 minutos, o Santa Clara registava 72 por cento de posse de bola contra 28 do Boavista. A conhecida sentença de Fernando Santos nunca tinha, portanto, feito tanto sentido.
«O futebol não é o jogo da posse de bola, é dos golos».
Para a segunda parte, Jorge Simão promoveu a estreia do reforço Nanu, que rendeu o amarelado Calila, e mais tarde colocou em campo Stevanovic. O Santa Clara continuou a ser a equipa mais ativa no jogo, mais agressiva sob a bola, mas continuou a ter dificuldades no último passe.
Aos 49 minutos, os açorianos socorreram-se da posse de bola para criar perigo, através de um cabeceamento de Walter González, que passou ao lado dos postes à guarda de Bracali.
Com dificuldades em chegar à baliza contrária, foi preciso um erro do adversário para o Santa Clara igualar a partida. Aos 61 minutos, uma perda de bola do Boavista no momento da construção foi fatal: Gabriel Silva roubou a bola a Abascal, correu até à baliza isolado e não falhou na cara do golo.
O ímpeto da equipa da casa foi sol de pouca dura – como é, aliás, típico na meteorologia açoriana.
Este Santa Clara não aprende com os erros. Aos 64 minutos, canto de Salvador Agra e mais uma vez Sasso anulou Paulo Henrique nas alturas e cabeceou para o fundo das redes. Um lance quase a papel químico do primeiro golo do Boavista.
Até ao final do jogo, o Santa Clara forçou, apostou no jogo direto e obrigou a equipa do Boavista, em muitos casos, a defender com todos os homens atrás da linha da bola.
O coração dos açorianos iria dar resultado. Aos 85 minutos, Gabriel Silva (quem mais?!) rematou do meio da rua, e com alguma sorte à mistura, acabou por fazer o empate nos Açores. Nos instantes finais, o perigo rondou a baliza de Bracali, mas o marcador não iria sofrer mais alterações.