Grandes empresas não se comprometem a aumentar salários em 5,1% no próximo ano

26 out 2022, 09:00
Abertura da primeira fábrica da Tesla na Europa (Patrick Pleul/Pool via AP)

Entre as grandes empresas que responderam à CNN Portugal, nenhuma se comprometeu com uma subida de 5,1% nos salários. Atiram o tema para os acordos coletivos e para eventuais negociações com as estruturas sindicais

Algumas das grandes empresas portuguesas não se comprometem publicamente com um aumento salarial mínimo de 5,1% no próximo ano, o valor acordado entre o Governo e os parceiros sociais.

A CNN Portugal contactou 14 das maiores empresas a operar em Portugal, em setores como a energia, a construção, a banca, o retalho ou a hotelaria. Entre as empresas que responderam, nenhuma assume esse cenário de forma categórica.

A MC, do grupo Sonae, dona dos supermercados Continente, diz que “irá garantir em 2023 o alinhamento com a dinâmica e a evolução do mercado de trabalho, no sentido de assegurar a competitividade das suas práticas”. E concretiza que a atualização salarial será “efetuada respeitando” os princípios do recente contrato coletivo de trabalho assinado entre a APED e o SITESE. Nele pode ler-se a referência a um “aumento médio da tabela salarial de 4,8%”.

Já fonte oficial da Volkswagen Autoeuropa recorda que a política salarial é sempre discutida com os representantes dos trabalhadores, cumprindo o previsto nos acordos laborais. O último, de março de 2022, ainda antes de ser tão notório o contexto de escalada da inflação, prevê uma subida salarial de 2%. A administração da fábrica automóvel admite rever o valor se essa vontade for colocada pelos trabalhadores na mesa das negociações.

A petrolífera Galp, a atuar numa das áreas onde o efeito da guerra na Ucrânia e da inflação mais está a pressionar os preços, diz que “continua a analisar a evolução dos indicadores relevantes de mercado e decidirá de acordo, em diálogo com os representantes dos trabalhadores”. Já a EDP diz não ter "ainda informação a partilhar sobre este tema".

O grupo Vila Galé, a segunda maior cadeia hoteleira de Portugal, confirma apenas que “ainda está a analisar o tema”.  A construtora Mota-Engil, por sua vez, “não vai comentar o tema”, respondeu fonte oficial.

Contactada pela CNN Portugal, a TAP recordou que existem cortes salariais aplicados na empresa, sendo a reposição desses valores o primeiro passo, antes de subidas nos salários. E apontou para as recentes declarações do ministro Pedro Nuno Santos no Parlamento, onde este admitiu que o fim dos cortes salariais aplicados a trabalhadores da TAP, no âmbito da reestruturação, pode ser antecipado com novos acordos de empresa ou quando a companhia der lucro.

A Caixa Geral de Depósitos, detida pelo Estado português, diz que “para já” não tem “nada para comunicar” no que respeita à política salarial do próximo ano, comprometendo-se a disponibilizar esses dados assim que eles estejam definidos. Já a papeleira Navigator optou por não fazer declarações sobre o assunto.

A Jerónimo Martins, dona dos supermercados Pingo Doce, diz estar a “trabalhar nos planos de negócio para o próximo ano e, consequentemente, a analisar diversos cenários no que diz respeito à política retributiva”. A empresa insiste que dará “continuidade” à sua estratégia de remuneração, “estabelecendo salários mínimos internos acima do salário mínimo nacional”, com impacto na atualização das restantes faixas salariais. Segundo a Jerónimo Martins, as “políticas de senioridade” que aplica podem acrescentar “até 95 euros” à remuneração base mensal.

Já a Bosch, com mais de 5.700 trabalhadores em Portugal, também não assume um compromisso quanto ao aumento salarial do próximo ano. A empresa, diz, “faz anualmente a revisão e atualização da estrutura salarial dos seus colaboradores em Portugal”, clarificando que a maioria dos trabalhadores nas unidades de Braga e Ovar recebe salários acima das tabelas acordadas pela Associação Portuguesa das Empresas do Sector Elétrico e Eletrónico. A empresa refere que, além dos salários, oferece aos seus trabalhadores outras “condições atrativas” como seguro de saúde ou formação.

No início de outubro, o governo e os parceiros socais acordaram uma valorização salarial anual de 5,1% em 2023, de 4,8% em 2024, de 4,7% em 2025 e de 4,6% em 2026.

Na apresentação do Orçamento do Estado para 2023, o executivo foi tecendo várias projeções e cenários tendo sempre em conta uma subida dos salários de 5,1%.

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