Psicóloga Rute Agulhas aponta “papel pioneiro” da Igreja no combate aos abusos sexuais

Agência Lusa , DCT, atualizado às 17:57
26 abr 2023, 16:52
Rute Agulhas, psicóloga e coordenadora do grupo VITA (Lusa/Filipe Amorim)

Sublinhando a constituição do grupo por leigos e o funcionamento “isento e autónomo” em relação à Igreja, Rute Agulhas adiantou que o primeiro relatório do trabalho desta nova estrutura será conhecido em dezembro deste ano.

A psicóloga Rute Agulhas, que lidera o novo grupo de acompanhamento das situações de abuso sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto eclesiástico, sublinhou esta quarta-feira o “papel pioneiro” da Igreja no combate a esta realidade.

Em declarações prestadas na apresentação do denominado Grupo VITA, a coordenadora desta nova estrutura proposta pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) assumiu a sua surpresa pelo convite para liderar o grupo de trabalho de acompanhamento das vítimas, mas também o “imenso entusiasmo” pelo trabalho que tem pela frente e as “expectativas muito elevadas”.

“A violência sexual é um problema de saúde pública, pela sua elevada prevalência e pelo impacto no curto, médio e longo prazo. É um fenómeno transversal, com maior prevalência intrafamiliar. A Igreja é um contexto, como outros. A igreja assume aqui um papel pioneiro”, assegurou.

Sublinhando a constituição do grupo por leigos e o funcionamento “isento e autónomo” em relação à Igreja, Rute Agulhas adiantou que o primeiro relatório do trabalho desta nova estrutura será conhecido em dezembro deste ano.

A coordenadora explicou que um dos aspetos prioritários do trabalho do Grupo VITA, além do acompanhamento das vítimas, vai incidir na prevenção de novas situações de abuso e na recuperação de agressores.

“Acreditamos na reparação e na possibilidade de mudança”, salientou a psicóloga, apelando à confiança nos membros desta nova estrutura: “Tudo faremos para concretizar aquilo a que nos propomos”.

Por outro lado, Rute Agulhas demarcou-se da ideia lançada pelo psiquiatra Daniel Sampaio, membro da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica que, após a apresentação do relatório sobre o fenómeno, propôs a criação de uma via prioritária no Serviço Nacional de Saúde (SNS) para responder a estas vítimas.

“Não é uma crítica, é um olhar diferente sobre quais podem ser as soluções para este problema. Criar canais prioritários quando já tem havido dificuldades do SNS é deixar pessoas para trás que também podem ter sido vítimas. Não concordamos com essa perspetiva. Entendemos que essa não é a verdadeira solução e que há caminhos mais justos”, frisou.

O contacto com o Grupo VITA poderá ser efetuado por via telefónica através do número 915090000 (disponível a partir de 22 de maio, de segunda a sexta-feira entre as 09:00 e as 18:00) e por email.

Grupo VITA

Além de Rute Agulhas (especialista em Psicologia Clínica e da Saúde com especialidades avançadas em Psicoterapia e Psicologia da Justiça), o Grupo VITA será constituído por Alexandra Anciães (psicóloga, experiência de avaliação e intervenção com vítimas adultas), Joana Alexandre (psicóloga, docente universitária e investigadora na área da prevenção primária dos abusos sexuais), Jorge Neo Costa (assistente social, intervenção com crianças e jovens em perigo), Márcia Mota (psiquiatra, especialista em Sexologia Clínica e intervenção com vítimas e agressores sexuais) e Ricardo Barroso (psicólogo, docente universitário e especialista em intervenção com agressores sexuais).

Haverá ainda um grupo consultivo, com a participação do padre João Vergamota (especialista em Direito Canónico), Helena Carvalho (docente universitária especialista em análise estatística) e o advogado David Ramalho.

A criação do Grupo VITA surge na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que, ao longo de quase um ano, validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

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