Taxas de juro sobem? Guerra pode adiar a decisão na Europa

25 fev 2022, 18:52
Christine Lagarde - Banco Central Europeu

Aumentos de inflação e retração do crescimento económico criam dilema no BCE. Retirada de medidas de estímulo pode ser adiada

A guerra na Ucrânia criou um novo dilema aos bancos centrais, em particular ao Banco Central Europeu (BCE): retirar já os apoios às economias criadas para a pandemia? Neste momento, o cenário mais consensual parece ser o de que não: e decidir quer um adiamento das mudanças de política monetária, quer o abandono da compra de ativos, quer uma posterior subida de taxas de juro.

A viragem na política monetária parecia certa e as dúvidas eram apenas quanto ao momento em que Christine Lagarde, a líder da autoridade monetária na zona euro, daria ordem para travar a compra de ativos no mercado (forma de injetar liquidez nas economias) e iniciava o movimento de subida de taxas de juro. Mas, agora, os efeitos recessivos da guerra baralharam os dados.

Hoje, a líder do BCE não deixou muitas pistas no final de uma reunião do banco central. Lagarde garantiu que o BCE está preparado para “assegurar a estabilidade dos preços e a estabilidade financeira na área do euro” face ao impacto da guerra na Ucrânia.

E se é verdade que um dos efeitos mais diretos da guerra em curso é de uma subida dos preços das matérias-primas, sobretudo na energia, o que criará ainda mais pressões inflacionistas, também é verdade que, em tempos de guerra, a incerteza leva a quebras de consumo e de investimento, o que leva a um menor crescimento das economias, podendo pôr em causa a retoma económica da zona euro.

Uma viragem da política monetária, como estava prevista, poderia contribuir para atenuar as pressões inflacionistas, mas também contribuiria para pôr ainda mais em causa a retoma da economia.

Os números que terão sido apresentados na reunião que juntou os membros do BCE mostram isso mesmo. O economista-chefe do BCE, Philip Lane, terá apresentado três cenários na reunião: o mais benigno, em que a guerra não teria qualquer efeito sobre a atividade económica; um intermédio, em que o Produto Interno Bruto (PIB) teria um corte de 0,3% ou 0,4% no seu crescimento; e um mais adverso, em que esse corte poderia chegar a 1%.

O dilema parece, assim, ser entre ter menos inflação e menos crescimento económico, ou mais inflação e mais crescimento. Um dilema difícil de desatar num momento em que há já alguns economistas a acenar com o pior dos cenários, uma economia com mais inflação e sem crescimento.

Na dúvida, já se começam, no entanto, a ouvir algumas vozes que deixam pistas sobre o futuro. Uma delas foi a do governador do banco central grego, Yannis Stournaras, visto como uma “pomba” no BCE, um dos membros que defende uma política de taxas de juro mais baixas e de maior agressividade na compra de ativos.

Em declarações à Reuters, este responsável disse que a compra de ativos se iria manter, pelo menos, até ao final do ano, o que afastaria uma eventual subida de taxas de juro, para 2023.

Mas se a opinião de Yannis Stournaras não surpreende, já não é o caso da opinião do seu homólogo da Áustria, Robert Holzmann, visto como um dos “falcões” dentro do BCE, que tem vindo a defender o fim dos programas de compra de ativos e uma subida das taxas de juro mais rápida.

No entanto, perante o cenário de guerra, Robert Holzmann, manteve a ideia que terá de haver uma mudança da política monetárias, mas admitiu que é possível “que a velocidade” dessa mudança pode “agora ser em certa medida atrasada".

Se não houver surpresas que justifiquem que o BCE se volte a pronunciar antes, a 10 de março, quando os membros do conselho de governadores se reunirem em Frankfurt, haverá novas indicações sobre o caminho a seguir.

Até lá, dos mercados, ontem, veio um sinal. Perante a incerteza, os investidores deslocaram ativos para os títulos da dívida soberana levando a descida das taxas de juro. Na Alemanha, por exemplo, que serve como referencia para a zona euro, as obrigações do tesouro a dez anos cederam para uma taxa de 0,166%. No caso dos juros portugueses a dez anos, registou-se um recuo para 1,059%.

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